São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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SEGURANÇA

Prejuízo com fraudes no Brasil ainda não compensa maior gasto de empresas com tecnologias como o "smart card"

Proteção antifraude não chega aos cartões

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A tecnologia para evitar fraudes no cartão de crédito avançou nos últimos anos. Mas a quantidade de fraudes ocorridas, por outro lado, tem se mantido no mesmo patamar no Brasil, segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito).
Uma das explicações para o aparente paradoxo é que as emissoras de cartão relutam em implementar em larga escala o cartão com chip -que requer senha e não tem registro de clonagem-, considerando que a relação custo-benefício não é vantajosa.
As bandeiras, por outro lado, preocupadas com a sua imagem com o consumidor, estipularam um prazo, até 2005, para a substituição total do cartão convencional pelo "smart card", como é chamado o cartão com chip, que começou a ser testado em meados dos anos 90.
É uma disputa que, até agora, vem sendo vencida pelos emissores. Para ter uma idéia, em 2000 a bandeira Visa e a Abecs, por exemplo, previam que em dois ou três anos todos os cartões no país seriam substituídos pela nova tecnologia. Hoje, a estimativa é que no Brasil existam 2,5 milhões de "smart cards", ou seja, cerca de 5% dos cartões existentes no país.
A razão: emitir um cartão à prova de clonagem custa muito mais. Um cartão convencional sai em média por R$ 0,60 para o emissor. O preço do com chip -que utiliza um sistema de criptografia sofisticado- é de R$ 6.
"Na América do Norte e na América Latina o chip vai demorar a acontecer. Quando se colocam na balança o prejuízo com fraudes e o custo dessa tecnologia, a conclusão é que ainda não vale a pena", afirma Márcia Knobel, gerente de prevenção de fraudes da emissora Credicard.
Outro fator que "desincentiva" a nova tecnologia no Brasil é que os cartões com chip, diferentemente do que ocorre na Europa, não são muito usados para outra finalidade que não evitar a clonagem.
"A idéia do chip não é apenas combater fraudes mas também ser um banco de dados para programas de fidelização, entre outras opções", diz Cláudio Facó, diretor-executivo de riscos da Orbitall, que presta serviços em processamento de informações.
As fraudes com cartão de crédito via internet também são uma preocupação. Elas representam hoje, segundo Walter Hannemann, diretor do IPDI (Instituto de Peritos em Tecnologias Digitais e Telecomunicações), 2% do total das fraudes com cartão.
O prejuízo do mercado com fraudes no Brasil em 2003 correspondeu a 0,15% do faturamento, o equivalente a R$ 70 milhões, de acordo com dados da Abecs.
Um dos caminhos encontrados para evitar prejuízos é o monitoramento dos hábitos de consumo dos clientes. Se os gastos começam a fugir do habitual, o cliente é contactado e questionado sobre suas compras.
Foi o que aconteceu com o assessor de imprensa Domingos Antunes, 49, que teve seu cartão furtado, não percebeu e recebeu uma ligação da administradora do seu cartão. Já tinham sido feitas compras em seu nome somando R$ 6.900. "Disseram que eu teria que arcar com o prejuízo. Vou recorrer ao Procon", disse.
A melhor forma de proteger-se, dizem especialistas, é não perder o cartão de vista. Nem isso, no entanto, representa alguma garantia. "O cartão de crédito ou de débito, que também é muito fraudado, pode ser clonado em uma máquina que se parece muito com a de passar cartão. Em segundos, todas as informações da tarja magnética são copiadas", diz Vander Giordano, diretor da área de inteligência de negócios da Kroll, consultoria em gerenciamento de riscos.


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