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BASTIDORES
Presidente diz sentir-se traído pelos chineses
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse em reunião reservada que se sente
"traído pelos chineses". Foi a
reação de Lula aos navios
com carregamento de soja
rejeitados pelas autoridades
da China, país cuja visita no
final de maio foi classificada
por ele mesmo como a mais
importante de seu mandato.
Anteontem, o presidente
orientou o ministro Roberto
Rodrigues (Agricultura) a
tentar uma saída negociada,
mas, contrariado, lhe deu a
recomendação de subir o
tom nos bastidores.
O mesmo recado foi dado
ao ministro Celso Amorim
(Relações Exteriores), que,
na reunião ministerial do dia
4, disse que a viagem havia
sido um sucesso e que as
oportunidades comerciais
seriam ampliadas. O ministro Luiz Fernando Furlan
(Desenvolvimento), que
participou da reunião com
Lula junto com Amorim e
Rodrigues, também ouviu a
recomendação presidencial.
Subir o tom nos bastidores
não significa partir para uma
disputa acirrada na OMC
(Organização Mundial do
Comércio), mas deixar claro
para as autoridades chinesas
que, após a recente visita de
Lula à China, o episódio de
rejeição de soja pode abalar
o relacionamento entre os
dois países.
Lula desconfia que haja,
além de razões sanitárias, algum tipo de oportunismo
comercial por trás da rejeição chinesa.
Foi nesse contexto que o
presidente se dispôs anteontem até a telefonar para o
primeiro-ministro da China,
Wen Jiabao. Até as 19h de
ontem tal ligação não havia
sido feita. Auxiliares recomendaram cautela. Afinal,
se telefonar e falar com o
premiê, Lula deve estar certo
de que colherá uma resultado positivo. Do contrário, o
telefonema pode amplificar
a repercussão política negativa do atual imbróglio.
Independentemente de
uma avaliação técnica sobre
as razões chinesas, Lula avalia que o recente imbróglio
tira o brilho de sua visita à
China. A viagem foi até tema
de propaganda política do
PT na TV. A continuidade
de um contencioso com a
China por conta da soja pode, na visão do presidente e
da cúpula do PT, servir de
munição para a oposição na
campanha eleitoral deste
ano. Em outubro, haverá
eleições municipais.
O episódio daria ainda argumento a oposicionistas
que dizem que a política externa brasileira tem mais
lances de marketing interno
do que ações efetivas.
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