São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Presidente do BC diz que país é autoritário, quase não tem direitos trabalhistas e restringe a migração interna

Meirelles ataca a China para defender juros

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, atacou ontem a China para defender a política de juros altos e justificar os baixos índices de crescimento da economia brasileira.
Segundo Meirelles, 9% de crescimento ao ano "é pouco" se for considerada a realidade chinesa de ausência de direitos trabalhistas, um enorme contingente de pessoas abaixo da linha da pobreza, a quase inexistência de Previdência Social e o caráter autoritário do regime. O único ponto positivo mencionado por ele foi o investimento em educação, que seria o maior da história em termos de percentual do PIB, de acordo com dados do governo chinês.
"Algumas pessoas colocam a questão de por que o Brasil não cresce como outros países, entre eles a China. Acho a explicação muito simples, se olharmos para a China. A questão é saber por que a China cresce tanto", declarou, em palestra realizada em São Paulo na posse de Emilson Alonso, CEO do HSBC, na presidência da ABBI (Associação Brasileira de Bancos Internacionais).
Para ele, a resposta é "muito simples". Além de citar o investimento em educação, Meirelles fez referência à existência de 650 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, número bem superior aos 28 milhões reconhecidos pelo governo chinês.
E prosseguiu: "Um país que é autoritário, que tem controle de migração interna, não tem praticamente direitos trabalhistas, que tem despesas de Previdência Social de 1% do PIB e, em conseqüência disso tudo, uma poupança nacional de 47% do PIB".
Desde que iniciou as reformas econômicas, em 1979, a China cresceu em média 9,6% ao ano. Em 2005, a expansão foi de 9,9%, comparados aos 2,3% do Brasil. O país asiático é considerado um "parceiro estratégico" pelo governo brasileiro e recebeu a visita do presidente Lula em 2004. No mesmo ano, o presidente chinês, Hu Jintao, esteve no Brasil.
Atacado pelo excesso de conservadorismo da política monetária, Meirelles disse que a missão do BC é perseguir a meta de inflação fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), integrado pelo presidente do BC e os ministros da Fazenda e do Planejamento.
Meirelles ressaltou que fracassaram os modelos "alternativos" de combate à inflação, entre eles o congelamento de preços e a adoção de uma âncora cambial. Em sua opinião, a experiência de bancos centrais em todo o mundo demonstra que o regime mais eficaz é o de metas de inflação, adotado no Brasil desde 1999.
O aumento da taxa de juros é a arma para aproximar a alta de preços das metas fixadas pelo CMN. "Não cabe ao Banco Central ser criativo", defendeu.
Para tentar manter a inflação dentro da meta, o BC iniciou uma política de alta de juros em setembro de 2004. A tendência só foi revertida 12 meses depois, quando a taxa estava em 19,75% ao ano. Com os cortes realizados até agora, os juros caíram para 16,5%.
O presidente do BC refutou as críticas que apontam a alta dose de juros como responsável pelo crescimento medíocre de 2,3% registrado em 2005. Segundo ele, outros fatores contribuíram para a baixa expansão do PIB, entre os quais a quebra da safra agrícola.
Na avaliação de Meirelles, o país está pronto para iniciar um ciclo de crescimento sustentado, que já reflete nos números: a expansão de 2004 a 2006 deverá ser de 3,7% ao ano, comparados ao 1,8% do período 1999-2003.


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