São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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EUA

Processo judicial contra o Morgan Stanley mostra ambiente de discriminação sexual

Homens ainda dominam Wall Street

PATRICK MCGEEHAN
DO "NEW YORK TIMES"

Durante vários anos de litígio sobre o tratamento dispensado a suas funcionárias, as empresas de Wall Street negaram veementemente todas as alegações de discriminação -até que chegou a hora de fazer as contas.
Em um processo por discriminação sexual no qual o Morgan Stanley fez um acordo na segunda passada, assim como em outros contra o Merrill Lynch e o Smith Barney no final dos anos 90, os executivos decidiram não divulgar seus registros de contratação, pagamento e promoção de mulheres. Em todos os casos, advogados trabalhistas dizem que os números pintavam uma imagem que teria sido difícil explicar.
Eles mostram que, ainda no século 21, Wall Street continua dominada pelos homens brancos, que ocupam o grosso dos cargos de maior poder e salário no setor.
Dados da Comissão para Igualdade de Oportunidades no Emprego mostram que os homens representavam mais de dois terços dos executivos e gerentes na indústria de valores mobiliários em 2002, ainda mais que nas outras indústrias.
Os números do próprio setor parecem mais tendenciosos. A Associação da Indústria de Valores diz que mais da metade de todos os empregados do setor é de homens brancos, mas, mais importante, os homens brancos ocupam cerca de quatro em cada cinco cargos de direção executiva e constituem mais de 70% dos banqueiros de investimentos, corretores e negociantes.
Com base em números desse tipo, Elizabeth Grossman, que foi a principal advogada da comissão no caso do Morgan Stanley, não hesitou em prever que vão surgir outras queixas de discriminação sexual e racial em Wall Street, agora que o banco concordou em pagar US$ 54 milhões para encerrar o processo da comissão.
O caso decorreu de uma queixa feita em 1998 pela vendedora de títulos Allison K. Schieffelin, que afirmou que lhe negaram uma promoção por causa de seu sexo. A firma retrucou que Schieffelin, que receberá pelo menos US$ 12 milhões de indenização, ficou decepcionada com sua incapacidade de subir e mais tarde foi demitida por insubordinação.
"Esse acordo é uma confissão de que talvez ela fosse uma criadora de encrencas, mas sua alegação deve ter algum mérito, ou eles não teriam pago tanto", disse Hydie Sumner, uma corretora que sabe que as grandes firmas lutam com empenho para não pagar indenizações por discriminação.
Sumner, que trabalhou para o Merrill Lynch em San Antonio até 1997, recebeu uma indenização de US$ 2,2 milhões concedida por um painel de árbitros há alguns meses, depois de reclamar de assédio e discriminação.

Padrão
Na decisão, os árbitros disseram que a evidência estatística prova que há um padrão e uma prática de discriminação contra mulheres na operação de corretagem do Merrill Lynch -a primeira decisão desse tipo contra uma firma de Wall Street.
A comissão desejava obter uma decisão semelhante contra o Morgan Stanley num tribunal federal de Manhattan no início da semana que passou. Mas, antes que Grossman pudesse relatar os números para o júri, a empresa decidiu fazer um acordo.
Apesar dos processos judiciais, as estatísticas das firmas de Wall Street não mudaram significativamente nos últimos anos, segundo dados da Associação da Indústria de Valores. De fato, os homens tinham uma porcentagem ligeiramente maior de empregos no setor no ano passado, na comparação com 1999. Enquanto isso, as mulheres continuam detendo a maioria dos empregos de baixo nível, como assistente de vendas, segundo a associação.
"Eles realmente não acreditam que estão discriminando", disse Sumner sobre os diretores de corretagem que ela encontrou. "Se você entrar e tiver a aparência que eles desejam -provavelmente um perfil de homem branco-, projetam sucesso em você. Eles têm uma visão específica de qual deve ser a aparência de um corretor ou gerente de sucesso, e geralmente não é uma mulher, um negro ou um hispânico."


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves


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