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HÁBITOS DO REAL
Venda da ave disparou desde o Plano Real e deve ultrapassar a de carne bovina nos próximos três anos
Frango deve tomar lugar do boi no mercado
JOSÉ ALAN DIAS
MAURO ZAFALON
DA REPORTAGEM LOCAL
Vedete dos primeiros anos do
governo FHC, quando foi alçado à
condição de bandeira do Plano
Real, como aparente expressão da
melhoria de acesso, por parte da
população pobre, às proteínas, o
frango deverá em três anos superar o boi como a carne mais consumida no mercado brasileiro.
De acordo com relatório do
consultor José Carlos Teixeira, a
partir de dados do Ministério da
Agricultura e dos produtores, o
consumo per capita de frango no
Brasil neste ano será de 33,78 kg.
O de carne bovina, de 36,63 kg
-ou seja, um consumo ainda superior de 2,85 kg de carne bovina.
Essa margem tem caído de forma
drástica desde meados da última
década. Em 1970, por exemplo, o
consumo per capita de frango no
país era de 2,30 kg por ano. A média de consumo da carne bovina
fora de 22,80 kg/habitante.
O grande salto ocorrera a partir
de 1994. Naquele ano (o Plano
Real seria lançado em julho), o
consumo por habitante foi de
18,30 kg de carne frango, contra
34,10 kg da bovina. Em 1995, com
melhora na renda da população, o
consumo subiria para 23,30 kg de
carne frango/ano -acompanhada também de um maior consumo de carne bovina, que chegara
a 36,30 kg per capita. Depois de
atingir um pico, em 1996, com o
consumo médio de 38 kg, as vendas internas de carne bovina retrocederiam nos anos seguintes,
oscilando entre 35 e 36,6 kg -a
previsão para este ano.
O mesmo não aconteceu com o
frango. O consumo per capita sobe de forma contínua desde 1986
-deu um salto nos biênios 1994 e
1995 e 1998 e 1999 para chegar à projeção atual de 33,78 kg para 2002.
De acordo com analistas, são
duas as explicações para o fenômeno e estão relacionadas: 1) a
vantagem de preço em relação à
carne bovina e 2) ganho de produtividade e o barateamento de
custos de produção, que teriam
sido repassados ao consumidor,
resultado em menores preços.
Mesmo com o mercado brasileiro
estagnado há três anos, a pecuária
de corte conseguiu manter os preços internos ao destinar o excedente de produção à exportação.
Em julho de 1994, de acordo
com a Fipe, o preço (nominal) do
quilo de acém (carne de segunda)
era de R$ 2,42. Naquele mesmo
mês, o preço médio para o consumidor da carne de frango fora de
R$ 1,33 por quilo. Em agosto deste
ano, o preço médio da mesma
carne bovina chegou a R$ 4,39,
contra R$ 1,83 da de frango. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE, aponta
que, entre julho de 1994 e setembro deste ano, o aumento acumulado nos preços da carne bovina
chegou a 89,5%, contra alta de
72,8% no do frango -no mesmo
período, a inflação medida pelo
IPCA chegou a 123,28%.
"Considero inevitável essa reviravolta (do consumo de frango
ser superior ao de carne no Brasil). Nos principais mercados
mundiais isso já aconteceu", diz
Enio Marques, diretor da Abiec
(Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).
Uma das evidências apontadas
por ele é a de que a produção interna de carne de frango, de 7,2
milhões de toneladas, será praticamente a mesma da de carne bovina este ano. A produção mundial é prevista em 60 milhões de
toneladas, para carne bovina, e de
70 milhões, de carne de frango.
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