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Após 2 anos, BC interrompe queda do juro
Preocupado com ritmo forte da economia e seu efeito nos preços, Copom decide, de forma unânime, manter taxa em 11,25% ao ano
Desde setembro de 2005, quando estava em 19,75%,
Selic teve 18 cortes; investidor
se dividiu entre manutenção
e corte de 0,25 ponto na taxa
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Contrariando o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, o
Banco Central interrompeu o
processo de cortes dos juros
iniciado em setembro de 2005.
Depois de reduzir a taxa Selic
por 18 encontros seguidos, ontem o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu,
de forma unânime, mantê-la
em 11,25% ao ano pelas próximas seis semanas. No início do
ciclo de cortes, os juros estavam em 19,75%.
Em entrevista à Folha publicada no domingo passado, Lula
disse que não achava que fosse
hora de interromper o processo de queda dos juros. Mesmo
ressaltando apoiar o trabalho
de controle da inflação, o presidente afirmou que, "se [o BC]
parar [com os cortes], vai explicar a razão pela qual parou".
A explicação ainda não veio.
A nota divulgada após a reunião informou apenas que,
"avaliando a conjuntura macroeconômica, o Copom decidiu, por unanimidade, fazer
uma pausa no processo de flexibilização da política monetária". Mais detalhes só devem
vir a público na semana que
vem, quando deve ser divulgada a ata do encontro de ontem.
Fato raro nas últimas reuniões do Copom, desta vez não
havia consenso no mercado em
relação à decisão tomada pelo
BC. Analistas do setor privado
apontavam vários argumentos
favoráveis tanto à manutenção
quanto ao corte dos juros.
Para o lado da manutenção,
pesavam as declarações do BC,
que, via documentos, expressava sua preocupação com o ritmo de expansão da economia e
seu efeito sobre os preços.
"Tendo em vista o comportamento recente das taxas de utilização da capacidade, a aceleração da expansão dos investimentos será fundamental para
evitar que, ao longo dos próximos trimestres, aprofunde-se o
descompasso verificado entre a
evolução da oferta e da demanda agregada ao longo dos últimos trimestres, o qual pode
elevar o risco de aceleração inflacionária", dizia relatório divulgado pelo BC em setembro.
Em outras palavras, a dúvida
do BC estava na capacidade das
indústrias em expandir seu nível de produção de forma suficientemente rápida para acompanhar o ritmo da expansão do
consumo. Quando muitos querem consumir e as empresas
não conseguem atender essa
procura, as poucas mercadorias disponíveis costumam ter
os preços reajustados.
A essa preocupação se soma
ainda as dúvidas em relação ao
tempo que uma mudança nas
taxas de juros leva para fazer
efeito sobre a inflação. Segundo o BC, estudos indicam que
esse prazo pode chegar a nove
meses. Por esse raciocínio, seria recomendável interromper
o processo de queda dos juros
até que os efeitos dos cortes feitos desde o começo do ano
(três pontos percentuais ao todo) ficassem mais claros.
Câmbio e inflação
Quem defende a continuidade da queda dos juros, por outro lado, baseia-se em dois argumentos principais. Um deles é o comportamento do câmbio.
Depois das turbulências enfrentadas pelo mercado no mês
passado, quando a cotação do
dólar chegou a ultrapassar os
R$ 2, o real voltou a se valorizar
-ontem fechou a R$ 1,823.
O movimento estimula a procura por produtos importados,
e essas mercadorias atendem
parte da alta no consumo observado recentemente. Isso
ajudaria a compensar o desequilíbrio entre a demanda por
bens enquanto as empresas investem na ampliação de sua capacidade produtiva.
Além disso, o próprio comportamento recente da inflação
indica que, pelo menos por enquanto, não há sinais de pressões significativas por reajustes. Depois de um aumento mais forte no meio do ano por
causa da alta dos preços dos alimentos, a maioria dos analistas
projeta que a inflação ficará
dentro das metas do governo.
O próprio BC informou há
duas semanas que, caso os juros
continuem caindo conforme o
mercado espera, a alta do IPCA
ficará em 3,9% neste ano e em
4,3% nem 2008 -abaixo do objetivo de 4,5% estabelecido tanto para 2007 quanto para 2008.
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