São Paulo, sábado, 19 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VAI DAR CERTO?

Sucesso do programa é duvidoso

DA SUCURSAL DO RIO

Os cinco especialistas ouvidos pela Folha divergem quanto ao nível de eficácia das medidas anunciadas ontem pelo governo para reduzir em 20% o consumo de energia.
Para os professores da Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia) Roberto Schaeffer e Maurício Tolmasquim, as medidas, certamente, se traduzirão em queda do consumo de energia. A dúvida de ambos, porém, é de quanto será a redução e se ela será suficiente para evitar os apagões programados.
"As pessoas vão acabar reduzindo um pouco o consumo. Mas, se a meta não for alcançada, a situação do governo vai se complicar ainda mais. A cada mês em que deixa de fazer o corte, aumenta a dificuldade do governo para afastar o apagão", disse Tolmasquim.
Adílson de Oliveira, professor de economia da energia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), acredita que, se as medidas tiverem 100% de sucesso, o apagão vai mesmo ser adiado. "Mas avaliar isso agora é muito difícil", ressalta.
O professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rogério Rocha vai em sentido contrário. Para ele, as medidas do pacote são de difícil aplicação e, por isso, não terão o resultado esperado -a menos que a população corte o seu consumo devido ao temor imposto pelo governo com o anúncio do pacote.
Na opinião de Rocha, o ônus ficará todo com as distribuidoras, que deverão aumentar seus custos para faturar as contas, que terão de incluir a cobrança de multas e o pagamento de bônus, além de colocar mais funcionários nas ruas para cortar a luz de quem for punido por excesso de consumo.
Rocha avaliou que, para se adaptarem às medidas, as empresas vão precisar de, pelo menos, 40 dias. Já Schaeffer acredita que só daqui a dois meses será possível medir a redução do consumo residencial.
"Só vamos saber no final de julho se as pessoas reduziram o consumo. No primeiro mês, vão cortar o que dá. Depois, no mês seguinte, ajustar o seu corte para os 20%", disse Schaeffer.
Ele disse que, caso o governo não consiga uma redução de 20% a cada mês, a diferença deve ser poupada no mês seguinte, o que poderia levar a uma situação difícil. Isso porque os reservatórios, mesmo com o plano de racionamento, devem cair 4% ao mês até novembro, chegando ao nível perigoso de 10%.
De acordo com Schaeffer, o impacto das medidas de contenção na economia será menor do que se fossem adotados os cortes programados, porque elas, diferentemente dos apagões, "não são lineares". Ou seja, atingem de forma diferente os vários setores econômicos.
Por causa disso, segundo ele, é possível um planejamento e uma negociação do governo para poupar alguns setores que têm maior peso na economia.
Oliveira considerou ainda que as medidas que afetam os consumidores rurais eram desnecessárias. Segundo ele, o setor consome somente 0,3% de toda energia produzida no país e depende de produtos perecíveis. "E, ainda por cima, é um setor que, volta e meia, segura a economia."



Texto Anterior: Análise: Para especialistas, pobres sofrerão aumento de tarifa
Próximo Texto: Efeito direto: Indústria deverá crescer menos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.