São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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HÁBITOS DO REAL

Venda da ave disparou desde o Plano Real e deve ultrapassar a de carne bovina nos próximos três anos

Frango deve tomar lugar do boi no mercado

JOSÉ ALAN DIAS
MAURO ZAFALON
DA REPORTAGEM LOCAL

Vedete dos primeiros anos do governo FHC, quando foi alçado à condição de bandeira do Plano Real, como aparente expressão da melhoria de acesso, por parte da população pobre, às proteínas, o frango deverá em três anos superar o boi como a carne mais consumida no mercado brasileiro.
De acordo com relatório do consultor José Carlos Teixeira, a partir de dados do Ministério da Agricultura e dos produtores, o consumo per capita de frango no Brasil neste ano será de 33,78 kg. O de carne bovina, de 36,63 kg -ou seja, um consumo ainda superior de 2,85 kg de carne bovina. Essa margem tem caído de forma drástica desde meados da última década. Em 1970, por exemplo, o consumo per capita de frango no país era de 2,30 kg por ano. A média de consumo da carne bovina fora de 22,80 kg/habitante.
O grande salto ocorrera a partir de 1994. Naquele ano (o Plano Real seria lançado em julho), o consumo por habitante foi de 18,30 kg de carne frango, contra 34,10 kg da bovina. Em 1995, com melhora na renda da população, o consumo subiria para 23,30 kg de carne frango/ano -acompanhada também de um maior consumo de carne bovina, que chegara a 36,30 kg per capita. Depois de atingir um pico, em 1996, com o consumo médio de 38 kg, as vendas internas de carne bovina retrocederiam nos anos seguintes, oscilando entre 35 e 36,6 kg -a previsão para este ano.
O mesmo não aconteceu com o frango. O consumo per capita sobe de forma contínua desde 1986 -deu um salto nos biênios 1994 e 1995 e 1998 e 1999 para chegar à projeção atual de 33,78 kg para 2002.
De acordo com analistas, são duas as explicações para o fenômeno e estão relacionadas: 1) a vantagem de preço em relação à carne bovina e 2) ganho de produtividade e o barateamento de custos de produção, que teriam sido repassados ao consumidor, resultado em menores preços. Mesmo com o mercado brasileiro estagnado há três anos, a pecuária de corte conseguiu manter os preços internos ao destinar o excedente de produção à exportação.
Em julho de 1994, de acordo com a Fipe, o preço (nominal) do quilo de acém (carne de segunda) era de R$ 2,42. Naquele mesmo mês, o preço médio para o consumidor da carne de frango fora de R$ 1,33 por quilo. Em agosto deste ano, o preço médio da mesma carne bovina chegou a R$ 4,39, contra R$ 1,83 da de frango. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE, aponta que, entre julho de 1994 e setembro deste ano, o aumento acumulado nos preços da carne bovina chegou a 89,5%, contra alta de 72,8% no do frango -no mesmo período, a inflação medida pelo IPCA chegou a 123,28%.
"Considero inevitável essa reviravolta (do consumo de frango ser superior ao de carne no Brasil). Nos principais mercados mundiais isso já aconteceu", diz Enio Marques, diretor da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).
Uma das evidências apontadas por ele é a de que a produção interna de carne de frango, de 7,2 milhões de toneladas, será praticamente a mesma da de carne bovina este ano. A produção mundial é prevista em 60 milhões de toneladas, para carne bovina, e de 70 milhões, de carne de frango.


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