São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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JUROS

Para industriais, medida terá mais efeito psicológico que real na economia

Corte de juros surpreende mercado e anima indústria

DA REPORTAGEM LOCAL

O corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros foi recebido com satisfação pela indústria paulista. O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, destacou o "efeito psicológico positivo" da medida anunciada pelo Copom ontem.
"A redução traz uma confiança maior no que o Banco Central tem feito. O Armínio [Fraga, presidente do BC" demonstrou ousadia. Havia uma pressão forte no mercado pela manutenção dos juros", afirmou Piva.
A Fiesp já havia reivindicado uma redução dos juros dessa magnitude na semana passada.
Na opinião de Piva, a decisão de baixar a Selic para 18% ao ano não teve motivações políticas, como forma de favorecer o candidato governista à presidência, José Serra (PSDB). Apenas se houvesse um corte extraordinário de juros, com reflexos na redução dos custos do crediário, por exemplo, a população seria sensibilizada e essa leitura teria validade.
Outra entidade de peso na indústria nacional, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), aprovou a decisão do BC.
"Toda a cadeia produtiva pedia essa redução, que era esperada desde o mês passado", afirma Elizabeth Carvalhaes, vice-presidente da Anfavea.
Como o presidente da Fiesp, Carvalhaes destacou que a medida tem uma importância mais psicológica que real na economia.
Dentre economistas e analistas do mercado financeiro, a decisão do Copom foi avaliada como surpreendente. A maior parte deles apostava na manutenção dos juros, devido principalmente ao nível em que estão os indicadores financeiros. O dólar beirando os R$ 2,90 seria motivo suficiente para o BC ser mais conservador, avaliam. "Acreditávamos na manutenção [dos juros" porque o discurso do Copom na ata da reunião passada era o de que o cenário econômico estava muito volátil. Como de lá para cá o mercado piorou ainda mais, avaliamos que o conservadorismo seria mantido", afirma Fabio Akira, economista do JP Morgan. "O que aconteceu foi que o BC mudou o foco da política monetária quando alterou a meta de inflação para o ano que vem. O foco agora é a inflação do ano que vem."
O governo aumentou a meta de inflação para 2003 (de 3,25% para 4%) e sua margem de tolerância (de 2 para 2,5 pontos percentuais) no fim do mês passado. O diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn, já havia declarado que com o aumento da meta para o ano que vem cresciam os espaços para cortes nos juros.
"Houve uma mudança de foco do BC. Se antes era a inflação deste ano, agora ficou claro que está mirando a inflação de 2003", afirma Zeina Latif, economista do BBV Banco.

Atividade em baixa
Para Marcelo Cypriano, economista do BankBoston, "o BC olhou um cenário de atividade econômica ruim e uma inflação de 2003 abaixo da meta. A medida foi acertada e visa evitar uma desaceleração forte da economia".
A redução da atividade industrial foi destacada também por Clarice Messer, diretora do departamento de economia da Fiesp, como um dos motivos fundamentais para o Copom optar pelo corte nos juros.
O medo do tamanho do repasse da alta do dólar na inflação era apontado pelo mercado como o motivo principal que faria o BC optar mais uma vez pela cautela e manter os juros em 18,5% ao ano.
"A decisão mostra que o BC avalia que a atual alta do câmbio é transitória e não terá, assim, grande impacto na inflação", afirma Wilson Ramião, economista do Lloyds TSB.
Para Sergio Werlang, diretor do Itaú e ex-diretor do BC, não há mais tempo hábil para conter a inflação neste ano, pois tudo indica que ela vai superar a meta. "Por isso, a decisão foi correta."



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