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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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FRAUDES DO CAPITAL

Operações no Brasil foram utilizadas por corporações americanas para maquiar e fraudar balanços

Escândalo nos EUA tem "conexão brasileira"

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Alguns dos maiores escândalos corporativos que abalaram a economia americana em 2002 envolveram o uso de ativos e atividades no Brasil na maquiagem de balanços, geração de lucros fictícios e omissão de prejuízos.
Xerox, Adelphia, Millennium Financial, Max Internet e Enron são algumas das companhias flagradas pela SEC (Securities and Exchange Commission, fiscal dos mercados nos EUA) cometendo, em seus balanços americanos, irregularidades diretamente relacionadas com suas operações e bens brasileiros.
As irregularidades estão expostas em ações judiciais e administrativas movidas desde 2001 pela SEC contra as companhias e seus executivos. Os papéis mostram fraudes que vão desde o fornecimento fictício de equipamentos ao governo brasileiro à invenção de "assinantes fantasmas" de TV a cabo no país.
Pioneira da indústria de comunicações a cabo nos EUA, a Adelphia Communications inventou durante dois anos a existência de 15 mil assinantes de TV a cabo no Brasil, valendo-se de contratos de parceria com empresas brasileiras que nunca saíram do papel.
"Esses assinantes brasileiros foram incluídos no balanço somente para que a Adelphia conseguisse registrar crescimentos permanentes em suas operações, capazes de compensar os prejuízos que estava registrando", diz a SEC no texto da ação movida contra o fundador da companhia, John Rigas, e seus filhos Timothy e Michael -que também ocuparam altos cargos na Adelphia. Rigas, que criou a Adelphia em 1952 com um cheque de US$ 300, foi preso com os filhos, em julho de 2002, depois de criar um buraco de US$ 7 bilhões na companhia.
Além da invenção dos fantasmas brasileiros, pesa contra os três o uso indevido de fundos da companhia para empréstimos pessoais, safáris na África e a construção de um campo de golfe de US$ 13 milhões.
Em junho de 2002 a Xerox, maior fabricante de copiadoras do mundo, admitiu rever receitas globais de US$ 2 bilhões depois de uma investigação da SEC. Entre as irregularidades encontradas, US$ 757 milhões referiam-se a atividades de sua unidade no Brasil. Segundo a SEC, a Xerox contabilizou, nos balanços de 1997 a 2000, valores maiores que os efetivamente cobrados de seus consumidores no Brasil e custos financeiros inferiores aos de mercado.
A "conexão brasileira" das fraudes contábeis envolveu também vedetes da bolha tecnológica americana, como a Max Internet Communications, fornecedora de equipamentos, e a Millennium Financial, companhia especializada em lançar ações de novas empresas de tecnologia no mercado.
A Max forjou a venda de equipamentos para o governo e para empresas brasileiras para inflar seu faturamento. Os equipamentos, avaliados em US$ 8 milhões, chegaram a ser enviados a uma subsidiária da empresa no Brasil, onde ficaram estocados. A Millennium Financial mentiu para a Bolsa que operava no Brasil por meio de um escritório no prédio do World Trade Center de São Paulo. Segundo a SEC, a empresa mentiu para forjar "experiência internacional".
O uso de ativos brasileiros em fraudes contábeis americanas começou com a Enron, companhia do setor de energia que quebrou depois de acumular patrimônio de US$ 67 bilhões. Para esconder prejuízos e catapultar seus lucros, a Enron vendeu e recomprou, de forma fictícia, o controle da EPE (Empresa Produtora de Energia) Cuiabá, usina termelétrica privatizada em 1997 que gera energia para Furnas. A operação foi feita com uma empresa chamada LJM, presidida pelo próprio diretor financeiro da Enron, Andrew Fastow, processado criminalmente nos EUA. O negócio, de US$ 11,3 milhões, permitiu à Enron desvencilhar-se do projeto e contabilizar receitas indevidas de US$ 85 milhões no país entre 1999 e 2001.


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