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LUÍS NASSIF
A insensatez do pragmático
Nos últimos anos a teoria
econômica passou a estudar mais seriamente o fenômeno que um livro famoso batizou
de "a marcha da insensatez". O
que leva pessoas, grupos e até
países a caminhar em direção
ao abismo, contrariando toda
lógica e bom senso?
Se existe um fenômeno que
merece ser estudado sob essa
ótica, é o comportamento suicida do PFL após o desastre que se
abateu sobre a candidatura Roseana Sarney.
No começo, o alarido em torno do episódio Jorge Murad refletiu o desapontamento com o
fim da candidatura Roseana
Sarney, um erro de aposta incrível, que só pode ser explicado
pela psicologia do jogador compulsivo -o que está ganhando,
mas acaba se enredando em
uma sucessão de ou tudo ou nada que termina na primeira
derrota.
A persistência da reação visava criar um impasse político que
lhe permitisse garantir o espaço
conquistado na aliança e que
estava prestes a perder para o
PMDB. Não colou, e o partido
perdeu o lugar que procurava
preservar na aliança. Até aí tudo bem. O dado irracional da
história foi o comportamento
posterior da cúpula pefelista.
De suas decisões depende o
destino de milhares de militantes, do vereador da pequena cidade ao governador. A cúpula
misturou o que lhe pertencia
-seus próprios interesses individuais- com o que não lhe
pertencia -o destino político de
milhares de seguidores.
Consumado o erro inicial, a
avaliação fria que se exigia foi
substituída por uma explosão
de raiva irracional.
De um lado tentou-se transferir para um bode expiatório ou
um inimigo externo as bobagens cometidas. Só que se levou
longe demais esse processo. No
ardor do combate, a cúpula pefelista não apenas rompeu com
o governo como queimou as caravelas. Foi uma sucessão de erros continuados sem paralelo na
história do partido. Agora, não
se tem para onde ir e não se tem
interlocutor para o governo.
Talvez Marcos Maciel, talvez
Guilherme Palmeira.
Mas como negociar depois dos
rompantes de Inocêncio de Oliveira, querendo a revanche de
sua derrota para a mesa da Câmara, ou de Jorge Bornhausen,
que teve seu dia de ACM?
A saída para essa enrascada é
complexa. A rigor, há três caminhos. O primeiro, o abraço de
afogado: morre, mas leva junto
o governo ou o país evitando votar a CPMF e explodindo dossiês a torto e a direito.
O segundo é recompor a aliança. Mas como recompor sem parecer uma rendição? Mesmo
com toda sua habilidade política, como FHC vai encontrar
uma solução para a volta do
PFL, de cabeça erguida? É tarefa
quase impossível, depois das
bravatas de Inocêncio e Bornhausen.
O terceiro é o definhamento
rápido daquele que, até então,
era considerado o mais pragmático partido político brasileiro.
Tarso Genro
A vitória do prefeito de Porto
Alegre, Tarso Genro, nas prévias
para a candidatura do PT ao
governo do Rio Grande do Sul é
um episódio que poderá ter
enormes desdobramentos futuros. Reabre a possibilidade, no
médio prazo, de um projeto de
esquerda verdadeiramente consistente.
Arthur Andersen
A provável falência da Arthur
Andersen, em decorrência do escândalo Enron, é uma comprovação clara de que a Lei das Falências é anacrônica tanto lá
quanto aqui.
A Andersen é culpada de ter
induzido deliberadamente investidores ao erro e ocultado
provas. Deve pagar pelo que fez.
Os credores têm como única garantia o valor da empresa. A
empresa só tem valor se continuar operando, adquirida por
algum concorrente. Mas os concorrentes recusam-se a comprá-la para não herdar as ações de
indenização.
Aí reside o anacronismo da legislação. O correto seria separar
a parte "boa" da parte "ruim".
Vende-se a parte "boa" e apura-se um valor que não existiria se
a empresa fechasse. Cobre-se
parte da dívida. O restante seria
cobrado dos responsáveis pelas
falcatruas.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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