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FRAUDES DO CAPITAL
Operações no Brasil foram utilizadas por corporações americanas para maquiar e fraudar balanços
Escândalo nos EUA tem "conexão brasileira"
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Alguns dos maiores escândalos
corporativos que abalaram a economia americana em 2002 envolveram o uso de ativos e atividades
no Brasil na maquiagem de balanços, geração de lucros fictícios e
omissão de prejuízos.
Xerox, Adelphia, Millennium
Financial, Max Internet e Enron
são algumas das companhias flagradas pela SEC (Securities and
Exchange Commission, fiscal dos
mercados nos EUA) cometendo,
em seus balanços americanos, irregularidades diretamente relacionadas com suas operações e
bens brasileiros.
As irregularidades estão expostas em ações judiciais e administrativas movidas desde 2001 pela
SEC contra as companhias e seus
executivos. Os papéis mostram
fraudes que vão desde o fornecimento fictício de equipamentos
ao governo brasileiro à invenção
de "assinantes fantasmas" de TV
a cabo no país.
Pioneira da indústria de comunicações a cabo nos EUA, a Adelphia Communications inventou
durante dois anos a existência de
15 mil assinantes de TV a cabo no
Brasil, valendo-se de contratos de
parceria com empresas brasileiras
que nunca saíram do papel.
"Esses assinantes brasileiros foram incluídos no balanço somente para que a Adelphia conseguisse registrar crescimentos permanentes em suas operações, capazes de compensar os prejuízos
que estava registrando", diz a SEC
no texto da ação movida contra o
fundador da companhia, John Rigas, e seus filhos Timothy e Michael -que também ocuparam
altos cargos na Adelphia. Rigas,
que criou a Adelphia em 1952
com um cheque de US$ 300, foi
preso com os filhos, em julho de
2002, depois de criar um buraco
de US$ 7 bilhões na companhia.
Além da invenção dos fantasmas brasileiros, pesa contra os
três o uso indevido de fundos da
companhia para empréstimos
pessoais, safáris na África e a
construção de um campo de golfe
de US$ 13 milhões.
Em junho de 2002 a Xerox,
maior fabricante de copiadoras
do mundo, admitiu rever receitas
globais de US$ 2 bilhões depois de
uma investigação da SEC. Entre as
irregularidades encontradas,
US$ 757 milhões referiam-se a atividades de sua unidade no Brasil.
Segundo a SEC, a Xerox contabilizou, nos balanços de 1997 a 2000,
valores maiores que os efetivamente cobrados de seus consumidores no Brasil e custos financeiros inferiores aos de mercado.
A "conexão brasileira" das fraudes contábeis envolveu também
vedetes da bolha tecnológica
americana, como a Max Internet
Communications, fornecedora de
equipamentos, e a Millennium Financial, companhia especializada
em lançar ações de novas empresas de tecnologia no mercado.
A Max forjou a venda de equipamentos para o governo e para
empresas brasileiras para inflar
seu faturamento. Os equipamentos, avaliados em US$ 8 milhões,
chegaram a ser enviados a uma
subsidiária da empresa no Brasil,
onde ficaram estocados. A Millennium Financial mentiu para a
Bolsa que operava no Brasil por
meio de um escritório no prédio
do World Trade Center de São
Paulo. Segundo a SEC, a empresa
mentiu para forjar "experiência
internacional".
O uso de ativos brasileiros em
fraudes contábeis americanas começou com a Enron, companhia
do setor de energia que quebrou
depois de acumular patrimônio
de US$ 67 bilhões. Para esconder
prejuízos e catapultar seus lucros,
a Enron vendeu e recomprou, de
forma fictícia, o controle da EPE
(Empresa Produtora de Energia)
Cuiabá, usina termelétrica privatizada em 1997 que gera energia
para Furnas. A operação foi feita
com uma empresa chamada LJM,
presidida pelo próprio diretor financeiro da Enron, Andrew Fastow, processado criminalmente
nos EUA. O negócio, de US$ 11,3
milhões, permitiu à Enron desvencilhar-se do projeto e contabilizar receitas indevidas de US$ 85
milhões no país entre 1999 e 2001.
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