São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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Crise derruba fusão de VCP com Aracruz

Prejuízo bilionário na Aracruz, seca no mercado de crédito e sinais de recessão mundial fazem VCP suspender aquisição

VCP diz que negócio pode ser retomado, anuncia prejuízo de R$ 586 mi no 3º tri com pesadas perdas no câmbio e reduz produção

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A VCP (Votorantim Celulose e Papel) anunciou ontem, em teleconferência com analistas, a suspensão definitiva da fusão com a Aracruz. O fechamento do negócio aconteceria no dia 6 de outubro, mas foi postergado devido aos problemas financeiros da Aracruz gerados por uma malsucedida operação financeira com derivativos cambiais, pela crise de crédito do mercado internacional e pela redução da demanda internacional por celulose, efeito que já começa a paralisar unidades no Brasil.
O setor de papel e celulose, muito exportador, era um dos que mais cresciam no país, mas os grandes prejuízos no terceiro trimestre de três das maiores empresas do setor (VCP, Aracruz e Klabin) mostram como a crise econômica global pode afetar fortemente o país.
A operação de fusão das duas companhias criaria a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, com domínio de 30% do mercado mundial. Era um dos maiores negócios do ano e envolvia a compra por R$ 2,7 bilhões da participação da Arapar, holding detentora de 28% da Aracruz.
VCP e Arainvest (esta controlada pelo grupo financeiro Safra) formariam uma nova companhia e promoveriam a fusão com as unidades de celulose do grupo Votorantim. A idéia era criar uma companhia com valor de R$ 30 bilhões e com sinergias de R$ 4,5 bilhões.
O cancelamento da operação, pelo menos por enquanto, gerou reações no mercado. As ações da VCP baixaram em 13,63% e os papéis da Aracruz recuaram 9,75% no pregão de ontem. As duas lideraram as baixas do Ibovespa.
José Luciano Duarte Penido, diretor-presidente da VCP, justificou a decisão dizendo que a crise internacional mudou completamente o cenário econômico, derrubou o valor dos ativos e expôs, no caso da Aracruz, uma perda financeira de R$ 1,95 bilhão com complexas operações cambiais.
"Houve mudança na relação de ativos provocada pela desvalorização das empresas no Brasil e também o efeito sobre a Aracruz com as operações de derivativos", afirmou. Penido reafirmou o interesse da VCP em fechar a operação, mas agora em outras bases financeiras.
"Temos tempo para reflexão até uma situação estável. Quando isso ocorrer, os acionistas voltam a sentar e vão analisar os novos valores ante as condições do momento", afirmou.
Em princípio, Penido deixou claro que a VCP não desistirá da operação, mas apenas adiará o negócio. Por isso, a multa de R$ 1 bilhão prevista em caso de desistência não deverá ser cobrada pela Arapar. Mas, mesmo assim, Penido falou sobre a multa: "Se houver alguma multa, esta não recairá sobre a VCP, mas sobre a Votorantim Industrial. Foi a holding que assinou o contrato com a Arapar", disse.
Segundo a Folha apurou, não há intenção de cobrar a multa. O negócio não foi cancelado, mas adiado até a solução da crise financeira da Aracruz.
A VCP anunciou ontem também que irá suspender no dia 29 a produção da unidade de Jacareí (SP) por sete dias. Com isso, quer reduzir a produção em 25 mil toneladas.
Penido disse que os estoques da VCP subiram com a suspensão das encomendas de indústrias na Europa, fruto da forte desaceleração na região.
É um problema que começa a se alastrar. Na última quarta-feira, a Suzano Papel e Celulose anunciou que vai parar na primeira semana de novembro a linha de produção da unidade de Mucuri (BA). Cerca de 30 mil toneladas de celulose deixarão de ser produzidas. No caso da Suzano, o problema foi constatado no mercado asiático, com mais força na China.
Assim como a Klabin, que anteontem anunciou prejuízo trimestral de R$ 253 milhões, a VCP fechou o terceiro trimestre com prejuízo de R$ 586 milhões, provocado principalmente pela desvalorização do real. Segundo Eduardo Kazuo Kondo, analista de papel e celulose da Corretora Concórdia, boa parte da dívida da companhia estava atrelada ao dólar.
Dos R$ 3,5 bilhões da dívida bruta, 89% estão vinculados ao dólar. "Foi um resultado natural. A empresa se endividou devido à construção de uma nova unidade industrial, a fábrica de Três Lagoas (MS). Como exportadora, pode se beneficiar a partir de agora com um dólar mais forte. Isso deve melhorar o resultado financeiro até o fim do ano", disse Kondo.


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