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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Taxa de transporte marítimo de mercadorias para a região passa de 6% para 8% do valor do produto

Conflito encarece frete para Oriente Médio

LÁSZLÓ VARGA
JOSÉ ALAN DIAS

DA REPORTAGEM LOCAL

A iminência de uma guerra dos Estados Unidos contra o Iraque começa a afetar os negócios dos exportadores e importadores brasileiros que fazem negócios com o Oriente Médio. O preço do frete marítimo das mercadorias que vão para a região aumentou 30% desde janeiro, pois armadores cobram mais para transportar em regiões perigosas.
"A participação do frete no preço final da mercadoria enviada ao Oriente Médio aumentou de 6% para 8% a 9% nos últimos três meses", afirmou ontem José Augusto de Castro, diretor da AEB (Associação do Comércio Exterior do Brasil).
Um navio de transporte de mercadorias custa entre US$ 50 milhões e US$ 80 milhões. Os armadores cobram mais pelo seu patrimônio ao transitar em zonas de risco de conflito. Mas o preço do seguro dos navios ainda não teria aumentado, segundo representantes de armadores.
O Oriente Médio respondeu no ano passado por 3,51% das exportações brasileiras. A Arábia Saudita, por exemplo, comprou carne bovina e de frango congeladas, minério de ferro, farelo de soja, chassis com motor e carrocerias de automóveis, açúcar e papel, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Há o risco de que o preço do frete marítimo aumente também para todas as regiões do mundo, devido à demanda que os Estados Unidos têm feito por navios que transportam caminhões militares, tanques e armas. Castro, no entanto, considerou essa hipótese pouco provável. "Nos últimos dez anos a oferta de navios aumentou, devido à redução do comércio mundial. Há navios sobrando."
Segundo Castro, o aumento da oferta de navios teria baixado a participação do frete no preço final das mercadorias de 10% para 6% nos últimos dez anos. O Oriente Médio seria uma exceção agora, devido ao acirramento das tensões nos últimos meses.

Alta do combustível
O economista Roberto Giannetti da Fonseca, sócio da empresa de exportação e importação Silex e ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), disse, no entanto, que alguns armadores já estão cobrando mais pelo transporte de mercadorias, mesmo para aquelas que não são enviadas para o Oriente Médio.
"Houve aumentos de 10% nos fretes, que representam alta de 1% no preço final do produto", disse Giannetti. Segundo ele, as Forças Armadas dos EUA têm demandado muitos navios, antes usados para comércio. "E os armadores que têm navios que circulam no Golfo vão cobrar mais, pois as embarcações podem ser atingidas por mísseis mal direcionados."
Para o gerente comercial da empresa de navios Hamburg SUD no Brasil, Cyro Marcondes, os preços dos fretes aumentaram cerca de 20% nos últimos três meses, mas devido à alta do petróleo. O fato estaria só relacionado indiretamente com a provável guerra no Golfo.
"A taxa de combustível sobre o preço do frete triplicou desde janeiro, devido à alta do petróleo", disse Marcondes. A alta foi provocada pelas tensões entre EUA e Iraque. "Isso não teve relação com supostos riscos de navegação durante uma guerra."
O valor da taxa de combustível para contêineres transportados do Brasil para os EUA, por exemplo, passou em média de US$ 150 para US$ 400. Segundo o especialista Samir Keedi, da consultoria Aduaneiras, um navio de transporte de mercadorias consome cerca de 30 toneladas de óleo combustível por dia.
Armadores e especialistas em comércio exterior prevêem, no entanto, que uma alta generalizada dos preços dos fretes e dos seguros dos navios somente ocorreria se a possível guerra no Golfo fosse prolongada e as rotas das embarcações afetadas pelo conflito. "Mas isso não aconteceu na Guerra do Golfo", afirmou Castro, da AEB.


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