São Paulo, terça, 18 de agosto de 1998

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MERCADO TENSO
Bolsas e moedas asiáticas caem no final do pregão devido às medidas tomadas ontem pelo governo russo
Mudanças na Rússia afetam os asiáticos

Reuters
Operador da Bolsa de Tóquio durante pregão; os mercados asiáticos caíram depois das medidas russas


MARCIO AITH
de Tóquio

A Ásia foi severamente afetada pela decisão do governo russo de ampliar os limites de sua banda cambial, praticamente desvalorizando sua moeda, o rublo.
Bolsas e moedas, que já vinham caindo durante o dia, acentuaram a tendência pouco antes do fechamento dos mercados, quando a notícia começou a circular.
Nas poucas horas que tiveram para reagir, investidores deram sinais de que a credibilidade dos mercados emergentes -principalmente a das economias do Sudeste Asiático- ficou mais abalada. Foi uma questão de credibilidade: as exportações asiáticas não competem diretamente com as russas.
As Bolsas da Malásia e da Tailândia caíram 3,6% e 3,4%, respectivamente. As de Cingapura e de Taiwan sofreram desvalorizações de 2,9% e 1,3%. As Bolsas de Hong Kong e de Jacarta não funcionaram em razão de feriados locais.
A desvalorização do rublo foi anunciada no horário de fechamento das Bolsas da Coréia do Sul e do Japão. Os dois mercados caíram, 1% e 2,2%, respectivamente.
No caso japonês, o índice Nikkei atingiu seu menor nível nos últimos dois meses. As ações de bancos foram as que mais caíram, afetadas pela declaração do ministro de Finanças, Kiichi Miazawa, de que a quebra de bancos será inevitável no processo de recuperação da segunda maior economia do mundo. Depois do fechamento do pregão, quando a desvalorização do rublo já era conhecida, aumentou a procura por títulos do Tesouro dos EUA em Tóquio.
A turbulência na Rússia afetou também a cotação das moedas da região. A rupia, da Indonésia, liderou a queda com uma desvalorização de 2,73%. O ringgit da Malásia fechou em queda de 0,71%.
O won caiu 0,68% e o dólar de Cingapura, 0,62%. O iene fechou o dia a 146,5, com uma pequena desvalorização com relação à cotação da última sexta-feira. Investidores acham que uma maior desvalorização do iene está sendo evitada com ameaças de intervenção do Banco Central japonês.
A economia de Hong Kong, que tem sido vítima de fortes ataques especulativos nas últimas semanas, poderá voltar a ser ameaçada.
Na sexta-feira, as autoridades da ilha contra-atacaram intervindo no câmbio, na Bolsa e no mercado futuro. A intervenção conteve a especulação mas provocou sérias críticas de analistas. Segundo eles, Hong Kong colocou em prática táticas intervencionistas que podem afastar investidores.
Todos acreditam que amanhã, na reabertura do mercado, poderá haver fuga de capitais.

"Efeito dominó"
Depois de um ano do início da crise asiática, expressões como "efeito dominó" ou "fuga para a segurança" voltaram a circular entre integrantes do mercado. Dessa vez, para explicar os prováveis efeitos da turbulência russa na economia mundial.
Países como China, México e Venezuela foram os mais citados entre os que provavelmente desvalorizarão suas moedas ou sofrerão ataques especulativos em face da gravidade da situação econômica na Rússia e do perfil de suas economias -suas exportações estão sendo diretamente afetadas pela queda dos preços de commodities ou suas moedas já estavam sob intensa pressão especulativa.
O Brasil não foi especificamente citado, mas, segundo consenso, capitais internacionais em toda a América Latina, na China e em Hong Kong deverão migrar para investimentos mais seguros como títulos do tesouro dos EUA.
"Os investidores vão começar a reavaliar o risco dos mercados emergentes", disse Raymond Lim, economista-chefe do ABN-Amro em Cingapura.
"Isso vai reduzir o envolvimento dos investidores com todos os mercados emergentes", disse Karl Broeker, do Banco Sudwest.



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