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Corte poderá ficar só na ameaça
Apagão individual para todos os que desrespeitam cota é pouco viável do ponto de vista técnico
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O principal instrumento para
convencer a população a economizar energia, o corte individual,
deverá ser apenas uma ameaça na
maioria dos casos. Pelas regras do
governo, o corte será aplicado aos
consumidores que não respeitarem sua meta de consumo.
Segundo a Folha apurou, o governo também considera difícil a
aplicação jurídica da medida.
"Existem limitações logísticas"
disse o diretor-geral da Aneel
(Agência Nacional de Energia Elétrica), José Mário Abdo, referindo-se à possibilidade de cortes generalizados de energia.
Ao contrário dos apagões programados, que podem ser efetuados quase sempre de uma sala de
operação da distribuidora, os cortes individuais exigem desligamentos manuais feitos um a um.
Um dos principais técnicos na
elaboração do plano de racionamento disse à Folha que não haverá gente o suficiente nas distribuidoras para desligarem as casas, se a maioria dos consumidores decidir não respeitar sua meta
de consumo.
Segundo essa fonte, que pediu
para não ser identificada, em junho o governo deve ser bastante
flexível no cumprimento das metas, pois a população precisaria de
um tempo para saber como alcançar sua meta de economia.
O corte individual, que poderá
ser aplicado também para a indústria e o comércio, deve funcionar apenas como medida exemplar para punir os casos em que
houver abuso no desrespeito às
regras do plano de racionamento.
Multas de trânsito
Uma autoridade do governo
comparou o sistema de cortes individuais com as multas de trânsito por excesso de velocidade.
Muitas vezes o motorista excede a
velocidade, mas não é autuado,
pois não seria possível fiscalizar
todos os carros. O mesmo acontece com o corte individual. Ou seja,
a punição para quem não cumprir a regra é de difícil execução.
A ameaça de deixar as casas sem
energia por até seis dias consecutivos só funcionará como pressão
para que a sociedade se engaje no
esforço para evitar que o país pare
por falta de luz. Se houver um boicote coletivo, o plano falha. O próprio "ministro do apagão", Pedro
Parente, disse que, se a população
não fizer seu esforço, o plano fracassa e será preciso passar para os
apagões programados.
Outro problema do plano é o
valor das multas, que alguns não
consideram altas o suficiente para
convencer os mais ricos a economizar. São as classes sociais mais
altas que farão a maior redução
no gasto de energia. Como são esses consumidores os de maior poder aquisitivo, eles poderão optar
por pagar mais caro pela energia
para não perder seu conforto. Opção que podem fazer se perceberem que o corte individual não
passa de uma ameaça do governo.
As próprias distribuidoras alertaram o governo de que não conseguiriam implementar o sistema
de cotas até 1º de junho e pediram
um prazo de mais 15 dias. Elas terão até 30 de junho para finalizar a
implementação.
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