São Paulo, terça-feira, 19 de março de 2002

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AGROFOLHA

CARNES

Custo inicial relativamente baixo e boa lucratividade aumentam número de produtores, segundo associação gaúcha

Criar emas é opção para pequenos no RS

Jefferson Bernardes/Folha Imagem
Filhote de ema em criadouro na fazenda Invernada, no RS


CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora ainda modesta, a criação de emas começa a atrair o interesse de pequenos e médios produtores rurais que almejam alta lucratividade e custo inicial relativamente baixo. Desde que iniciou suas atividades em 1999, o número de associados da Abrace (Associação Brasileira de Criadores de Ema), localizada em Bagé (RS), quadruplicou. Hoje, a Abrace conta com 60 membros e estima-se que haja outros 40 criadores que não se filiaram.
O aumento do número de associados se reflete na produção da carne de ema. Em 1999, segundo a associação, foram produzidas duas toneladas da carne. Em 2001, a produção dobrou e, para 2002, pode chegar a dez toneladas.
Segundo o presidente da Abrace, Renato Costa, 47, a criação de emas no sul do Rio Grande do Sul surgiu como alternativa a sucessivos anos de baixa rentabilidade na criação de gado.
Dados da associação revelam que o preço da carne bovina, para os produtores, permanece há alguns anos num patamar baixo. Com isso, os pequenos e médios produtores rurais enfrentam dificuldades para sobreviver da criação de gado. Para os produtores, o preço da carne bovina oscila entre R$ 1,20 e R$ 1,40. Já o quilo da carne de ema de primeira fica em torno de US$ 10 (cerca de R$ 23,40).
O principal incentivo para a criação de emas é a rentabilidade em relação a outras culturas.
Dados da Abrace revelam que um hectare destinado à criação de ema produz 700 kg de carne e rende R$ 2.500. O mesmo espaço com a pecuária de corte produz 120 kg de carne e lucro de R$ 100.
O tempo de abate, menor em relação ao gado, também é outro estímulo para a produção. A ema pode ser abatida em cerca de 400 dias (pouco mais de 13 meses), enquanto o bovino leva cerca de 1.000 dias (mais de 33 meses).
O exemplo do produtor gaúcho Carlos Augusto Lopes ilustra essa situação. Em sua propriedade, 90% dos 700 hectares abrigam a criação de gado e 2% são destinados à criação de emas. Entretanto, segundo ele, a rentabilidade do novo negócio chega a ser 20 vezes maior do que a da pecuária.
Para quem se dedica somente à venda dos animais vivos, a atividade também pode ser lucrativa. O preço de uma família de emas adultas (seis fêmeas e quatro machos) custa R$ 2.500. O preço de um filhote de três a seis meses fica em torno de R$ 300. Esse valor é um terço menor do que o de um filhote de avestruz, ave que pertence à mesma espécie da ema.
Para agregar maior valor à criação de emas, alguns criadores, além de se dedicarem ao abate das aves, também investem na criação de outros produtos feitos a partir da matéria-prima. Entre eles, os artigos de couro de ema, cujo metro quadrado pode atingir US$ 100, e o patê, a R$ 7 o quilo.
Enquanto espera uma legislação que regulamente a comercialização e exportação da carne de ema, a produção se volta para o mercado interno.
No Empório Silvestre, loja localizada em São Paulo e especializada em carnes exóticas, os maiores consumidores do produto são os restaurantes, mas vem crescendo o aumento das vendas no varejo.
Hoje são comercializados cerca de 50 kg de carne de ema -a R$ 45 por quilo- por mês. Os principais clientes são pessoas que procuram alimentos com baixo teor de colesterol.



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