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País rejeita "retaliação" na negociação
DO ENVIADO ESPECIAL A MIAMI
A delegação brasileira avisou
ontem, em entrevista coletiva,
que não aceita "retaliação" nas
negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), em
referência à hipótese de que seja
introduzido na declaração final
da reunião ministerial de Miami o
conceito de que os países que
mais compromissos assumirem
receberão maiores benefícios de
seus parceiros.
Por enquanto, essa idéia não está no esboço de texto final, elaborado pelos co-presidentes, os embaixadores Adhemar Bahadian
(Brasil) e Peter Allgeier (EUA), a
não ser de uma forma muito diluída, quase imperceptível.
O parágrafo 5 do esboço manifesta a esperança de que "surgirá
o equilíbrio apropriado de direitos e obrigações que permita que
os países colham os benefícios de
seus respectivos compromissos".
Serve, como se vê, para qualquer tipo de interpretação. É por
isso que países como México e
Canadá, que já assumiram no
Nafta, o acordo de livre comércio
com os EUA, os compromissos
que Washington quer estender à
Alca, exigem que haja uma explicitação de que, para maiores compromissos, maiores benefícios.
Traduzindo: como o Brasil não
quer assumir compromissos em
temas como investimentos, serviços, compras governamentais,
não deve ter o mesmo acesso ao
mercado norte-americano a ser
dado a parceiros de boa vontade.
Ontem, em duas entrevistas separadas, delegados do Brasil e dos
Estados Unidos trataram do tema. O norte-americano Ross Wilson, negociador-chefe para a Alca, listou a correlação compromissos/benefícios como uma das
sete prioridades dos EUA, lembrando que a regra é tradicional e
óbvia em acordos comerciais.
Três horas depois, o negociador-chefe do Brasil, Luiz Filipe de
Macedo Soares acrescentou:
"Quem não assume compromissos em uma negociação pode perder os benefícios daquela negociação, mas não pode ser penalizado em outra negociação".
Disse mais: "Se permitirmos essa retaliação, a área de livre comércio correria o risco de passar a
ser o palco de uma guerra econômica". Traduzindo, de novo: o
Brasil entende que acesso a mercados (derrubar tarifas de importação) é uma negociação, na qual
cada país ganha um prêmio correspondente à abertura que fizer.
Mas investimentos, por exemplo,
é outra negociação. Um país que
não quiser fazer acordo sobre investimentos poderia ser punido
no âmbito dos investimentos,
mas não no de acesso a mercados.
Se prevalecer o esboço de declaração elaborado por Brasil e EUA,
será só acesso a mercados (de
bens e, com limitações, de serviços) o que de se negociará na Alca.
Até ontem, terceiro e penúltimo
dia da reunião de vice-ministros,
o entendimento entre os dois co-presidentes manteve-se sólido.
"Não há nenhum vislumbre de
rachadura" (entre Brasil e EUA),
diz Bahadian. É possível que a ausência de rachaduras se deva, ao
menos parcialmente, ao fato de
que as discussões, até a tarde de
ontem, estiveram centradas em
temas pouco ou nada polêmicos.
Não retornaram à discussão as
objeções de México, Canadá e
Chile ao documento Brasil/EUA.
São duas, além da tese de que só
tem benefícios quem faz concessões: limitar no tempo a possibilidade de que cada país opte pelos
acordos que quiser e só permitir
tal opção aos países mais pobres.
(CLÓVIS ROSSI)
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