São Paulo, sábado, 19 de maio de 2001

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EFEITO DIRETO

Indústria deverá crescer menos

DA SUCURSAL DO RIO

O pacote de racionamento do governo vai brecar o crescimento da indústria, de acordo com os especialistas ouvidos pela Folha, uma vez que a produção sempre cresce no segundo semestre e os cortes de consumo de energia terão que ser baseados em médias do primeiro semestre do ano passado.
Para o economista Adílson de Oliveira, da UFRJ, a meta de redução que vai ser cobrada dos consumidores industriais de alta tensão terá efeitos mais perversos do que parece à primeira vista.
Ao estabelecer como parâmetro para a redução do consumo de energia os meses de maio, junho e julho do ano passado, o governo está, na verdade, forçando as indústrias a produzirem menos do que elas fazem hoje, segundo o professor.
"Entre maio e julho de 2000, as empresas já estavam consumindo mais ou quase o mesmo que consomem hoje. Do ano passado para cá, o gasto de energia aumentou. Como a produção é sempre maior no segundo semestre, a redução terá de ser drástica", disse Oliveira, ressaltando que se trata de uma constatação, e não de uma crítica.
A expansão da indústria foi a principal responsável pela manutenção do crescimento da economia no primeiro trimestre deste ano.
O Brasil cresceu, entre janeiro e março, tanto quanto havia crescido nos dois últimos trimestres de 2000, porque a indústria segurou seu ritmo de produção.
Agora, na avaliação de Luís Pinguelli Rosa e Maurício Tolmasquim, da Coppe/UFRJ, será impossível para a indústria economizar energia sem reduzir a produção.
"A nossa indústria não é tão ineficiente quanto se pensa e, para que ela consiga reduzir em 20% seu consumo de energia, vai ser impossível não diminuir a produção. Isso deve acarretar sérios problemas para o desenvolvimento do país", disse Tolmasquim, lembrando que o racionamento prescrito ontem se soma à medida anunciada quarta-feira que proíbe novas ligações de energia elétrica para a indústria e o comércio.
Os especialistas, entretanto, ressaltam que as medidas para a indústria são mais acertadas do que as direcionadas ao público residencial.
As empresas têm liberdade para negociar sua cota de redução e leiloar o "volume economizado" no MAE (Mercado Atacadista de Energia), onde os preços são mais altos.
Para Rogério Rocha, professor da Fundação Getúlio Vargas, as indústrias poderão ser mais bem-sucedidas no cumprimento do pacote do que os consumidores residenciais, justamente pela liberdade de planejamento.
Roberto Schaeffer, professor da Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia) e especializado em planejamento do setor elétrico, concorda com a avaliação, mas faz uma sugestão.
Segundo ele, as indústrias mais consumidoras com menor valor agregado por kWh (que gastam mais energia e produzem menos riqueza) devem ter cotas maior de redução de consumo. Ele cita os exemplos dos setores de alumínio e siderurgia.



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