São Paulo, terça-feira, 19 de março de 2002

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LUÍS NASSIF

A insensatez do pragmático

Nos últimos anos a teoria econômica passou a estudar mais seriamente o fenômeno que um livro famoso batizou de "a marcha da insensatez". O que leva pessoas, grupos e até países a caminhar em direção ao abismo, contrariando toda lógica e bom senso?
Se existe um fenômeno que merece ser estudado sob essa ótica, é o comportamento suicida do PFL após o desastre que se abateu sobre a candidatura Roseana Sarney.
No começo, o alarido em torno do episódio Jorge Murad refletiu o desapontamento com o fim da candidatura Roseana Sarney, um erro de aposta incrível, que só pode ser explicado pela psicologia do jogador compulsivo -o que está ganhando, mas acaba se enredando em uma sucessão de ou tudo ou nada que termina na primeira derrota.
A persistência da reação visava criar um impasse político que lhe permitisse garantir o espaço conquistado na aliança e que estava prestes a perder para o PMDB. Não colou, e o partido perdeu o lugar que procurava preservar na aliança. Até aí tudo bem. O dado irracional da história foi o comportamento posterior da cúpula pefelista.
De suas decisões depende o destino de milhares de militantes, do vereador da pequena cidade ao governador. A cúpula misturou o que lhe pertencia -seus próprios interesses individuais- com o que não lhe pertencia -o destino político de milhares de seguidores.
Consumado o erro inicial, a avaliação fria que se exigia foi substituída por uma explosão de raiva irracional.
De um lado tentou-se transferir para um bode expiatório ou um inimigo externo as bobagens cometidas. Só que se levou longe demais esse processo. No ardor do combate, a cúpula pefelista não apenas rompeu com o governo como queimou as caravelas. Foi uma sucessão de erros continuados sem paralelo na história do partido. Agora, não se tem para onde ir e não se tem interlocutor para o governo. Talvez Marcos Maciel, talvez Guilherme Palmeira.
Mas como negociar depois dos rompantes de Inocêncio de Oliveira, querendo a revanche de sua derrota para a mesa da Câmara, ou de Jorge Bornhausen, que teve seu dia de ACM?
A saída para essa enrascada é complexa. A rigor, há três caminhos. O primeiro, o abraço de afogado: morre, mas leva junto o governo ou o país evitando votar a CPMF e explodindo dossiês a torto e a direito.
O segundo é recompor a aliança. Mas como recompor sem parecer uma rendição? Mesmo com toda sua habilidade política, como FHC vai encontrar uma solução para a volta do PFL, de cabeça erguida? É tarefa quase impossível, depois das bravatas de Inocêncio e Bornhausen.
O terceiro é o definhamento rápido daquele que, até então, era considerado o mais pragmático partido político brasileiro.

Tarso Genro
A vitória do prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, nas prévias para a candidatura do PT ao governo do Rio Grande do Sul é um episódio que poderá ter enormes desdobramentos futuros. Reabre a possibilidade, no médio prazo, de um projeto de esquerda verdadeiramente consistente.

Arthur Andersen
A provável falência da Arthur Andersen, em decorrência do escândalo Enron, é uma comprovação clara de que a Lei das Falências é anacrônica tanto lá quanto aqui.
A Andersen é culpada de ter induzido deliberadamente investidores ao erro e ocultado provas. Deve pagar pelo que fez. Os credores têm como única garantia o valor da empresa. A empresa só tem valor se continuar operando, adquirida por algum concorrente. Mas os concorrentes recusam-se a comprá-la para não herdar as ações de indenização.
Aí reside o anacronismo da legislação. O correto seria separar a parte "boa" da parte "ruim". Vende-se a parte "boa" e apura-se um valor que não existiria se a empresa fechasse. Cobre-se parte da dívida. O restante seria cobrado dos responsáveis pelas falcatruas.
E-mail - lnassif@uol.com.br



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