São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

45 pessoas tinham chave de contêiner

Halliburton diz que 45 chaves espalhadas entre Santos e Campos davam acesso a notebooks com dados sigilosos da Petrobras

Polícia Federal ouve funcionários da Petrobras, da múlti americana e de transportadora em busca de pistas sobre furto de dados

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MACAÉ (RJ)

Apesar do governo tratar o furto de equipamentos da Petrobras como questão de Estado, os dados secretos da estatal que estavam em quatro notebooks desaparecidos em janeiro entre a bacia de Santos e Macaé (cidade litorânea 188 km ao norte do Rio) viajavam em um contêiner que poderia ser aberto por pelo menos 45 pessoas, detentoras de cópias da chave.
A revelação foi feita à PF (Polícia Federal) pela empresa americana Halliburton, responsável pelo transporte.
Funcionários da Halliburton disseram a agentes da PF da Delegacia de Macaé, onde tramita o inquérito, que existe uma chave padrão para contêineres como o que levava os computadores portáteis e outros equipamentos de informática em meio a peças de escritório.
A existência dessa chave padrão, da qual existem 45 cópias espalhadas pelos pontos de exploração de petróleo nas bacias de Campos e Santos e nas sedes brasileiras da Halliburton, tem o objetivo de agilizar o trabalho de abertura e fechamento dos contêineres.
Em vez de uma chave única viajar de um ponto a outro do trajeto, acompanhando o contêiner, a empresa prefere usar cadeados com os mesmos segredos. Isso porque tudo o que viaja dentro desses contêineres costuma pertencer à Halliburton. Até mesmo os computadores furtados eram de propriedade da empresa.
O que não se sabe ainda é a razão de dados considerados estratégicos sobre a exploração de petróleo no Brasil estarem dentro de equipamentos da multinacional americana em um contêiner sobre o qual não foi exercida vigilância nos 12 dias da viagem entre a bacia de Santos e Macaé, base das atividades desenvolvidas pela Petrobras na bacia de Campos.
O desaparecimento dos notebooks, de dois discos rígidos e de dois pentes de memória foi descoberto no dia 30 de janeiro, quando do depósito do contêiner, trazido do porto do Rio de Janeiro por uma carreta da transportadora Transmagno, no pátio da Halliburton no pólo "off-shore" de Macaé.
Ao tentar abrir o contêiner, funcionários da empresa notaram que a chave padrão não abria o cadeado, que era da mesma marca do original.
Repararam também que o lacre havia sido violado no trajeto. Decidiram então recorrer a um tesourão e arrebentaram o cadeado. Dentro do contêiner, acharam os objetos revirados e deram falta dos equipamentos de informática.
A Petrobras foi acionada em seguida, realizando, durante um dia inteiro, uma investigação particular.
A PF foi acionada em 1º de fevereiro, véspera do Carnaval, mas o inquérito só foi aberto seis dias depois, pela Delegacia de Macaé.
A presidente do inquérito, Carla de Melo Dolinski, interrogou ontem quatro homens. O teor dos depoimentos não foi divulgado. Os quatro saíram sem dar entrevistas.
À tarde, a delegada recebeu um homem que, na recepção, da delegacia da PF, se identificou como Ernani, chefe de operações da Abin (Agência Brasileira de Inteligências). Quatro funcionários da Petrobras também foram recebidos por Melo Dolinski simultaneamente ao emissário da Abin.

"Qualificados"
A Associação Brasileira dos Peritos Criminais Federais afirmou, por meio de sua assessoria, acreditar que o furto do material envolve ladrões "qualificados" de acordo com informações que informou ter tido acesso. Em nota divulgada ontem, afirma que o perito Isaac Morais, responsável pela análise do contêiner furtado, não deu entrevistas sobre a perícia e não emitiu opiniões a respeito das conclusões do trabalho realizado no local.
Ontem, agentes da PF estiveram nas sedes da Halliburton e da transportadora Transmagnum, em Macaé, ouvindo funcionários e inspecionando os locais por onde passam os contêineres.


Texto Anterior: Tecnologia: Motorola processa dona do Blackberry por quebra de patente
Próximo Texto: Abin e PF fazem reunião em Brasília para tratar do furto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.