UOL


São Paulo, terça-feira, 18 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMÉRCIO EXTERIOR

Estudo indica que desvalorização cambial não é a única causa do incremento das vendas brasileiras

Preços, Argentina e China impulsionam exportações

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de importante, a desvalorização cambial não é a única causa do aumento das exportações brasileiras. Alta dos preços internacionais, recuperação da Argentina e retomada da demanda mundial também contribuíram para o aumento de 21% no valor das vendas externas entre janeiro e setembro deste ano em relação a igual período de 2002.
Um estudo que está sendo feito pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) revela, por exemplo, que, dos US$ 9,27 bilhões de acréscimo no valor das exportações, entre janeiro e setembro deste ano, US$ 1,26 bilhão é consequência da alta dos preços de commodities e produtos semimanufaturados no mercado externo.
Ou seja, sozinha a elevação média de 4,1% dos preços externos -segundo dados da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior)- foi responsável por 13,6% do aumento das exportações, que chegaram a US$ 52,8 bilhões no período.
"Sem dúvida, o câmbio teve papel fundamental no aumento das exportações, mas outros fatores, como a recuperação dos preços internacionais, também contribuíram muito", diz Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi.
A elevação dos preços internacionais está ligada, parcialmente, ao baixo nível de juros nos países desenvolvidos, que estimula os agricultores a investir em estoques. Outros fatores que têm contribuído para a alta de preços são a forte demanda da China, a desvalorização do dólar -que tem o efeito de encarecer produtos europeus e asiáticos- e os problemas com a safra de soja nos EUA.
A alta dos preços internacionais em 2003 não compensa, no entanto, o resultado do movimento inverso de queda geral dos preços externos que, entre 1998 e 2002, trouxe ao país perdas de US$ 14,6 bilhões no valor das exportações.
Para Almeida, o forte protecionismo comercial -associado à crise econômica global e ao ciclo de preços das commodities- contribuiu para os baixos preços dos últimos anos.

Novos mercados
Vendas de produtos para novos parceiros comerciais, como China, Taiwan, Irã, Turquia e África do Sul, também contribuíram para nada menos que 26,8% do aumento total das exportações nos primeiros nove meses deste ano em relação ao mesmo período em 2002, segundo dados do Iedi.
Além disso, a recuperação da Argentina fez com que as vendas brasileiras para o país vizinho respondessem por 13,9% do aumento total das exportações.
Esses cálculos descontam a variação dos preços internacionais do total vendido para esses países.
Segundo Almeida, o câmbio num patamar mais desvalorizado tem contribuído para a conquista desses mercados. Mas, segundo ele, não se pode descartar o efeito da estratégia comercial do governo e de empresas nesses casos.
A importância de acordos comerciais também tem sido fundamental para o país. Um exemplo é o acordo automotivo com o México: as vendas de veículos produzidos no Brasil para o país representaram até setembro deste ano 3,3% das exportações totais.
Outra causa importante do aumento das exportações brasileiras neste ano é o início de recuperação da demanda externa, derrubada nos últimos anos pela crise econômica internacional.
Segundo Júlio Callegari, economista da consultoria Tendências, estudos comprovam que as exportações reagem com mais facilidade a um aumento de demanda mundial do que a uma desvalorização cambial.
Um índice calculado pela Tendências pondera o PIB (Produto Interno Bruto) de importantes parceiros comerciais do Brasil pela demanda deles pelos produtos brasileiros manufaturados. O resultado é um índice que mede a intensidade dessa procura.
Em 2002, indicava retração de 0,4% do apetite por produtos manufaturados brasileiros. Neste ano, aponta alta de 2,6%. E, pelas estimativas de Callegari, deverá mostrar alta de 4% em 2004.
(ÉRICA FRAGA)


Texto Anterior: País rejeita "retaliação" na negociação
Próximo Texto: Dólar a R$ 3,00 ajuda vendas, afirma Furlan
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.