São Paulo, quinta-feira, 18 de julho de 2002

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Fusão sepulta sonho de múlti brasileira do aço

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A fusão da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) com o gigante anglo-holandês Corus praticamente sepulta o sonho de criação de uma multinacional com sede no Brasil na área de aços planos, onde estão concentradas as grandes usinas.
A menos que estejamos diante de uma situação na qual o rato é mais forte que o gato, o centro de controle da primeira siderúrgica brasileira acaba de migrar para Londres, contrariando o discurso nacionalista no qual se apoiou o empresário Benjamin Steinbruch para construir a liderança do grupo têxtil Vicunha no comando da usina de Volta Redonda (RJ).
Por mais de três anos (meados de 1997 ao final de 2000) a CSN chegou a ter sob controle a também emblemática Vale do Rio Doce, adquirida em leilão com ajuda estatal.
Na privatização da Vale, o consórcio liderado pela Votorantim, contando com a participação da sul-africana Anglo American, era favorito. Steinbruch, no comando da CSN, liderou a formação de outro consórcio, cujo viés nacionalista era o maior apelo.
Esse viés valeu ao empresário até o apoio do deputado federal petista Aloizio Mercadante, seu amigo pessoal, na busca de uma aproximação com a Previ, o poderoso fundo de pensão patrocinado pelo BB (Banco do Brasil). A opção da Previ pela CSN, sob protestos do líder do Votorantim, Antônio Ermírio de Moraes, decidiu o leilão da Vale.
Na separação Vale-CSN, o Vicunha obteve do estatal BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) US$ 390 milhões para ficar sozinho com o controle da siderúrgica e mais um refinanciamento de outra dívida de US$ 250 milhões, contraída na época da compra de sua participação inicial na CSN. O projeto da multinacional brasileira seguia como pano de fundo.
Somados os encargos, o braço siderúrgico do Vicunha deve hoje ao BNDES perto de US$ 700 milhões, algo próximo de R$ 2 bilhões. O banco não fala, por enquanto, do assunto, mas está preocupado. Não só com o destino de seus créditos, mas também com o desmoronamento de uma estratégia considerada importante para a economia brasileira.
Havia uma torcida, à distância, para que a aliança da CSN fosse com o grupo gaúcho Gerdau. Com a CSN, o Gerdau -da área de aços longos (vergalhões etc), mas que já controla a Açominas, da área de planos- passaria a ser um grupo de porte internacional.
O BNDES sonhava com uma concentração da siderurgia brasileira em três grandes grupos, capazes de competir com os conglomerados internacionais. Tudo indica que o sonho vai se concretizar. Com o fechamento do negócio CSN-Corus e o namoro entre a Usiminas-Cosipa, cujo maior sócio controlador é a japonesa Nippon Steel, e a Acesita-CST (grupo europeu Acelor), o país passaria a ter os três desejados grupos.
Só que o sonho incluía brasileiros comandando os três gigantes de aço. Restou o Gerdau, ao menos por enquanto, nem tão gigante assim.



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