São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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"Maior desejo era voltar a trabalhar"

DA REPORTAGEM LOCAL

Um tiro na coluna em 1999, durante uma ocorrência de roubo de carga na zona leste de São Paulo, mudou a vida do então policial militar Josué Rosendo, 36.
Com 29 anos, Rosendo ficou paraplégico. Durante dois anos, fez fisioterapia e lutou para resgatar a auto-estima. Contou com o apoio de uma associação que auxilia policiais e ex-policiais militares.
"Na época, já estava casado havia 12 anos. Com a família estruturada, consegui superar barreiras para atingir meu maior desejo, que era o de voltar a trabalhar."
Em 2002, foi contratado pelo BankBoston como segurança. Numa pequena sala repleta de TVs, Rosendo -muito bem vestido com terno e gravata- fica de olho, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h, nas imagens captadas por dezenas de câmeras espalhadas pelo prédio do BankBoston.
O ex-policial tem o segundo grau completo e pretende cursar faculdade de direito. "Optei por tocar a vida normalmente. Após o acidente, não foi fácil me conscientizar de que era um cadeirante. Uma coisa é nascer deficiente. Outra, estar deficiente."
O ex-policial conta que quando foi ao shopping Aricanduva pela primeira vez como cadeirante teve duas experiências que não vai mais esquecer. "Minha camisa ficou tão molhada de tanto suar que dava até para torcer. Quando me viu na cadeira de rodas, nesse mesmo dia, uma senhora me ofereceu R$ 1. Eu aceitei."
Para Rosendo, o emprego é essencial na vida de uma pessoa portadora de deficiência. Com a pressão para o cumprimento da lei de cotas para contratar esse tipo de mão-de-obra, na sua avaliação, as PPDs (pessoas portadoras de deficiências) têm mais chances de conquistar um emprego.
O segurança cadeirante se preparou para enfrentar o dia-a-dia no banco. "Leio bastante e uso muito a internet." Com um carro adaptado, leva uma hora da sua casa, em São Miguel Paulista, até o BankBoston, e não reclama.
No BankBoston desde julho de 2005, Carlos do Santos, 52, ex-policial militar, colega de trabalho de Rosendo, também é cadeirante. "Foi uma oferta maravilhosa de emprego, irrecusável. As pessoas portadoras de deficiência não devem desistir de buscar qualificação e emprego." (FF)


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