São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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"Novo" Ipea deve acirrar ataque a juros altos no país

Diretores indicados por Pochmann criticam política monetária do Banco Central

João Sicsú, que substituiu Paulo Levy em diretoria, afirma que juro alto é o responsável pela valorização do real diante do dólar

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As mudanças promovidas pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, desde a sua posse, em agosto, reforçam o discurso contra a política de juros altos do Banco Central e deverão acirrar o debate interno sobre o tema -dando munição ao ministro Guido Mantega (Fazenda).
A Folha publicou que quatro pesquisadores considerados não-alinhados ao pensamento econômico do governo foram afastados do Ipea na semana passada. Pochmann diz que eles foram afastados por questões administrativas.
A posição dos novos diretores que ocupam cargos estratégicos no instituto fica clara em artigos publicados e debates dos quais participaram.
João Sicsú -que substituiu Paulo Levy em setembro, na diretoria considerada mais importante, a de Estudos Macroeconômicos-, em artigo publicado no ano passado, não só considera a elevada taxa de juros a responsável pela valorização do real ante o dólar como prega uma política cambial para manter o real desvalorizado.
Para ele, "isso, sim, deveria ser a proposta abraçada pela Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] e a CNI [Confederação Nacional da Indústria], ou seja, que o governo incorporasse novamente ao vocabulário oficial o termo política cambial". As teses vão contra a posição do presidente do BC, Henrique Meirelles.
Liana Carleial, professora da Universidade Federal do Paraná, nomeada para a Diretoria de Estudos Regionais no lugar de José Aroudo Mota, destacou o gargalo que a taxa de juros representa para a economia num debate sobre política industrial em Fortaleza, no ano passado.
Para ela, a política industrial, ou qualquer outra microeconômica, deve ser pensada em conjunto com a política macroeconômica do país. "Nesse sentido, existe um nó górdio aí para ser rompido na perspectiva, por exemplo, de as taxas de juros serem mais acessíveis."
As insatisfações dos novos diretores com a política de juros do BC seguem a mesma linha de Pochmann e de boa parte da área econômica do governo. Apesar de crítico da atuação do BC na área monetária, Mantega tem evitado polemizar publicamente, sobretudo depois de ter sido repreendido pelo próprio presidente Lula.
Com as mudanças no Ipea, Mantega, além de ter no governo economistas com o pensamento mais próximo do seu, também se livrou de um desafeto. Segundo pessoas próximas, o ministro tinha rixa com Fabio Giambiagi -um dos pesquisadores afastados- por causa de um embate público sobre perspectivas econômicas. Na ocasião, antes de Mantega assumir o comando da Fazenda, Giambiagi teria rebatido "de forma nada elegante".
Para o lugar de Giambiagi, um dos nomes cotados é o de Miguel Bruno, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. No caso dos três outros pesquisadores afastados -Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli-, segundo a Folha apurou, não há a obrigação de preenchimento das vagas, já que eles não tinham cargo de coordenação.
Na área fiscal, Sicsú defende uma política de gastos públicos que gere crescimento da economia ao estimular o gasto da população mais pobre.
""Pobres" gastam o que recebem e geram emprego e renda. "Ricos", já que têm o seu consumo satisfeito, poupam o que ganham a mais, não geram emprego nem renda. Essa deve ser a arte da política fiscal de gastos que não aumenta gastos: transferir o gasto público que representava renda daqueles que têm baixa propensão a gastar para aqueles que têm alta propensão a gastar". Segundo ele, "não é um problema social, mas fundamentalmente uma questão macroeconômica".
O aumento das despesas públicas tem sido uma das preocupações do BC na condução dos juros. Os impulsos fiscais se somam a um mercado de crédito ao consumo aquecido e podem pressionar a inflação em 2008. Pressões inflacionárias numa economia em crescimento podem exigir aperto nos juros por parte do BC.


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