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CONTA SALGADA
Queda nos juros faz instituições ganharem menos com títulos públicos; serviços, em compensação, ficam mais caros
Aumenta a receita de bancos com tarifas
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os balanços do terceiro trimestre indicam que começa a ocorrer
uma mudança no perfil dos resultados do sistema financeiro. Enquanto o peso dos tradicionais
ganhos dos bancos com títulos
públicos caiu de 37,7% para
32,1% da receita total, a fatia referente às suas receitas com serviços
saltou de 10,8% para 17,4%.
Os dados, referentes aos primeiros nove meses do ano em comparação com igual período do ano
passado, refletem a média dos resultados de seis bancos que detêm
53,7% dos ativos do sistema financeiro. As informações são da
consultoria Austin Asis.
Segundo analistas, o movimento de queda de juros iniciado em
junho deste ano já passou a ter reflexo sobre o lucro dos bancos no
terceiro trimestre. Desde então, as
taxas caíram de 26,5% anuais para 19% ao ano e a tendência é que
continuem se reduzindo, ainda
que em ritmo menor.
"A redução dos ganhos com títulos tem levado os bancos a uma
busca por ganhos maiores com as
receitas dos serviços", diz Erivelto
Rodrigues, sócio da Austin Asis.
Segundo João Augusto Salles,
analista do setor bancário da consultoria Lopes Filho, neste ano, os
bancos têm conseguido aumentar
seus ganhos com serviços de duas
formas principais. Uma delas é
via ampliação da base de clientes:
"Todos os processos de fusão e
compras de bancos resultam em
crescimento da base de clientes e,
portanto, na ampliação dos ganhos de escala", afirma Salles.
A outra é por meio do aumento
do número de serviços tarifados.
Essa é uma forma de compensar a
provável queda no valor das taxas
cobradas em consequência, justamente, da briga pela conquista de
novos clientes.
"As tarifas bancárias ainda são
muito altas no Brasil. Sinal disso é
que os bancos têm feito muita
propaganda sobre redução de juros, mas não falam de tarifas. Mas
a concorrência maior por clientes
deverá levar à redução dessas tarifas também", diz Alberto Borges
Matías, sócio da ABM Consulting.
Na verdade, em termos reais, isso já vem ocorrendo. Entre novembro do ano passado e outubro
deste ano, os preços dos serviços
bancários subiram 11,53%, pouco
abaixo da inflação do período, de
12,3%, segundo o IPC (Índice de
Preços ao Consumidor) da Fipe.
A pequena redução, no entanto,
está longe de abalar os ganhos
acumulados pelos reajustes dos
últimos anos. Dados da Fipe mostram que, entre janeiro de 2000 e
outubro de 2003, as tarifas dos
serviços cobrados pelas instituições financeiras subiram 48,12%,
bem acima da inflação de 32,04%.
Por outro lado, assim como Salles, outros especialistas enxergam espaço para o crescimento
das receitas com cobranças por
serviços que, hoje, são gratuitos.
Rodrigues, da Austin Asis, cita os
serviços via internet. "Hoje, muitos desses serviços não são cobrados. Isso tende a mudar."
Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação
Brasileira dos Bancos), concorda.
"Hoje, há a existência dos chamados subsídios cruzados pelos
quais um banco cobra caro por
determinado serviço. Mas, em
compensação, não cobra nada
por outros. A tendência é que as
tarifas caiam, mas que mais serviços sejam cobrados", diz.
No entanto, ressalta Troster, a
grande contribuição para os resultados dos bancos nos próximos anos deverá vir da receita
com crédito. Entre janeiro e setembro deste ano em relação ao
mesmo período de 2002, essas receitas caíram 24,8%, segundo o levantamento da Austin Asis. Já os
ganhos com serviços cresceram
18,3% e os resultados com títulos
públicos despencaram 37,4%.
Mas a queda da receita com crédito é explicada basicamente por
um efeito contábil. Como algumas linhas de financiamento são
em dólares, a valorização do real
fez com que essa fatia da carteira
perdesse valor.
Nos próximos anos, a expectativa é que os bancos ofereçam mais
crédito para compensar a redução
dos lucros com títulos públicos.
Para 2004, a Febraban prevê aumento de 15,3% do total de crédito ofertado no país.
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