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Crise derruba fusão de VCP com Aracruz
Prejuízo bilionário na Aracruz, seca no mercado de crédito e sinais de recessão mundial fazem VCP suspender aquisição
VCP diz que negócio pode ser retomado, anuncia prejuízo de R$ 586 mi no
3º tri com pesadas perdas no câmbio e reduz produção
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A VCP (Votorantim Celulose
e Papel) anunciou ontem, em
teleconferência com analistas,
a suspensão definitiva da fusão
com a Aracruz. O fechamento
do negócio aconteceria no dia 6
de outubro, mas foi postergado
devido aos problemas financeiros da Aracruz gerados por uma
malsucedida operação financeira com derivativos cambiais,
pela crise de crédito do mercado internacional e pela redução
da demanda internacional por
celulose, efeito que já começa a
paralisar unidades no Brasil.
O setor de papel e celulose,
muito exportador, era um dos
que mais cresciam no país, mas
os grandes prejuízos no terceiro trimestre de três das maiores empresas do setor (VCP,
Aracruz e Klabin) mostram como a crise econômica global
pode afetar fortemente o país.
A operação de fusão das duas
companhias criaria a maior
produtora de celulose de eucalipto do mundo, com domínio
de 30% do mercado mundial.
Era um dos maiores negócios
do ano e envolvia a compra por
R$ 2,7 bilhões da participação
da Arapar, holding detentora
de 28% da Aracruz.
VCP e Arainvest (esta controlada pelo grupo financeiro
Safra) formariam uma nova
companhia e promoveriam a
fusão com as unidades de celulose do grupo Votorantim. A
idéia era criar uma companhia
com valor de R$ 30 bilhões e
com sinergias de R$ 4,5 bilhões.
O cancelamento da operação,
pelo menos por enquanto, gerou reações no mercado. As
ações da VCP baixaram em
13,63% e os papéis da Aracruz
recuaram 9,75% no pregão de
ontem. As duas lideraram as
baixas do Ibovespa.
José Luciano Duarte Penido,
diretor-presidente da VCP, justificou a decisão dizendo que a
crise internacional mudou
completamente o cenário econômico, derrubou o valor dos
ativos e expôs, no caso da Aracruz, uma perda financeira de
R$ 1,95 bilhão com complexas
operações cambiais.
"Houve mudança na relação
de ativos provocada pela desvalorização das empresas no Brasil e também o efeito sobre a
Aracruz com as operações de
derivativos", afirmou. Penido
reafirmou o interesse da VCP
em fechar a operação, mas agora em outras bases financeiras.
"Temos tempo para reflexão
até uma situação estável. Quando isso ocorrer, os acionistas
voltam a sentar e vão analisar
os novos valores ante as condições do momento", afirmou.
Em princípio, Penido deixou
claro que a VCP não desistirá
da operação, mas apenas adiará
o negócio. Por isso, a multa de
R$ 1 bilhão prevista em caso de
desistência não deverá ser cobrada pela Arapar. Mas, mesmo
assim, Penido falou sobre a
multa: "Se houver alguma multa, esta não recairá sobre a VCP,
mas sobre a Votorantim Industrial. Foi a holding que assinou
o contrato com a Arapar", disse.
Segundo a Folha apurou,
não há intenção de cobrar a
multa. O negócio não foi cancelado, mas adiado até a solução
da crise financeira da Aracruz.
A VCP anunciou ontem também que irá suspender no dia
29 a produção da unidade de
Jacareí (SP) por sete dias. Com
isso, quer reduzir a produção
em 25 mil toneladas.
Penido disse que os estoques
da VCP subiram com a suspensão das encomendas de indústrias na Europa, fruto da forte
desaceleração na região.
É um problema que começa
a se alastrar. Na última quarta-feira, a Suzano Papel e Celulose
anunciou que vai parar na primeira semana de novembro a
linha de produção da unidade
de Mucuri (BA). Cerca de 30
mil toneladas de celulose deixarão de ser produzidas. No caso da Suzano, o problema foi
constatado no mercado asiático, com mais força na China.
Assim como a Klabin, que
anteontem anunciou prejuízo
trimestral de R$ 253 milhões, a
VCP fechou o terceiro trimestre com prejuízo de R$ 586 milhões, provocado principalmente pela desvalorização do
real. Segundo Eduardo Kazuo
Kondo, analista de papel e celulose da Corretora Concórdia,
boa parte da dívida da companhia estava atrelada ao dólar.
Dos R$ 3,5 bilhões da dívida
bruta, 89% estão vinculados ao
dólar. "Foi um resultado natural. A empresa se endividou devido à construção de uma nova
unidade industrial, a fábrica de
Três Lagoas (MS). Como exportadora, pode se beneficiar a
partir de agora com um dólar
mais forte. Isso deve melhorar
o resultado financeiro até o fim
do ano", disse Kondo.
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