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EFEITO DIRETO
Indústria deverá crescer menos
DA SUCURSAL DO RIO
O pacote de racionamento do
governo vai brecar o crescimento
da indústria, de acordo com os especialistas ouvidos pela Folha,
uma vez que a produção sempre
cresce no segundo semestre e os
cortes de consumo de energia terão que ser baseados em médias
do primeiro semestre do ano passado.
Para o economista Adílson de
Oliveira, da UFRJ, a meta de redução que vai ser cobrada dos consumidores industriais de alta tensão terá efeitos mais perversos do
que parece à primeira vista.
Ao estabelecer como parâmetro
para a redução do consumo de
energia os meses de maio, junho e
julho do ano passado, o governo
está, na verdade, forçando as indústrias a produzirem menos do
que elas fazem hoje, segundo o
professor.
"Entre maio e julho de 2000, as
empresas já estavam consumindo
mais ou quase o mesmo que consomem hoje. Do ano passado para cá, o gasto de energia aumentou. Como a produção é sempre
maior no segundo semestre, a redução terá de ser drástica", disse
Oliveira, ressaltando que se trata
de uma constatação, e não de uma
crítica.
A expansão da indústria foi a
principal responsável pela manutenção do crescimento da economia no primeiro trimestre deste
ano.
O Brasil cresceu, entre janeiro e
março, tanto quanto havia crescido nos dois últimos trimestres de
2000, porque a indústria segurou
seu ritmo de produção.
Agora, na avaliação de Luís Pinguelli Rosa e Maurício Tolmasquim, da Coppe/UFRJ, será impossível para a indústria economizar energia sem reduzir a produção.
"A nossa indústria não é tão ineficiente quanto se pensa e, para
que ela consiga reduzir em 20%
seu consumo de energia, vai ser
impossível não diminuir a produção. Isso deve acarretar sérios
problemas para o desenvolvimento do país", disse Tolmasquim, lembrando que o racionamento prescrito ontem se soma à
medida anunciada quarta-feira
que proíbe novas ligações de
energia elétrica para a indústria e
o comércio.
Os especialistas, entretanto, ressaltam que as medidas para a indústria são mais acertadas do que
as direcionadas ao público residencial.
As empresas têm liberdade para
negociar sua cota de redução e leiloar o "volume economizado" no
MAE (Mercado Atacadista de
Energia), onde os preços são mais
altos.
Para Rogério Rocha, professor
da Fundação Getúlio Vargas, as
indústrias poderão ser mais bem-sucedidas no cumprimento do
pacote do que os consumidores
residenciais, justamente pela liberdade de planejamento.
Roberto Schaeffer, professor da
Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia) e especializado em planejamento do setor elétrico, concorda com a avaliação, mas faz uma
sugestão.
Segundo ele, as indústrias mais
consumidoras com menor valor
agregado por kWh (que gastam
mais energia e produzem menos
riqueza) devem ter cotas maior de
redução de consumo. Ele cita os
exemplos dos setores de alumínio
e siderurgia.
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