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BC leiloa dólar das reservas para financiar exportador
Henrique Meirelles afirma que o setor de crédito começa a voltar à normalidade
Nos leilões, os bancos darão como garantia papéis que mantêm no exterior, como títulos da dívida brasileira e também de outros países
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central começa, na
segunda-feira, a "irrigar" com
dólares das reservas cambiais
os bancos que financiam o comércio exterior brasileiro, setor mais afetado pela falta de
crédito. Para isso, o BC vai fazer
uma série de leilões de dólares,
em que os bancos darão como
garantia ativos que mantêm no
exterior, como títulos da dívida
brasileira ou de países com baixo risco de calote.
Segundo o presidente do BC,
Henrique Meirelles, os dólares
deverão ir direto para o financiamento aos exportadores.
Meirelles disse que não há limite para concessão, já que a demanda é inferior aos recursos
que o BC possui. "Essa é uma
medida possível porque o Brasil tem reservas suficientes.
Pretendemos fazer os leilões na
medida do necessário. O BC
tem acesso aos dados de liberação [aos exportadores], então
sabe quem estará cumprindo o
acordo ou não", disse.
O anúncio do leilão foi feito
depois de uma longa reunião,
na véspera, do presidente e de
diretores do BC com o ministro
Guido Mantega (Fazenda) e
técnicos do ministério. O BC
era contra a realização de leilões direcionados para o comércio exterior. Apesar de esse
instrumento já ter sido usado
na crise de 2002, a avaliação
dos diretores do BC era que
"havia mecanismos mais eficientes". Hoje, o país tem US$
204 bilhões em reservas.
Além dos títulos emitidos pelos governos de outros países,
também serão aceitos como garantia os contratos de ACE
(Adiamento sobre Cambiais
Entregues) e ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), mecanismos usados para
financiar o comércio exterior.
O limite de recursos, os prazos de pagamento e as garantias serão definidas antes de cada leilão. Na segunda, serão
oferecidos US$ 2 bilhões aos
bancos. A remuneração do crédito será com base na Libor (juro interbancário internacional)
e um "spread" (custo adicional)
que será definido no leilão.
Apesar de o BC ter tomado a
medida para gerar liquidez em
dólar, Meirelles relatou que a
falta de dinheiro em circulação
no setor já está menos grave.
"Já está voltando ao normal,
especialmente nos bancos oficiais", disse Meirelles. Segundo
ele, o Banco do Brasil informou
que até o final deste mês o fluxo
já estará normalizado.
Sobre a normalização de outras linhas de financiamento,
Meirelles disse que a liberação
dos recursos dos empréstimos
compulsórios já causa algum
efeito. "Temos notado uma diminuição sensível na pressão
sobre os bancos menores."
Com a crise financeira, o
acesso de bancos e empresas
brasileiras a linhas de crédito
internacionais sofreu uma forte redução. O problema foi
mais grave entre os exportadores, que usam créditos que têm
a receber em dólar para obter
financiamentos para produzir.
Além disso, muitas empresas
que passaram a ter dificuldade
em captar no exterior passaram a buscar financiamentos
no mercado doméstico, e a
maior procura por reais também deixou os bancos com dificuldades em atender toda a demanda pela moeda nacional.
Para os exportadores, a expectativa é que a medida do BC
resolva a escassez de crédito
das empresas. Mas há o receio
de que o custo do financiamento fique mais alto. "Temos de
ver qual será o juro final cobrado pelos bancos", disse o vice-presidente da AEB (Associação
de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro. Segundo ele, um acréscimo de
US$ 15 bilhões no volume de
crédito seria "suficiente" para
desafogar o setor exportador.
Segundo o consultor do Iedi
(Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial)
Julio Gomes de Almeida, o custo dos financiamentos deverá
ser maior. "No primeiro momento, o mais importante é haver disponibilidade de dinheiro. Mas o problema do custo terá de ser ajustado", diz.
Para Almeida, embora acertada, a decisão do Banco Central foi tardia. "Isso devia ter sido feito há um mês", afirma.
Colaborou a Folha Online
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