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COLAPSO DA ARGENTINA
Presidente não aceita exigências de diretor do Fundo; cotação da moeda dos EUA vai a 3,12 pesos
Duhalde ataca receita do FMI e dólar dispara
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
O presidente Eduardo Duhalde
não gostou das declarações do diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Horst Köhler, e atacou as receitas e exigências feitas pela entidade para que
o país receba ajuda financeira e
tente sair da crise econômica.
"As exigências do Fundo podem levar o país a dificuldades
ainda maiores. A Argentina não
vai dizer sim a tudo o que o FMI
pede", desafiou Duhalde.
O presidente ficou incomodado
com a afirmação de Köhler de que
a solução para a crise não será fácil para o povo argentino. Em declarações a uma rádio local, Duhalde disse que o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, "vai apresentar o que o governo argentino entende por plano sustentável. Não é um programa alternativo ao do Fundo, apenas
tem algumas modificações".
O mercado reagiu mal ao enfrentamento de Duhalde, por prever maiores dificuldades para o
fechamento do acordo de socorro
financeiro que o país necessita. O
resultado foi a disparada do dólar,
que saltou 6,8%. A moeda foi vendida a 3,12 pesos no fim dos negócios, o maior preço desde o dia 26
do mês passado.
A previsão do FMI de que o PIB
(a soma das riquezas produzidas)
da Argentina deve cair entre 10%
e 15% no ano também desagradou ao mercado. Além de as perspectivas do governo serem bem mais otimistas -de queda do PIB
de 4,9% no ano-, a larga variação apresentada na projeção da
entidade mostra, segundo analistas, as incertezas que a economia
do país geram até mesmo no FMI.
Lenicov se encontra hoje em
Washington com o secretário do
Tesouro norte-americano, Paul
O'Neill. Amanhã o ministro tem
uma reunião com Köhler e com
vice-diretora-gerente do Fundo,
Anne Krueger.
"Há coisas que evidentemente
temos de fazer, mas não podemos
firmar um acordo que sabemos
que não vamos cumprir", disse
Duhalde, em referência aos ajustes exigidos nas Províncias pelo
Fundo, que incluem corte de 60%
no déficit fiscal e suspensão da
emissão de bônus.
Somada às declarações de Duhalde, a dificuldade do governo
em chegar a uma decisão para
frear a saída de recursos do curralzinho, que tem acontecido devido a decisões judiciais, também
agitou o mercado.
O rumor de que seria decretado
feriado bancário e cambial a partir de hoje tumultuou o centro financeiro de Buenos Aires. Milhares de pessoas e empresas correram para comprar dólares. O
Banco Central argentino desmentiu os rumores apenas no fim da
tarde.
O BC também limitou US$ 500,
o montante que as pessoas podem comprar nos bancos de moeda norte-americana vendida pela
autoridade monetária. Antes, esse
limite era de US$ 1000.
Títulos públicos
A equipe econômica trabalhava
ontem com a hipótese de apresentar um projeto de lei que faça
com que os recursos liberados pela Justiça do bloqueio dos depósitos bancários sejam pagos com títulos públicos.
Na prática, seria uma reedição
do "Plano Bonex", lançado pelo
ex-presidente Carlos Menem
(1989-1999) no início da década
de 90 para devolver os depósitos
bancários congelados no período.
Como a Suprema Corte deu seu
aval à medida na época, o governo
acredita que com esse precedente
ficaria livre da possibilidade de a
Justiça barrar a decisão.
Duhalde já avisou não estar
convencido da viabilidade da proposta da equipe econômica. Na
quarta-feira, Duhalde desautorizou e entrou em conflito com Lenicov devido a outra proposta desenhada pelo Ministério da Economia para resolver o problema.
A informação da possibilidade
de se implementar essa medida
fez com que as ações de bancos
disparassem na Bolsa Buenos Aires e fizessem o Merval fechar
com alta de 8,6%. Os papéis do
Banco Francés dispararam 23,8%,
e os do Grupo Financeiro Galicia,
18,3%. Analistas afirmam que a
devolução de depósitos por meio
de títulos públicos representaria
um forte alívio na situação atual
dos bancos.
Os governadores peronistas
-do mesmo partido de Eduardo
Duhalde- aumentaram ainda
mais a turbulência ontem, ao confirmarem o cancelamento do encontro que teriam com o presidente para discutir os ajustes fiscais exigidos pela equipe de técnicos do Fundo.
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