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JUROS
Para industriais, medida terá mais efeito psicológico que real na economia
Corte de juros surpreende mercado e anima indústria
DA REPORTAGEM LOCAL
O corte de 0,5 ponto percentual
na taxa básica de juros foi recebido com satisfação pela indústria
paulista. O presidente da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer
Piva, destacou o "efeito psicológico positivo" da medida anunciada pelo Copom ontem.
"A redução traz uma confiança
maior no que o Banco Central
tem feito. O Armínio [Fraga, presidente do BC" demonstrou ousadia. Havia uma pressão forte no
mercado pela manutenção dos juros", afirmou Piva.
A Fiesp já havia reivindicado
uma redução dos juros dessa
magnitude na semana passada.
Na opinião de Piva, a decisão de
baixar a Selic para 18% ao ano não
teve motivações políticas, como
forma de favorecer o candidato
governista à presidência, José Serra (PSDB). Apenas se houvesse
um corte extraordinário de juros,
com reflexos na redução dos custos do crediário, por exemplo, a
população seria sensibilizada e essa leitura teria validade.
Outra entidade de peso na indústria nacional, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores),
aprovou a decisão do BC.
"Toda a cadeia produtiva pedia
essa redução, que era esperada
desde o mês passado", afirma Elizabeth Carvalhaes, vice-presidente da Anfavea.
Como o presidente da Fiesp,
Carvalhaes destacou que a medida tem uma importância mais
psicológica que real na economia.
Dentre economistas e analistas
do mercado financeiro, a decisão
do Copom foi avaliada como surpreendente. A maior parte deles
apostava na manutenção dos juros, devido principalmente ao nível em que estão os indicadores financeiros. O dólar beirando os R$
2,90 seria motivo suficiente para o
BC ser mais conservador, avaliam. "Acreditávamos na manutenção [dos juros" porque o discurso do Copom na ata da reunião passada era o de que o cenário econômico estava muito volátil. Como de lá para cá o mercado
piorou ainda mais, avaliamos que
o conservadorismo seria mantido", afirma Fabio Akira, economista do JP Morgan. "O que aconteceu foi que o BC mudou o foco
da política monetária quando alterou a meta de inflação para o
ano que vem. O foco agora é a inflação do ano que vem."
O governo aumentou a meta de
inflação para 2003 (de 3,25% para
4%) e sua margem de tolerância
(de 2 para 2,5 pontos percentuais)
no fim do mês passado. O diretor
de Política Econômica do BC, Ilan
Goldfajn, já havia declarado que
com o aumento da meta para o
ano que vem cresciam os espaços
para cortes nos juros.
"Houve uma mudança de foco
do BC. Se antes era a inflação deste ano, agora ficou claro que está
mirando a inflação de 2003", afirma Zeina Latif, economista do
BBV Banco.
Atividade em baixa
Para Marcelo Cypriano, economista do BankBoston, "o BC
olhou um cenário de atividade
econômica ruim e uma inflação
de 2003 abaixo da meta. A medida
foi acertada e visa evitar uma desaceleração forte da economia".
A redução da atividade industrial foi destacada também por
Clarice Messer, diretora do departamento de economia da Fiesp,
como um dos motivos fundamentais para o Copom optar pelo
corte nos juros.
O medo do tamanho do repasse
da alta do dólar na inflação era
apontado pelo mercado como o
motivo principal que faria o BC
optar mais uma vez pela cautela e
manter os juros em 18,5% ao ano.
"A decisão mostra que o BC
avalia que a atual alta do câmbio é
transitória e não terá, assim, grande impacto na inflação", afirma
Wilson Ramião, economista do
Lloyds TSB.
Para Sergio Werlang, diretor do
Itaú e ex-diretor do BC, não há
mais tempo hábil para conter a
inflação neste ano, pois tudo indica que ela vai superar a meta. "Por
isso, a decisão foi correta."
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