São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Bolívia fala em negociação mais "técnica"

Segundo funcionários do governo Morales, saída de Soliz Rada despolitizará discussões em torno da nacionalização

Mais moderado, Carlos Villegas, novo titular da pasta de Hidrocarbonetos, diz que prioridade será a assinatura de contratos

DA REPORTAGEM LOCAL

Com a saída do controvertido ministro dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, na última sexta-feira, funcionários do governo boliviano admitiram que o processo de nacionalização tende a assumir uma perspectiva mais "técnica e ampla" na negociação com as empresas multinacionais petroleiras.
Em entrevistas em separado ao jornal boliviano "La Prensa", os vice-ministros de Exploração, Guillermo Aruquipa, e de Comercialização, Williams Donaire, disseram anteontem esperar que a posse do mais moderado ministro Carlos Villegas no lugar de Soliz Rada traga uma visão especializada às negociações em andamento para a assinatura de novos contratos com as empresas petroleiras.

Decreto
Para os dois, Soliz Rada deu um caráter mais político às negociações. Crítico histórico da Petrobras e dos acordos com o Brasil -foi contra, por exemplo, a construção do gasoduto- , o ex-ministro fazia acusações públicas quase semanais contra a empresa brasileira. Com isso, as negociações entre as duas partes em torno da nacionalização estão paradas há mais de dois meses.
A Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos (CBH), que reúne as principais empresas dos setor -entre as quais, a Petrobras-, informou que espera que Villegas acompanhe os planos para o desenvolvimento do setor, algo que, na avaliação da entidade, Soliz Rada não permitiu que ocorresse.
Em declarações divulgadas pela agência oficial de notícias boliviana, Villegas disse que a prioridade do processo da agenda para o cumprimento do decreto de nacionalização será a assinatura de novos contratos de exploração com as multinacionais. Ao todo, são cerca de 70 novos contratos, a serem negociados com dez empresas, entre as quais a Petrobras.
"Haverá continuidade no processo de nacionalização, e, em primeiro lugar, devemos estabelecer acordos sobre novos contratos. Para isso, se respeitará o cronograma da rodada de negociações com as petroleiras até 9 de outubro", disse Villegas, segundo a agência.
As negociações sobre os novos contratos serão retomadas hoje com a Andina, filial da empresa hispano-argentina Repsol. Ao longo da semana, haverá encontros com a francesa Total e a britânica British Gas.
De acordo com o decreto de nacionalização, assinado em 1º de maio e que transforma as empresas do setor em prestadoras de serviço para a YPFB, a estatal boliviana, os novos contratos têm de ser assinados até 1º de novembro, o que dificilmente será cumprido.
Caso o prazo seja estendido, se repetirá o mesmo problema do ano passado, quando, em maio, foi aprovada a nova Lei de Hidrocarbonetos, na qual já se previa a assinatura de novos contratos em 180 dias com as multinacionais.
Até agora, praticamente nada do que está previsto no decreto foi implantado, como a retomada do controle acionário das duas refinarias da Petrobras e de outras quatro empresas privatizadas ao longo da década de 1990.


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