São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Instituição nem espera Orçamento ser aprovado e, em um mês, queima 43% do total que pode emitir no ano

BC argentino acelera a emissão de pesos

FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

O Banco Central argentino não esperou nem o Congresso aprovar o Orçamento deste ano e mandou rodar 1,5 bilhão de pesos, que foram repassados para as instituições financeiras.
Pelo que prevê o projeto de Orçamento, o BC poderá emitir neste ano 3,5 bilhões de pesos. Isso significa que o BC já queimou 43% do que poderá -desde que o Congresso aprove- emitir neste ano, segundo informação do "El Cronista". A operação foi realizada entre os dias 14 de janeiro e 15 deste mês.
O secretário de Fazenda, Oscar Lamberto, afirmou à agência de notícias Dow Jones que o BC argentino destinaria 2,5 bilhões de pesos do volume que poderá imprimir para a criação de um fundo destinado a socorrer o sistema bancário se houver nova corrida para sacar os depósitos, atualmente presos pelo curralzinho.
Para o Tesouro, restará o outro 1 bilhão de pesos que a entidade monetária emitirá. Esse volume, que será repassado para o Tesouro, representa apenas um terço do déficit nas contas que o governo espera para todo o ano.
"O que o BC emitiu entrou nos bancos e começou a sair pelo caixa das agências, devido ao aumento dos saques com a liberação das contas-salário", afirma o economista Santiago Gallichio, da consultoria Exante.

Mais dinheiro
O efeito dos empréstimos feitos pelo BC nas últimas semanas aos bancos foi o aumento do volume de dinheiro em circulação na economia argentina, que subiu 1,6 bilhão de pesos no mesmo período.
Analistas do mercado financeiro afirmam que o banco Galícia deve ter sido o que mais recebeu ajuda do governo nas últimas semanas. A instituição está entre as que mais sofreram perdas de recursos desde a corrida bancária iniciada no fim de novembro do ano passado, que fez o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo bloquear as contas bancárias e impor um limite de saque semanal que permanece em vigor até hoje.
O Banco Central uruguaio interveio no banco Galícia localizado no país e suspendeu suas operações por 90 dias, devido à falta de liquidez da instituição.
A diretoria do banco Galícia teve de desmentir ontem o rumor de que a instituição seria absorvida pelo Estado.
Há rumores de que a estatização da instituição estaria sendo discutida pelo ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, e pelo presidente do Banco Central argentino, Mario Blejer.
O banco Nación, a maior instituição pública do país, absorveria o Galícia dentro do processo de reestruturação do sistema bancário estudado pelo governo.

Escalada do dólar
Apesar de as filas nas casas de câmbio terem sido menores do que as registradas na semana passada, o preço do dólar fechou em alta de 2,4%.
Dos poucos negócios realizados, a maioria era de pessoas interessadas em comprar dólares, o que fez o preço da moeda norte-americana encerrar o dia a 2,10 pesos.
Operadores de tesourarias e casas de câmbio não sentiram a presença do BC no mercado, como aconteceu na sexta-feira.
Dados preliminares apresentados pelo Ministério da Economia mostram que a produção industrial no país caiu 18% em janeiro deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior. Em 2001, a queda da indústria argentina ficou em 6,2%.



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