São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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Após 2 anos, BC interrompe queda do juro

Preocupado com ritmo forte da economia e seu efeito nos preços, Copom decide, de forma unânime, manter taxa em 11,25% ao ano

Desde setembro de 2005, quando estava em 19,75%, Selic teve 18 cortes; investidor se dividiu entre manutenção e corte de 0,25 ponto na taxa

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Contrariando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Central interrompeu o processo de cortes dos juros iniciado em setembro de 2005. Depois de reduzir a taxa Selic por 18 encontros seguidos, ontem o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu, de forma unânime, mantê-la em 11,25% ao ano pelas próximas seis semanas. No início do ciclo de cortes, os juros estavam em 19,75%.
Em entrevista à Folha publicada no domingo passado, Lula disse que não achava que fosse hora de interromper o processo de queda dos juros. Mesmo ressaltando apoiar o trabalho de controle da inflação, o presidente afirmou que, "se [o BC] parar [com os cortes], vai explicar a razão pela qual parou".
A explicação ainda não veio. A nota divulgada após a reunião informou apenas que, "avaliando a conjuntura macroeconômica, o Copom decidiu, por unanimidade, fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária". Mais detalhes só devem vir a público na semana que vem, quando deve ser divulgada a ata do encontro de ontem.
Fato raro nas últimas reuniões do Copom, desta vez não havia consenso no mercado em relação à decisão tomada pelo BC. Analistas do setor privado apontavam vários argumentos favoráveis tanto à manutenção quanto ao corte dos juros.
Para o lado da manutenção, pesavam as declarações do BC, que, via documentos, expressava sua preocupação com o ritmo de expansão da economia e seu efeito sobre os preços.
"Tendo em vista o comportamento recente das taxas de utilização da capacidade, a aceleração da expansão dos investimentos será fundamental para evitar que, ao longo dos próximos trimestres, aprofunde-se o descompasso verificado entre a evolução da oferta e da demanda agregada ao longo dos últimos trimestres, o qual pode elevar o risco de aceleração inflacionária", dizia relatório divulgado pelo BC em setembro.
Em outras palavras, a dúvida do BC estava na capacidade das indústrias em expandir seu nível de produção de forma suficientemente rápida para acompanhar o ritmo da expansão do consumo. Quando muitos querem consumir e as empresas não conseguem atender essa procura, as poucas mercadorias disponíveis costumam ter os preços reajustados.
A essa preocupação se soma ainda as dúvidas em relação ao tempo que uma mudança nas taxas de juros leva para fazer efeito sobre a inflação. Segundo o BC, estudos indicam que esse prazo pode chegar a nove meses. Por esse raciocínio, seria recomendável interromper o processo de queda dos juros até que os efeitos dos cortes feitos desde o começo do ano (três pontos percentuais ao todo) ficassem mais claros.

Câmbio e inflação
Quem defende a continuidade da queda dos juros, por outro lado, baseia-se em dois argumentos principais. Um deles é o comportamento do câmbio. Depois das turbulências enfrentadas pelo mercado no mês passado, quando a cotação do dólar chegou a ultrapassar os R$ 2, o real voltou a se valorizar -ontem fechou a R$ 1,823.
O movimento estimula a procura por produtos importados, e essas mercadorias atendem parte da alta no consumo observado recentemente. Isso ajudaria a compensar o desequilíbrio entre a demanda por bens enquanto as empresas investem na ampliação de sua capacidade produtiva.
Além disso, o próprio comportamento recente da inflação indica que, pelo menos por enquanto, não há sinais de pressões significativas por reajustes. Depois de um aumento mais forte no meio do ano por causa da alta dos preços dos alimentos, a maioria dos analistas projeta que a inflação ficará dentro das metas do governo.
O próprio BC informou há duas semanas que, caso os juros continuem caindo conforme o mercado espera, a alta do IPCA ficará em 3,9% neste ano e em 4,3% nem 2008 -abaixo do objetivo de 4,5% estabelecido tanto para 2007 quanto para 2008.


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