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PAULO SAFADY SIMÃO
Os benefícios do real forte
O câmbio valorizado decorre de conjuntura econômica saudável, que melhora a cada dia os seus fundamentos
MUITO SE tem criticado a valorização real. Ora se fala
da ameaça à industrialização, ora dos empregos que o Brasil
ajuda a gerar no exterior, em detrimento da competitividade de algumas empresas exportadoras brasileiras, e, por vezes, do perigo de vermos o país inundado de produtos
supérfluos vindos do estrangeiro.
A nosso ver, os benefícios criados
pelo real forte são evidentes. Vale a
pena reflexão mais profunda sobre o
assunto para entender as razões.
Em primeiro lugar, a política cambial brasileira tem desempenhado
papel fundamental no processo de
estabilidade econômica representado pelo Plano Real. O câmbio valorizado é decorrência de uma conjuntura econômica saudável, que melhora a cada dia seus fundamentos
-pois, quando o país está bem, passa a atrair recursos e sua moeda tende a se valorizar. Diante dessa realidade, não há mais espaço para pensar em câmbio prefixado. O Brasil já
apresenta um quadro sólido de estabilidade econômica, reservas cambiais elevadas e boa presença no cenário financeiro internacional, o
que lhe dá credibilidade e boas perspectivas futuras. Devemos, portanto, buscar as oportunidades decorrentes desse cenário favorável.
Existe, é claro, a necessidade de
buscar soluções que amenizem os
problemas causados pela valorização do real. O que nos parece mais
importante, no momento, é trabalhar em outras frentes para aumentar a competitividade de nossos produtos. Devemos considerar que esse
problema não pode ser atribuído
apenas ao câmbio, mas também à
carga tributária abusiva, às altas taxas de juros, ao elevado custo de
contratação do trabalho formal, ao
absurdo nível de burocracia presente no nosso dia-a-dia e às limitações
do setor de infra-estrutura.
Essa é uma ótima oportunidade,
também, para incrementar as importações "virtuosas", ou seja, as importações de fatores de produção,
bens de capital e tecnologia, visando
a modernização dos parques industriais -que se encontram aquém do
exigido por um processo de crescimento acelerado e sustentado.
Temos ainda que encontrar uma
forma de elevar a renda doméstica e
melhorar a distribuição das riquezas
nacionais. Nesse sentido, parece-nos fundamental discutir e aprovar
as chamadas reformas estruturais,
ou seja, as reformas política, tributária, trabalhista, sindical e da Previdência, dando ênfase à redução dos
gastos públicos, a fim de que uma
eventual desvalorização do câmbio
não seja absorvida pela máquina estatal em prejuízo do setor produtivo.
O fato é que, apesar das últimas
mudanças anunciadas pelo governo,
a base da política econômica continua a mesma há mais de 13 anos. Assim, podemos concluir que as correntes políticas dominantes concordam com as opções econômicas do
governo, gerando um ambiente de
negócios favorável (com maior segurança e menor risco) que torna
praticamente irreversíveis os avanços obtidos no curto prazo.
Os novos termos de troca permitiram o retorno do foco para a economia doméstica, elevando a rentabilidade de setores mais voltados para
"dentro", que passam a figurar como
indispensáveis no novo paradigma.
Por exemplo, o setor da construção e
do mercado imobiliário, que temos a
honra de representar nacionalmente, que reassume sua importância na
economia após as perdas representadas pelos planos econômicos das
décadas de 80 e 90. Assistimos hoje,
como resultado da estabilidade conquistada, ao crescimento do crédito
e ao retorno da confiança de investidores e consumidores. Assistimos,
enfim, a um momento extremamente propício aos investimentos
produtivos, que geram salário e renda para a maioria dos brasileiros.
PAULO SAFADY SIMÃO é presidente da CBIC (Câmara
Brasileira da Indústria da Construção) e integrante do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
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