|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SALTO NO ESCURO
Consórcio controlado pela norte-americana deve US$ 700 mi ao banco, relativos à compra de ações da estatal
Cemig gera nova disputa entre BNDES e AES
ANA PAULA GRABOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Resolvida a dívida de US$ 1,2 bilhão da AES relativa à privatização da Eletropaulo, o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem
agora outro problema a enfrentar
com a empresa americana.
O consórcio SEB (Southern
Electric Brasil), controlado pela
norte-americana AES, deve US$
700 milhões ao banco. A dívida
corresponde a um empréstimo
contraído para a compra de parte
da Cemig (Companhia Energética
de Minas Gerais), em 1997.
O valor já foi provisionado integralmente pelo BNDES desde novembro passado, ou seja, foi contabilizado como prejuízo em seu
balanço financeiro.
Os três sócios privados, entretanto, vêm recebendo regularmente os dividendos pagos pela
Cemig. Desde que entraram no
negócio, já receberam R$ 236,3
milhões (US$ 133,5 milhões), segundo a Cemig. Também foi
aprovado o pagamento de outros
dividendos no valor de R$ 36 milhões (US$ 12,2 milhões), a ser feito até dezembro deste ano.
A Cemig é controlada pelo governo de Minas Gerais, que tem
50,96% do capital votante. A SEB
tem 32,96% do capital com direito
a voto da empresa. Além da AES,
que detém 65,5% das ações, participam da SEB a americana Mirant
(antiga Southern) e o banco Opportunity (9,4%).
Desde maio, quando venceu a
primeira parcela do financiamento, o consórcio controlado pela
AES não paga ao BNDES.
O presidente do banco, Carlos
Lessa, classificou recentemente o
problema como "um subfantasma". O fantasma em questão era a
dívida da AES relativa à privatização da Eletropaulo, cujo acordo já
foi formalizado. Faltam acertos
burocráticos que devem ser fechados até o próximo dia 31.
Em fevereiro, o diretor da área
financeira do BNDES, Roberto Timótheo da Costa, que ficou à
frente das negociações do caso
AES/Eletropaulo, deve se dedicar
ao caso Cemig.
O empréstimo à SEB foi usado
para comprar a participação do
próprio BNDES na Cemig. O banco havia ficado com parte do capital da distribuidora devido a um
acordo entre o governo de Minas
e o governo federal durante a renegociação da dívida estadual
com a União. A negociação ocorreu no governo anterior (1995-1998), do ex-governador Eduardo
Azeredo (PSDB). Na época, o valor do empréstimo correspondeu
a US$ 526,5 milhões.
Logo após assumir o governo
mineiro em 1999, o ex-presidente
da República Itamar Franco conseguiu na Justiça retirar dos acionistas privados o direito de veto
no Conselho de Administração da
Cemig. A SEB estava à frente da
gestão da empresa e do conselho.
O argumento da AES para a inadimplência com o BNDES é que o
valor pago pelas ações lhe daria o
direito de mandar na empresa.
Atualmente, a SEB participa do
conselho de administração, mas
sem o direito de veto e de participar diretamente da gestão. Ou seja, alegam que pagaram um preço
alto pelas ações que têm agora.
No BNDES, a questão já passou
do setor de recuperação de créditos para o de contenciosos, o que
permite ao banco recorrer à Justiça. Se essa for a opção, a solução
será a venda em leilão das ações
correspondentes ao empréstimo.
O BNDES pode ainda concorrer
no leilão e voltar a ser acionista da
empresa estatal mineira.
O presidente do Conselho de
Administração da Cemig e secretário de Desenvolvimento Econômico e Social de Minas Gerais,
Wilson Brumer, diz que a questão
deve ser tratada no âmbito estritamente judicial. Segundo ele, o governador Aécio Neves (PSDB)
não vai intervir na questão.
Como presidente do conselho,
Brumer diz que o assunto não interfere nos negócios da Cemig e
que todos os conselheiros vêm se
entendendo bem. Segundo ele, se
não houver acordo e a solução for
a entrada do BNDES na Cemig,
não haverá problemas.
Procurados pela Folha, a AES e
o Opportunity não comentaram o
assunto.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Banco já cedeu e perdoou juros da norte-americana Índice
|