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RECEITA ORTODOXA
Presidente do BC diz que país é autoritário, quase não tem direitos trabalhistas e restringe a migração interna
Meirelles ataca a China para defender juros
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, atacou ontem a China para defender a política de juros altos e justificar os
baixos índices de crescimento da
economia brasileira.
Segundo Meirelles, 9% de crescimento ao ano "é pouco" se for
considerada a realidade chinesa
de ausência de direitos trabalhistas, um enorme contingente de
pessoas abaixo da linha da pobreza, a quase inexistência de Previdência Social e o caráter autoritário do regime. O único ponto positivo mencionado por ele foi o investimento em educação, que seria o maior da história em termos
de percentual do PIB, de acordo
com dados do governo chinês.
"Algumas pessoas colocam a
questão de por que o Brasil não
cresce como outros países, entre
eles a China. Acho a explicação
muito simples, se olharmos para a
China. A questão é saber por que
a China cresce tanto", declarou,
em palestra realizada em São Paulo na posse de Emilson Alonso,
CEO do HSBC, na presidência da
ABBI (Associação Brasileira de
Bancos Internacionais).
Para ele, a resposta é "muito
simples". Além de citar o investimento em educação, Meirelles fez
referência à existência de 650 milhões de pessoas abaixo da linha
da pobreza, número bem superior aos 28 milhões reconhecidos
pelo governo chinês.
E prosseguiu: "Um país que é
autoritário, que tem controle de
migração interna, não tem praticamente direitos trabalhistas, que
tem despesas de Previdência Social de 1% do PIB e, em conseqüência disso tudo, uma poupança nacional de 47% do PIB".
Desde que iniciou as reformas
econômicas, em 1979, a China
cresceu em média 9,6% ao ano.
Em 2005, a expansão foi de 9,9%,
comparados aos 2,3% do Brasil. O
país asiático é considerado um
"parceiro estratégico" pelo governo brasileiro e recebeu a visita do
presidente Lula em 2004. No mesmo ano, o presidente chinês, Hu
Jintao, esteve no Brasil.
Atacado pelo excesso de conservadorismo da política monetária,
Meirelles disse que a missão do
BC é perseguir a meta de inflação
fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), integrado pelo
presidente do BC e os ministros
da Fazenda e do Planejamento.
Meirelles ressaltou que fracassaram os modelos "alternativos" de
combate à inflação, entre eles o
congelamento de preços e a adoção de uma âncora cambial. Em
sua opinião, a experiência de bancos centrais em todo o mundo demonstra que o regime mais eficaz
é o de metas de inflação, adotado
no Brasil desde 1999.
O aumento da taxa de juros é a
arma para aproximar a alta de
preços das metas fixadas pelo
CMN. "Não cabe ao Banco Central ser criativo", defendeu.
Para tentar manter a inflação
dentro da meta, o BC iniciou uma
política de alta de juros em setembro de 2004. A tendência só foi revertida 12 meses depois, quando a
taxa estava em 19,75% ao ano.
Com os cortes realizados até agora, os juros caíram para 16,5%.
O presidente do BC refutou as
críticas que apontam a alta dose
de juros como responsável pelo
crescimento medíocre de 2,3% registrado em 2005. Segundo ele,
outros fatores contribuíram para
a baixa expansão do PIB, entre os
quais a quebra da safra agrícola.
Na avaliação de Meirelles, o país
está pronto para iniciar um ciclo
de crescimento sustentado, que já
reflete nos números: a expansão
de 2004 a 2006 deverá ser de 3,7%
ao ano, comparados ao 1,8% do
período 1999-2003.
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