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COMÉRCIO EXTERIOR
Estudo indica que desvalorização cambial não é a única causa do incremento das vendas brasileiras
Preços, Argentina e China impulsionam exportações
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de importante, a desvalorização cambial não é a única
causa do aumento das exportações brasileiras. Alta dos preços
internacionais, recuperação da
Argentina e retomada da demanda mundial também contribuíram para o aumento de 21% no
valor das vendas externas entre
janeiro e setembro deste ano em
relação a igual período de 2002.
Um estudo que está sendo feito
pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial)
revela, por exemplo, que, dos US$
9,27 bilhões de acréscimo no valor
das exportações, entre janeiro e
setembro deste ano, US$ 1,26 bilhão é consequência da alta dos
preços de commodities e produtos semimanufaturados no mercado externo.
Ou seja, sozinha a elevação média de 4,1% dos preços externos
-segundo dados da Funcex
(Fundação Centro de Estudos de
Comércio Exterior)- foi responsável por 13,6% do aumento das
exportações, que chegaram a US$
52,8 bilhões no período.
"Sem dúvida, o câmbio teve papel fundamental no aumento das
exportações, mas outros fatores,
como a recuperação dos preços
internacionais, também contribuíram muito", diz Júlio Gomes
de Almeida, diretor do Iedi.
A elevação dos preços internacionais está ligada, parcialmente,
ao baixo nível de juros nos países
desenvolvidos, que estimula os
agricultores a investir em estoques. Outros fatores que têm contribuído para a alta de preços são
a forte demanda da China, a desvalorização do dólar -que tem o
efeito de encarecer produtos europeus e asiáticos- e os problemas com a safra de soja nos EUA.
A alta dos preços internacionais
em 2003 não compensa, no entanto, o resultado do movimento
inverso de queda geral dos preços
externos que, entre 1998 e 2002,
trouxe ao país perdas de US$ 14,6
bilhões no valor das exportações.
Para Almeida, o forte protecionismo comercial -associado à
crise econômica global e ao ciclo
de preços das commodities-
contribuiu para os baixos preços
dos últimos anos.
Novos mercados
Vendas de produtos para novos
parceiros comerciais, como China, Taiwan, Irã, Turquia e África
do Sul, também contribuíram para nada menos que 26,8% do aumento total das exportações nos
primeiros nove meses deste ano
em relação ao mesmo período em
2002, segundo dados do Iedi.
Além disso, a recuperação da
Argentina fez com que as vendas
brasileiras para o país vizinho respondessem por 13,9% do aumento total das exportações.
Esses cálculos descontam a variação dos preços internacionais
do total vendido para esses países.
Segundo Almeida, o câmbio
num patamar mais desvalorizado
tem contribuído para a conquista
desses mercados. Mas, segundo
ele, não se pode descartar o efeito
da estratégia comercial do governo e de empresas nesses casos.
A importância de acordos comerciais também tem sido fundamental para o país. Um exemplo é
o acordo automotivo com o México: as vendas de veículos produzidos no Brasil para o país representaram até setembro deste ano
3,3% das exportações totais.
Outra causa importante do aumento das exportações brasileiras
neste ano é o início de recuperação da demanda externa, derrubada nos últimos anos pela crise
econômica internacional.
Segundo Júlio Callegari, economista da consultoria Tendências,
estudos comprovam que as exportações reagem com mais facilidade a um aumento de demanda
mundial do que a uma desvalorização cambial.
Um índice calculado pela Tendências pondera o PIB (Produto
Interno Bruto) de importantes
parceiros comerciais do Brasil pela demanda deles pelos produtos
brasileiros manufaturados. O resultado é um índice que mede a
intensidade dessa procura.
Em 2002, indicava retração de
0,4% do apetite por produtos manufaturados brasileiros. Neste
ano, aponta alta de 2,6%. E, pelas
estimativas de Callegari, deverá
mostrar alta de 4% em 2004.
(ÉRICA FRAGA)
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