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"Novo" Ipea deve acirrar ataque a juros altos no país
Diretores indicados por Pochmann criticam política monetária do Banco Central
João Sicsú, que substituiu
Paulo Levy em diretoria,
afirma que juro alto é o
responsável pela valorização
do real diante do dólar
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As mudanças promovidas
pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), Marcio Pochmann,
desde a sua posse, em agosto,
reforçam o discurso contra a
política de juros altos do Banco
Central e deverão acirrar o debate interno sobre o tema
-dando munição ao ministro
Guido Mantega (Fazenda).
A Folha publicou que quatro
pesquisadores considerados
não-alinhados ao pensamento
econômico do governo foram
afastados do Ipea na semana
passada. Pochmann diz que
eles foram afastados por questões administrativas.
A posição dos novos diretores que ocupam cargos estratégicos no instituto fica clara em
artigos publicados e debates
dos quais participaram.
João Sicsú -que substituiu
Paulo Levy em setembro, na diretoria considerada mais importante, a de Estudos Macroeconômicos-, em artigo publicado no ano passado, não só
considera a elevada taxa de juros a responsável pela valorização do real ante o dólar como
prega uma política cambial para manter o real desvalorizado.
Para ele, "isso, sim, deveria
ser a proposta abraçada pela
Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] e
a CNI [Confederação Nacional
da Indústria], ou seja, que o governo incorporasse novamente
ao vocabulário oficial o termo
política cambial". As teses vão
contra a posição do presidente
do BC, Henrique Meirelles.
Liana Carleial, professora da
Universidade Federal do Paraná, nomeada para a Diretoria
de Estudos Regionais no lugar
de José Aroudo Mota, destacou
o gargalo que a taxa de juros representa para a economia num
debate sobre política industrial
em Fortaleza, no ano passado.
Para ela, a política industrial,
ou qualquer outra microeconômica, deve ser pensada em conjunto com a política macroeconômica do país. "Nesse sentido,
existe um nó górdio aí para ser
rompido na perspectiva, por
exemplo, de as taxas de juros
serem mais acessíveis."
As insatisfações dos novos
diretores com a política de juros do BC seguem a mesma linha de Pochmann e de boa parte da área econômica do governo. Apesar de crítico da atuação do BC na área monetária,
Mantega tem evitado polemizar publicamente, sobretudo
depois de ter sido repreendido
pelo próprio presidente Lula.
Com as mudanças no Ipea,
Mantega, além de ter no governo economistas com o pensamento mais próximo do seu,
também se livrou de um desafeto. Segundo pessoas próximas, o ministro tinha rixa com
Fabio Giambiagi -um dos pesquisadores afastados- por
causa de um embate público
sobre perspectivas econômicas. Na ocasião, antes de Mantega assumir o comando da Fazenda, Giambiagi teria rebatido "de forma nada elegante".
Para o lugar de Giambiagi,
um dos nomes cotados é o de
Miguel Bruno, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas
do IBGE. No caso dos três outros pesquisadores afastados
-Otávio Tourinho, Gervásio
Rezende e Regis Bonelli-, segundo a Folha apurou, não há
a obrigação de preenchimento
das vagas, já que eles não tinham cargo de coordenação.
Na área fiscal, Sicsú defende
uma política de gastos públicos
que gere crescimento da economia ao estimular o gasto da
população mais pobre.
""Pobres" gastam o que recebem e geram emprego e renda.
"Ricos", já que têm o seu consumo satisfeito, poupam o que
ganham a mais, não geram emprego nem renda. Essa deve ser
a arte da política fiscal de gastos que não aumenta gastos:
transferir o gasto público que
representava renda daqueles
que têm baixa propensão a gastar para aqueles que têm alta
propensão a gastar". Segundo
ele, "não é um problema social,
mas fundamentalmente uma
questão macroeconômica".
O aumento das despesas públicas tem sido uma das preocupações do BC na condução
dos juros. Os impulsos fiscais
se somam a um mercado de
crédito ao consumo aquecido e
podem pressionar a inflação
em 2008. Pressões inflacionárias numa economia em crescimento podem exigir aperto nos
juros por parte do BC.
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