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VAI DAR CERTO?
Sucesso do programa é duvidoso
DA SUCURSAL DO RIO
Os cinco especialistas ouvidos
pela Folha divergem quanto ao
nível de eficácia das medidas
anunciadas ontem pelo governo
para reduzir em 20% o consumo
de energia.
Para os professores da Coppe
(Coordenação de Programas de
Pós-Graduação em Engenharia)
Roberto Schaeffer e Maurício Tolmasquim, as medidas, certamente, se traduzirão em queda do
consumo de energia. A dúvida de
ambos, porém, é de quanto será a
redução e se ela será suficiente para evitar os apagões programados.
"As pessoas vão acabar reduzindo um pouco o consumo. Mas, se
a meta não for alcançada, a situação do governo vai se complicar
ainda mais. A cada mês em que
deixa de fazer o corte, aumenta a
dificuldade do governo para afastar o apagão", disse Tolmasquim.
Adílson de Oliveira, professor
de economia da energia da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro), acredita que, se as medidas tiverem 100% de sucesso, o
apagão vai mesmo ser adiado.
"Mas avaliar isso agora é muito
difícil", ressalta.
O professor da FGV (Fundação
Getúlio Vargas) Rogério Rocha
vai em sentido contrário. Para ele,
as medidas do pacote são de difícil
aplicação e, por isso, não terão o
resultado esperado -a menos
que a população corte o seu consumo devido ao temor imposto
pelo governo com o anúncio do
pacote.
Na opinião de Rocha, o ônus ficará todo com as distribuidoras,
que deverão aumentar seus custos para faturar as contas, que terão de incluir a cobrança de multas e o pagamento de bônus, além
de colocar mais funcionários nas
ruas para cortar a luz de quem for
punido por excesso de consumo.
Rocha avaliou que, para se
adaptarem às medidas, as empresas vão precisar de, pelo menos,
40 dias. Já Schaeffer acredita que
só daqui a dois meses será possível medir a redução do consumo
residencial.
"Só vamos saber no final de julho se as pessoas reduziram o
consumo. No primeiro mês, vão
cortar o que dá. Depois, no mês
seguinte, ajustar o seu corte para
os 20%", disse Schaeffer.
Ele disse que, caso o governo
não consiga uma redução de 20%
a cada mês, a diferença deve ser
poupada no mês seguinte, o que
poderia levar a uma situação difícil. Isso porque os reservatórios,
mesmo com o plano de racionamento, devem cair 4% ao mês até
novembro, chegando ao nível perigoso de 10%.
De acordo com Schaeffer, o impacto das medidas de contenção
na economia será menor do que
se fossem adotados os cortes programados, porque elas, diferentemente dos apagões, "não são lineares". Ou seja, atingem de forma diferente os vários setores
econômicos.
Por causa disso, segundo ele, é
possível um planejamento e uma
negociação do governo para poupar alguns setores que têm maior
peso na economia.
Oliveira considerou ainda que
as medidas que afetam os consumidores rurais eram desnecessárias. Segundo ele, o setor consome
somente 0,3% de toda energia
produzida no país e depende de
produtos perecíveis. "E, ainda por
cima, é um setor que, volta e meia,
segura a economia."
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