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MERCADO FINANCEIRO
Investidores esperavam corte na Selic, mas já não consideram hipótese; pode haver realização de lucro
Bolsa começa a semana sem tendência
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do balde de água fria na
expectativa de queda dos juros na
próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que
acaba na quarta-feira, analistas
afirmam que a Bolsa deve ficar
sem tendência definida, com a
possibilidade de realizar lucros.
Entre executivos do mercado financeiro, pipocam críticas à cúpula do governo, seja pelo excesso
de conservadorismo na política
monetária, seja pelo que chamam
de "informalidade na comunicação". Recentemente, o presidente
da República, o vice-presidente,
ministros, deputados e autoridades do Banco Central têm se revezado sob os holofotes para dar declarações sobre o câmbio.
"Fica a dúvida: é inexperiência
ou desconhecimento -ou os
dois?", pergunta o executivo de
um grande banco.
"Alan Greenspan, presidente do
Federal Reserve (o banco central
americano) apenas faz declarações em situações muito formais,
não a toda hora -e assim é que
tem que ser", afirma.
"Imagine se, nos Estados Unidos, dezenas de microfones iriam
parar na boca do Greenspan diariamente. Ele não aceitaria falar",
concorda Alexandre Póvoa, economista e estrategista do Banco
Modal. "Tampouco um ministro
norte-americano palpitaria sobre
a desvalorização do dólar em relação ao euro..."
Para Póvoa, as autoridades brasileiras "na política e no Banco
Central aparentam não ter aprendido a conviver com o câmbio flutuante: a cada palpite contraditório, mais volatilidade no câmbio".
Como voz destoante nessa discussão, aparece Júlio Ziegelman,
do BankBoston. "É preciso falar
sobre o que se está vendo."
Selic
Apesar de crítico quanto à forma de comunicação do novo governo, Póvoa afirma acompanhar
a argumentação do BC e defender
a manutenção dos juros básicos
da economia (a taxa Selic).
Para ele, o Copom não deveria
usar o viés, instrumento que permite ao presidente do BC alterar
os juros sem a necessidade de realizar nova reunião.
"É preciso responsabilidade para não jogar tudo o que foi reconquistado ladeira abaixo", diz.
A taxa Selic está atualmente em
26,5% ao ano, sem alteração desde fevereiro, quando foi elevada
em um ponto percentual.
Taxa real
Para o economista e estrategista
do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, que defende o corte da Selic, o BC se detém
na taxa de juros nominal, quando
"o que é relevante é a taxa real."
"Com a inflação em queda, a taxa de juros real vai ficar mais alta.
A política monetária vai ficar ainda mais apertada. (Sem necessidade) porque há excesso de oferta
e demanda reprimida. A economia está parada e o que segura é a
demanda externa de exportações", diz.
Para ele, isso também pode se
perder. Com o risco de deflação
nos Estados Unidos e com a Europa e o Japão em estagnação ou recessão, segundo o economista,
"não tem como não caírem as exportações brasileiras".
Câmbio
Além de esperar o resultado oficial do Copom, investidores continuarão atentos ao câmbio e aos
índices de inflação.
Três indicadores de preços
saem antes do encerramento da
reunião do BC.
A segunda prévia do IGP-M sai
hoje. Amanhã, serão divulgados o
IGP-10 de maio e a segunda quadrissemana do mês do IPC (Índice de Preços ao Consumidor). O
indicador deverá apontar arrefecimento da inflação, decorrente
de quedas adicionais dos preços
dos combustíveis.
"Mas o câmbio é o mais importante", diz Ziegelman. "Tem forte
impacto na economia e, abaixo de
R$ 3 prejudica a balança comercial."
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