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LUÍS NASSIF
Caminhos da indústria automobilística
Recém-promovido para a
chefia de operações das
marcas Fiat e Lancia na Europa,
o engenheiro Gianni Coda -até
então superintendente da Fiat
Automóveis para América Latina- é um personagem interessante, a começar por sua visão
extremamente crítica do mercado automobilístico.
Coda considera que os dirigentes do setor automobilístico, em
geral, padecem da "soberba" em
relação não apenas aos consumidores mas aos fornecedores e
à rede concessionária, diz ele.
Coda veio do setor ferroviário da
Fiat e seu primeiro desafio foi focar o consumidor e aparar as
arestas com a rede concessionária.
A indústria automobilística é
setor industrial antigo que há
tempos vem enfrentando duro
dilema entre centralização e autonomia, diz Coda. São movimentos pendulares, ora na direção de uma maior liberalização,
ora no centralismo. Parte do sucesso obtido pela Fiat brasileira
-que lhe permitiu a liderança
do mercado automobilístico no
ano passado, acabando com décadas de predomínio da Volkswagen- decorre da autonomia
conquistada com os anos.
Depois de discutido o planejamento anual, a empresa tem liberdade de atuar. Passa a responder à matriz apenas em relação aos resultados. No próximo
ano estará construindo uma
central de design no Brasil, a primeira fora da Itália. Em três
anos, terá plena autonomia para desenvolver totalmente os veículos por aqui, confiando na capacidade de inovação dos nossos
designers.
Embora tenham ocorrido inovações no plano tecnológico, no
plano gerencial trata-se de setor
extremamente conservador, que
ainda não se inovou adequadamente. Continua trabalhando
por funções -vendas, marketing, engenharia-, em vez de
trabalhar por processos (o processo de vendas, o processo de redução de custos etc.), como já
acontece nas empresas modernas.
Erros de planejamento
Na euforia do pós-real, a indústria automobilística estimou
que em poucos anos o Brasil teria um mercado interno da ordem de 3 milhões de veículos/ano. Na melhor das hipóteses esse
número somente será alcançado
no final da década. Só que existem, hoje, 12 montadoras instaladas, com capacidade de produzir 3 milhões de veículos e demanda interna para apenas 1,5
milhão. Como sobreviver nessa
escassez?
Embora levando a Fiat à liderança do mercado brasileiro, Coda não se ilude com esse predomínio. Para ele, acabaram os
tempos em que uma empresa podia conquistar a liderança absoluta do mercado por décadas,
com fatias superiores a 25%. Em
sua opinião, os três líderes
-Fiat, Volkswagen e GM- se
revezarão e sua participação flutuará em torno de 20%. Mas alguns pontos irão fazer a diferença.
Os sobreviventes
Com o mercado interno insuficiente para tanta capacidade
instalada, só sobreviverão as
empresas com estratégias claras
de exportação, diz ele. Sem uma
estratégia mundial de apoio, o
mercado interno não fornecerá
escala suficiente, dada a enorme
quantidade de participantes.
Coda não acredita em fusões
de fábricas, a exemplo do que
ocorreu entre Ford e Volkswagen
nos anos 80. No máximo ocorrerão acordos comerciais, tipo GM
e Fiat e Peugeot e Renault. Ou
então acordos de produção, como uma empresa adquirir peças
ou equipamentos produzidos
por outra.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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