São Paulo, domingo, 19 de abril de 1998

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OS PECADOS DO CAPITAL - SOBERBA
Executivo vira professor e ensina após expediente

SUZANA BARELLI
da Reportagem Local

Eles fazem malabarismos em sua agenda de trabalho a fim de reservar espaço para dar aulas. Marcam as matérias para o final do dia e não reclamam da vida de professor. Afinal, esses executivos enfrentam o estrado por puro prazer e não dependem economicamente desse salário.
"Dar aulas é trocar experiências com os alunos e é também um relax", diz Carlos Dreyfuss, 52, diretor da área de tecnologia e processos da Origin, uma multinacional norte-americana de informática.
Dreyfuss é professor de inglês na Blow Bliss, escola que tem cursos para profissionais que precisam aprender termos técnicos. Com agenda apertada, ele dá duas aulas sobre tecnologia por mês, para duas turmas, sempre à noite. Acordo com a escola prevê que as aulas podem ser remarcadas quando compromissos profissionais o impedem de ensinar.
Mas não é apenas o inglês que atrai executivos à sala de aula. Os assuntos vão desde especialização em áreas técnicas até vinho.
Édson Carli, 31, gerente sênior da consultoria KPMG, por exemplo, já deu aula até em curso pré-vestibular. Há dois anos, ele ministra a matéria "gerência de projetos' na pós-graduação do Mackenzie.
Carli criou o curso, voltado para empresas, quando trabalhava como consultor e procurava profissionais mais bem qualificados. Depois, o curso virou matéria de pós-graduação. "Sempre gostei de ensinar e, após as aulas, parece que saímos com pilha nova, prontos para novos desafios", diz o consultor, que reserva duas noites por semana para as aulas.
O consultor Robson Drezett, 32, é mais idealista: "É nossa obrigação ensinar. O ensino é a base de qualquer país", afirma.
Formado em engenharia têxtil e com mestrado em Paris em engenharia de confecção, ele dá aulas de tecnologia têxtil no curso de moda da Unip. Horário: toda sexta-feira, às 19h15. "Fico quatro horas em pé, já cansado pela semana de trabalho, mas a troca de experiências com alunos compensa."
Com assunto mais ameno, o advogado José Marcelo Malta, 37, diretor da imobiliária Sobria, dá aulas sobre vinhos há cerca de dois anos. "É sempre um desafio. Nunca sei que turma vou encontrar e a quais perguntas terei de responder", diz Malta, que estuda sobre o vinho desde 1989.
"Sendo ensinado, o hábito de beber vinho deixa de ser exclusivista e é difundido", diz Malta, que é também diretor da ABS (Associação Brasileira de Sommeliers).



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