São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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RECEITA GRADUAL

Presidente afirma que corte de juros e criação de empregos não ocorrerão "só porque alguém gritou mais alto"

Retomada não será "irresponsável", diz Lula

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que a economia do país vai começar a crescer e que os juros vão baixar, mas não de forma "irresponsável" só porque "alguém gritou mais alto". Foi uma resposta às críticas que a política econômica comandada pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) tem recebido, feitas até por aliados.
"O país está começando a crescer, os empregos que nós tanto queremos serão criados neste país, a política de juros vai baixar, vai haver mais investimentos. Agora, isso não acontecerá porque alguém gritou mais alto", disse o presidente ontem à tarde, em Fortaleza, antes do anúncio do corte de juros feito pelo Copom. "Temos de fazer com responsabilidade, porque um gesto fora de hora, impensado, pode trazer repercussão negativa para um país que estava tão sem credibilidade."
Lula esteve na capital do Ceará para lançar um programa de financiamento do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) com recursos do FNE (Fundo Constitucional do Nordeste), o Cresce Nordeste.
Antes do evento, porém, passou mais de uma hora reunido com governadores nordestinos, que levaram uma série de reclamações e pedidos de verbas. Aos governadores, em reunião a portas fechadas, e no discurso, Lula pediu paciência. "As coisas têm de ser feitas no tempo em que podem ser feitas, com o esforço que pode ser feito e com a cautela necessária", disse Lula, que citou repetidamente a palavra responsabilidade no discurso improvisado.
"Eu acho que o Brasil precisa dar uma chance para si mesmo, e, para isso, é preciso trabalhar com muita seriedade e responsabilidade. Eu sempre disse que o responsável é aquela pessoa que, ao tratar de uma febre, não mata o paciente por choque anafilático. É aquela que cuida com a dosagem certa e com o carinho certo. É assim que estamos cuidando da economia brasileira."
As mais recentes críticas contra a política econômica vieram de aliados, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o próprio PT, que divulgou nota defendendo a mudança de rumos na economia. "Quem mais quer baixar juros é o ministro da Fazenda, é o presidente do Banco Central, é o presidente da República (...) Mas tudo leva tempo. A coisa não foi feita num toque de mágica. E vai levar o tempo necessário para que a gente possa dar à cara do Brasil a sustentabilidade necessária para fazer as reformas profundas que o país precisa", afirmou Lula.
Num recado à oposição, o presidente disse que há muita gente "torcendo" contra seu governo.
"Neste país há muita gente torcendo: "Será possível que nós vamos deixar um torneiro mecânico dar mais certo do que nós, que estudamos tanto? Isso não pode". Isso pode e vou fazer. E vou fazer porque não é um livro que ensina a arte de governar."
Em referência às cobranças por mais verbas feitas pelos governadores na reunião que antecedeu o evento, Lula afirmou que os problemas atuais são "herança" do passado e disse que o Brasil não pode ser o país das obras paradas.


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