São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

Caminhos da indústria automobilística

Recém-promovido para a chefia de operações das marcas Fiat e Lancia na Europa, o engenheiro Gianni Coda -até então superintendente da Fiat Automóveis para América Latina- é um personagem interessante, a começar por sua visão extremamente crítica do mercado automobilístico.
Coda considera que os dirigentes do setor automobilístico, em geral, padecem da "soberba" em relação não apenas aos consumidores mas aos fornecedores e à rede concessionária, diz ele. Coda veio do setor ferroviário da Fiat e seu primeiro desafio foi focar o consumidor e aparar as arestas com a rede concessionária.
A indústria automobilística é setor industrial antigo que há tempos vem enfrentando duro dilema entre centralização e autonomia, diz Coda. São movimentos pendulares, ora na direção de uma maior liberalização, ora no centralismo. Parte do sucesso obtido pela Fiat brasileira -que lhe permitiu a liderança do mercado automobilístico no ano passado, acabando com décadas de predomínio da Volkswagen- decorre da autonomia conquistada com os anos.
Depois de discutido o planejamento anual, a empresa tem liberdade de atuar. Passa a responder à matriz apenas em relação aos resultados. No próximo ano estará construindo uma central de design no Brasil, a primeira fora da Itália. Em três anos, terá plena autonomia para desenvolver totalmente os veículos por aqui, confiando na capacidade de inovação dos nossos designers.
Embora tenham ocorrido inovações no plano tecnológico, no plano gerencial trata-se de setor extremamente conservador, que ainda não se inovou adequadamente. Continua trabalhando por funções -vendas, marketing, engenharia-, em vez de trabalhar por processos (o processo de vendas, o processo de redução de custos etc.), como já acontece nas empresas modernas.

Erros de planejamento
Na euforia do pós-real, a indústria automobilística estimou que em poucos anos o Brasil teria um mercado interno da ordem de 3 milhões de veículos/ano. Na melhor das hipóteses esse número somente será alcançado no final da década. Só que existem, hoje, 12 montadoras instaladas, com capacidade de produzir 3 milhões de veículos e demanda interna para apenas 1,5 milhão. Como sobreviver nessa escassez?
Embora levando a Fiat à liderança do mercado brasileiro, Coda não se ilude com esse predomínio. Para ele, acabaram os tempos em que uma empresa podia conquistar a liderança absoluta do mercado por décadas, com fatias superiores a 25%. Em sua opinião, os três líderes -Fiat, Volkswagen e GM- se revezarão e sua participação flutuará em torno de 20%. Mas alguns pontos irão fazer a diferença.

Os sobreviventes
Com o mercado interno insuficiente para tanta capacidade instalada, só sobreviverão as empresas com estratégias claras de exportação, diz ele. Sem uma estratégia mundial de apoio, o mercado interno não fornecerá escala suficiente, dada a enorme quantidade de participantes.
Coda não acredita em fusões de fábricas, a exemplo do que ocorreu entre Ford e Volkswagen nos anos 80. No máximo ocorrerão acordos comerciais, tipo GM e Fiat e Peugeot e Renault. Ou então acordos de produção, como uma empresa adquirir peças ou equipamentos produzidos por outra.

Internet: www.dinheirovivo.com.br

E-mail - lnassif@uol.com.br



Texto Anterior: Comércio: Sonae adia boicote ao cartão de débito
Próximo Texto: Comércio exterior: Exportação perde força e balança registra déficit de US$ 31 milhões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.