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REUNIÃO DE MIAMI
Documento empresarial diz que negociação chegou a encruzilhada e defende retomada de "objetivos originais"
Empresário de Brasil e EUA pede Alca ampla
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
Perplexos com a mudança de
rumo nas negociações da Alca, os
empresários do Brasil e dos Estados Unidos lançaram documento
conjunto no qual defendem "os
objetivos originais", ou seja,
"manter ampla agenda temática
sobre a mesa", em vez de aceitar a
Alca desidratada que os governos
dos dois países estão propondo.
Mas o documento empresarial,
certamente por influência do lado
brasileiro, recomenda "pragmatismo" na busca de "consenso em
áreas sensíveis".
Os empresários dos dois lados
reconhecem, de todo modo, que o
processo Alca chegou a uma "encruzilhada", o que torna necessário "reestruturar o formato das
negociações, de forma a mitigar
dificuldades e obstáculos que prejudicaram as negociações hemisféricas nos anos mais recentes".
O texto reflete, de alguma forma, o "estado de choque" em que
os empresários ficaram, na expressão de Gilman Viana Rodrigues, representante da Confederação Nacional da Agricultura,
durante encontro anteontem à
noite com a delegação brasileira.
O "estado de choque", admitido
por outros empresários brasileiros, mas com linguagem menos
dramática, deve-se ao fato de que
todos eles trabalhavam, até 10 dias
atrás, com uma visão abrangente
da Alca e com a perspectiva de
uma colisão frontal em Miami,
entre Brasil e Estados Unidos.
Desembarcaram na sempre ensolarada cidade da Flórida, para o
Fórum Empresarial das Américas, com um acordo aparentemente firme entre Brasil e Estados
Unidos em torno de uma Alca expurgada de quase todos os temas
que não sejam comércio de bens
propriamente dito.
Visões divergentes
A perplexidade ajuda a entender a diversidade de opiniões entre os membros da Coalizão Empresarial Brasileira, o guarda-chuva que reúne representantes
dos mais diferentes setores de negócios nas rodadas comerciais regionais ou globais.
Viana Rodrigues reclama, por
exemplo, que o governo brasileiro
"aceitou não discutir o apoio interno aos agricultores norte-americanos, o que é ruim para o Brasil, mas não aceitou discutir investimentos, o que também é ruim
para o Brasil, que precisa do investimento externo".
O representante da CNA admite
que a proposta norte-americana
na área de investimentos é ruim
(tira toda a possibilidade de políticas autônomas de regulação ou
direcionamento do capital externo). Mas, acrescenta: "A gente
não precisa aceitar um mau acordo. Se a regra para investimentos
do Nafta é ruim, deveríamos usar
esse exemplo para corrigir os erros e fazer um acordo melhor".
Nafta é o Acordo de Livre Comércio da América do Norte
(EUA, Canadá e México), que, de
fato, prevê liberdade irrestrita para o movimento de capitais.
Concorda, em parte, Guilherme
Duque Estrada de Moraes (Abiquim, Associação Brasileira da Indústria Química): "O governo
aceitou tirar da negociação temas
que poderiam ajudar, pela barganha, no capítulo de acesso a mercado nos Estados Unidos".
Mas Humberto Barbato (vice-presidente da Abinee, Associação
Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica) toma o rumo oposto:
"As assimetrias entre as economias da Alca são tamanhas que só
se pode mesmo buscar uma Alca
possível. É positiva a nova visão
que foi dada a ela no documento
conjunto".
Pragmático, Pedro de Camargo
Netto, com larguíssima experiência em negociações na área agrícola, como empresário ou como
alto funcionário da Agricultura
no governo anterior, acha que
"empurrar com a barriga" era
mesmo o que se tinha que fazer,
dada a dificuldade da negociação.
Para ele, o documento conjunto
Brasil-EUA apenas mantém a negociação em "respiração assistida", à espera de novo momento.
A perplexidade dos empresários se deve também ao fato de
que o trabalho deles se torna a rigor inútil ou superado. Os documentos do Fórum Empresarial vinham sendo trabalhados há meses, com base na visão de Alca
abrangente.
Não haverá tempo, nos três dias
de reuniões em Miami, para
adaptá-los à nova visão, até porque Duque Estrada (Abiquim) diz
que, pelo relato da própria delegação oficial aos empresários no domingo à noite, "as coisas não estão ainda definitivamente resolvidas".
Não chega a ser novidade, lembra: quando o documentos dos
encontros empresariais são entregues aos ministros (o que, em
Miami, acontecerá amanhã) os vice-ministros já terminaram de
elaborar a Declaração Ministerial.
É o que ocorrerá de novo em Miami, salvo um impasse total, que,
de todo modo, anularia o documento empresarial.
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