São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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Banco paga juro maior com "falsa poupança"

Aplicações com nomes que remetem ao da caderneta oferecem retornos melhores, mas há carência de 30 dias antes do 1º resgate

Investimento, que na verdade se trata de um CDB, tem incidência de IR; Pro Teste vê problema na divulgação de produtos

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos brasileiros estão oferendo a seus clientes mais conservadores uma aplicação financeira que parece, mas não é, uma poupança. Para atrair o aplicador tradicional da caderneta, a "falsa poupança" promete um retorno levemente maior, mas com as mesmas garantias de segurança.
Até o nome da aplicação lembra o de uma poupança tradicional -Super Poupança, no Itaú; HiperPoup, no Bradesco; Extrapoupe, no Banco do Brasil; e Multi Poup, no Santander. A rentabilidade é expressa em porcentagem mais TR, como a poupança.
Na verdade, trata-se de um CDB (Certificado de Depósito Bancário) com liquidez diária, que aceita quantias baixas de aplicação -mínimo de R$ 100 no Bradesco, no Itaú e no Santander; e de R$ 200 no BB. Por outro lado, rendem menos que o CDB tradicional, de maior volume. Diferentemente da poupança, que é isenta, esses investimentos têm incidência de IR (Imposto de Renda).
A principal vantagem oferecida pelos bancos é o rendimento, que fica em torno de 8% bruto ao ano mais TR -a poupança garante 6% líquido mais a TR. A "falsa poupança" também dispensa o aplicador da obrigatoriedade de esperar as datas de aniversário da aplicação para ter o rendimento integral do mês, como acontece com a caderneta. O investidor que sair antes leva o juro proporcional ao período.
A segurança é a mesma da poupança, de até R$ 60 mil por CPF, via FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que vale para todos os depósitos a prazo.
Para o cliente, a desvantagem é ter obrigatoriamente de esperar 30 dias antes de efetuar o primeiro resgate -carência inexistente na poupança. Por outro lado, não há incidência de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Já para o banco, além de obter dinheiro com custo baixo, a vantagem é que fica livre de ter de direcionar 65% da captação para o crédito imobiliário.
Apesar de os bancos anunciarem uma rentabilidade isenta de imposto, as "falsas poupanças" recolhem IR, que vai de 22,5% (menos de seis meses) até 15% (mais de dois anos) no final do período de aplicação.
"O investidor menos atento pode nunca perceber que teve imposto recolhido. Os bancos fazem a propaganda de uma poupança que rende mais. Já anunciam uma rentabilidade isenta de imposto. Aí parece que é uma poupança melhorada, mas isso não existe. Nas divulgações que vi, em nenhum momento é dito que é um CDB. Isso está errado de acordo com o Código de Defesa do Consumidor", diz Veronica Tostes, advogada da Pro Teste. Procurados, bancos que oferecem o serviço não se pronunciaram sobre as declarações.
A Pro Teste fez simulações com várias dessa aplicações oferecidas pelos bancos. Constatou que, por menor que seja o prazo da aplicação, em nenhum caso a rentabilidade líquida corre o risco de ficar abaixo da poupança. A única possibilidade de render menos que a poupança é se o investidor resgatar em menos de 30 dias, que tem incidência de IOF. Mesmo assim, os principais produtos têm carência de 30 dias para o primeiro resgate.
"Pela nossa experiência, essas aplicações não são as melhores do mercado. Mas não chegam a ser um produto ruim, rendendo menos do que a poupança. De qualquer maneira, é importante que o consumidor saiba que não é uma poupança. Que, se ele precisar do dinheiro antes de um mês, não vai conseguir", afirma.


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