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RECEITA GRADUAL
Presidente afirma que corte de juros e criação de empregos não ocorrerão "só porque alguém gritou mais alto"
Retomada não será "irresponsável", diz Lula
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ontem que a economia do país vai começar a crescer
e que os juros vão baixar, mas não
de forma "irresponsável" só porque "alguém gritou mais alto".
Foi uma resposta às críticas que a
política econômica comandada
pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) tem recebido, feitas
até por aliados.
"O país está começando a crescer, os empregos que nós tanto
queremos serão criados neste
país, a política de juros vai baixar,
vai haver mais investimentos.
Agora, isso não acontecerá porque alguém gritou mais alto", disse o presidente ontem à tarde, em
Fortaleza, antes do anúncio do
corte de juros feito pelo Copom.
"Temos de fazer com responsabilidade, porque um gesto fora de
hora, impensado, pode trazer repercussão negativa para um país
que estava tão sem credibilidade."
Lula esteve na capital do Ceará
para lançar um programa de financiamento do BNB (Banco do
Nordeste do Brasil) com recursos
do FNE (Fundo Constitucional do
Nordeste), o Cresce Nordeste.
Antes do evento, porém, passou
mais de uma hora reunido com
governadores nordestinos, que levaram uma série de reclamações e
pedidos de verbas. Aos governadores, em reunião a portas fechadas, e no discurso, Lula pediu paciência. "As coisas têm de ser feitas no tempo em que podem ser
feitas, com o esforço que pode ser
feito e com a cautela necessária",
disse Lula, que citou repetidamente a palavra responsabilidade
no discurso improvisado.
"Eu acho que o Brasil precisa
dar uma chance para si mesmo, e,
para isso, é preciso trabalhar com
muita seriedade e responsabilidade. Eu sempre disse que o responsável é aquela pessoa que, ao tratar de uma febre, não mata o paciente por choque anafilático. É
aquela que cuida com a dosagem
certa e com o carinho certo. É assim que estamos cuidando da
economia brasileira."
As mais recentes críticas contra
a política econômica vieram de
aliados, como o presidente do PL,
Valdemar Costa Neto, e o próprio
PT, que divulgou nota defendendo a mudança de rumos na economia. "Quem mais quer baixar
juros é o ministro da Fazenda, é o
presidente do Banco Central, é o
presidente da República (...) Mas
tudo leva tempo. A coisa não foi
feita num toque de mágica. E vai
levar o tempo necessário para que
a gente possa dar à cara do Brasil a
sustentabilidade necessária para
fazer as reformas profundas que o
país precisa", afirmou Lula.
Num recado à oposição, o presidente disse que há muita gente
"torcendo" contra seu governo.
"Neste país há muita gente torcendo: "Será possível que nós vamos deixar um torneiro mecânico
dar mais certo do que nós, que estudamos tanto? Isso não pode". Isso pode e vou fazer. E vou fazer
porque não é um livro que ensina
a arte de governar."
Em referência às cobranças por
mais verbas feitas pelos governadores na reunião que antecedeu o
evento, Lula afirmou que os problemas atuais são "herança" do
passado e disse que o Brasil não
pode ser o país das obras paradas.
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