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SALÁRIO
Para uns, o governo deveria apenas repor a inflação; para outros, deveria dar reajuste real de 6%, no máximo
Bancos divergem sobre aumento do mínimo
DA REPORTAGEM LOCAL
Economistas de bancos têm
análises distintas sobre o aumento do salário mínimo, que hoje
corresponde a R$ 240 por mês.
Consultados pela Folha, alguns
consideram que o reajuste em estudo pelo governo deve levar em
conta apenas a inflação dos últimos 13 meses (de abril de 2003 a
abril deste ano; o aumento deste
ano inclui um mês a mais porque
será a partir de maio, enquanto
em 2003 valeu a partir de abril).
Outros avaliam que há espaço para um aumento real de, no máximo 6%, o que significa reajustá-lo
para algo próximo a R$ 270.
Essa elevação seria possível porque houve aumento na arrecadação do INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social) devido ao reajuste do teto da contribuição previdenciária de R$ 1.869,34 para R$
2.400 a partir de janeiro deste ano.
Até dezembro de 2003, a contribuição máxima dos que ganhavam até R$ 1.869,34 era de R$
205,63. A partir de janeiro deste
ano, todo trabalhador que ganha
R$ 2.400 ou mais passou a pagar
R$ 264. A contribuição máxima
subiu 28,4%, ou R$ 58,37.
Com o novo teto das contribuições, a arrecadação do INSS subiu
9,3% em fevereiro (primeiro mês
do pagamento das novas contribuições) em comparação com
igual mês de 2003. No acumulado
do ano até fevereiro, o aumento
foi de 4,8%.
Recorde
Em março, a arrecadação líquida do INSS alcançou o recorde de
R$ 7,138 bilhões. Em relação ao
mesmo período do ano passado,
o aumento nominal chegou a
24,96%, e o real (descontada a inflação), a 17,20%.
A receita líquida do primeiro
trimestre deste ano foi de R$ 20,61
bilhões -o melhor resultado para o período. O valor representa
aumento nominal de 19,24% e
real de 11,83% em relação aos primeiros três meses de 2003.
Máximo de 6%
Em entrevista à Bloomberg,
Amália Estensoro, economista do
banco espanhol BBVA Securities,
afirmou, na sexta-feira, que o limite para que o aumento real não
tenha impacto negativo nas contas do governo seria de 6%, no
máximo.
Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC, já considera como limite um aumento real de
4%, o que significaria um salário
mínimo em torno de R$ 265 a R$
270. "Aumento real de 4% não
exigiria corte de gastos."
Na avaliação do Santander Banespa, haveria espaço para o governo conceder aumento real de
5% para o salário mínimo.
Um salário mínimo acima de R$
270, segundo os economistas,
obrigaria o governo a cortar gastos e/ou aumentar a arrecadação.
Na avaliação de um analista de
um dos maiores bancos privados
do país, que preferiu não se identificar, o salário mínimo ao redor
de R$ 270 implicaria elevar em R$
3,3 bilhões a R$ 3,5 bilhões o déficit da Previdência Social, que foi
de R$ 26 bilhões no ano passado.
Esse valor considera quem recebe até dois salários mínimos
-cerca de 17 milhões de aposentados. No Brasil, existem cerca de
22 milhões de aposentados.
"Está aumentando a arrecadação do INSS por causa da elevação
do teto das contribuições. Mas
não sabemos se isso vai continuar. O reajuste do mínimo vai
ter impacto negativo nas contas
do governo porque o déficit na
Previdência já vem subindo", afirma Mauricio Oreng, analista do
Unibanco.
Na sua análise, o governo tem
de reajustar o salário mínimo de
acordo com o que foi previsto na
Lei de Diretrizes Orçamentárias,
que determina a correção da inflação.
Dinheiro do leão
Alguns bancos sugerem que o
governo use, para conceder um
reajuste real de 5% no mínimo, a
arrecadação de R$ 2,6 bilhões a
mais registrada pela Receita Federal no primeiro trimestre deste
ano.
A arrecadação total somou R$
75,746 bilhões, valor 4% superior
ao que havia sido estimado pela
Receita para o período. Esse dinheiro poderia ser usado, segundo esses bancos, sem comprometer as contas do governo.
No entanto, para as instituições
financeiras, o governo não deve
fazer reajustes acima da inflação
porque poderia dificultar o cumprimento da meta fiscal.
A meta de superávit primário
(economia para o pagamento de
juros) acordada com o FMI (Fundo Monetário Internacional) é de
4,25% do PIB para os anos de
2004 e 2005.
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