São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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JUROS

Banco Central volta a cortar juros após quatro meses; taxa anual cai de 18,5% para 18%; BC justifica medida de modo original

Otimista com política e preços, BC corta juro

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de quatro meses, o Banco Central voltou a cortar os juros básicos da economia, que saíram de 18,5% para 18% ao ano. A decisão foi considerada algo surpreendente pelo mercado, era ansiada pelo candidato do governo à presidente e foi justificada de modo original pelo Comitê de Política Monetária (a direção do BC, que vota e define a taxa de juros).
Para justificar a decisão, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) divulgou nota dizendo que a redução foi possível graças à confiança "na manutenção, no futuro, de um arcabouço macroeconômico responsável", um argumento político inusual no BC, e na queda da inflação.
De acordo com a equipe econômica, "arcabouço macroeconômico responsável" é o nome dado às bases da atual política econômica: compromisso com o ajuste fiscal, com o câmbio flutuante e com as metas de inflação.
Na reunião de junho, quando indicou tendência de queda dos juros, o BC informou que as condições da economia ainda não eram as mais adequadas para reduzir a taxa. Ontem, não havia grande diferença em relação à situação do mês passado.
A decisão de reduzir os juros não foi unânime entre os diretores do BC. Foram cinco votos pela redução e dois pela manutenção da taxa. O Copom tem oito membros, mas um deles -o diretor de Administração, Edison Bernardes- não participou da reunião porque está de férias.
Além da confiança na manutenção das bases da política econômica, o Copom também cita o fato de a projeção de inflação do ano que vem estar "bem abaixo" da meta fixada pelo governo.
No final do mês passado, o Conselho Monetário Nacional aumentou de 3,25% para 4% a meta para a inflação do ano que vem. Além disso, a margem de tolerância para a meta passou de 2 pontos percentuais para 2,5 pontos.
No mês passado, o BC projetava inflação de 2,6% para o ano que vem -bem abaixo da meta de 4%. Em junho do ano passado, o BC estimava uma inflação de 3% para 2002. Um ano depois, essa projeção passou para 5,5%.
Também no mês passado, o BC informou que não reduziria os juros naquela ocasião por causa da alta do dólar e da taxa de risco-país. De lá para cá, porém, nenhum dos indicadores deu sinais de melhora. Isso pode ser um indicativo de que o corte nos juros teve por objetivo estimular o crescimento da economia, conveniente num ano de eleições.
Anteontem, pesquisa do Ibope mostrou uma queda de dois pontos percentuais na intenção de voto no tucano José Serra. Ciro Gomes, do PPS, subiu quatro pontos e se firmou no segundo lugar, sete pontos na frente de Serra.
No PSDB, era forte a pressão para que o BC baixasse os juros, o que melhoraria o ânimo de agentes econômicos e poderia favorecer o candidato tucano. Logo após a reunião do Copom, o presidente do BC, Armínio Fraga, se encontrou com o presidente do PSDB, o deputado José Aníbal, para tratar da situação econômica.
A reunião estava marcada desde o início da semana. Na saída do encontro, Aníbal disse que a decisão de reduzir os juros foi técnica.



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