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agrofolha
Sem Argentina, trigo pode custar mais
Com pouca oferta no país vizinho, Brasil terá de buscar cereal nos EUA e no Canadá, pagando mais pelo produto e pelo frete
Mas gasto com importação distante será amenizado porque a tonelada custa menos neste ano (US$ 205) do que em 2008 (US$ 311)
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Sempre dependente de trigo,
o Brasil terá de buscar mercados mais distantes para completar a cota de importações do
cereal nesta safra que se inicia.
A Argentina, tradicional fornecedora e que já teve problemas no fornecimento ao país
em 2008, deverá ter pouco produto a oferecer. Envoltos em
uma série de problemas, vindos
tanto da lavoura como da política intervencionista do governo, os argentinos estão abandonando o trigo e podem semear
apenas 3,7 milhões de hectares
-a menor área em 20 anos.
Com um plantio tão reduzido
e o desinteresse dos produtores, a safra total de trigo do país
vizinho poderia cair para até 6
milhões, segundo as estimativas mais pessimistas. Algumas
ainda apontam para volume de
até 11 milhões. Em 2007/8, os
argentinos produziram 16 milhões de toneladas e o consumo
interno girou em 6 milhões.
Diante desse cenário incerto
na Argentina, Lawrence Pih, do
Moinho Pacífico, acredita que
os vizinhos terão de 1 milhão a,
no máximo, 4 milhões de toneladas para exportar. Na última
safra, exportaram 4,5 milhões.
Já o Brasil, com produção
prevista de 5,5 milhões a 6 milhões de toneladas e consumo
próximo de 11 milhões, terá de
buscar o restante em mercados
como EUA e Canadá, elevando
o custo das importações. O produto é mais caro e o custo do
transporte é maior.
Para alívio do consumidor
brasileiro, o pãozinho sobe
pouco, segundo Pih. Após a retomada da recomposição de estoques mundiais, que estarão
em 182 milhões de toneladas no
final da safra 2009/ 10, devido à
alta de produção, o trigo está
com tendência de queda.
No ano passado, as importações brasileiras foram feitas,
em média, a US$ 311 por tonelada. Neste ano, estão em US$
205, segundo Ataídes Jacobsen, assistente técnico estadual
de trigo da Emater/RS-Ascar.
Pelas contas de algumas entidades argentinas, as exportações podem ser tão ruins como
foram as de 1952, quando a Argentina colocou apenas 60 mil
toneladas no mercado externo.
A confirmação desse cenário
ruim por lá pode ser favorável
aos produtores nacionais, que
estão em período de plantio.
Os preços mais elevados do
trigo no mercado externo podem dar suporte ao produto
brasileiro, segundo Otmar
Hubner, do Deral paranaense.
Para Jacobsen, o governo deverá manter a TEC (Tarifa Externa Comum, do Mercosul,
que impõe uma taxa de 10% para o trigo importado fora da região) para que o produtor nacional aproveite essa escassez
de trigo na Argentina. O governo brasileiro já avisou que não
libera essa taxa antes de agosto.
Mas o produtor, especialmente o gaúcho, ainda está
apreensivo. Houve muita dificuldade nas negociações do trigo de 2008 e se a queda do dólar
persistir, como ocorreu nas últimas semanas, as importações
serão facilitadas, colocando de
novo o produto brasileiro fora
das prioridades dos moinhos,
segundo Jacobsen.
Situação instável
A área a ser semeada na Argentina deverá cair para 3,7 milhões de toneladas, segundo a
Bolsa de Cereais de Buenos Aires. O país vizinho ainda vive os
efeitos de uma forte seca e escassez de financiamento para
os insumos. Além disso, a intervenção do governo no setor, segurando exportações e derrubando preços, deixa os produtores desanimados.
Já no Brasil, com o incentivo
dado pelo governo aos preços
mínimos nas duas últimas safras, a produção poderá voltar a
6 milhões de toneladas, na avaliação de Pih. A Conab estima
volume um pouco menor.
O Paraná, maior produtor
nacional, aumenta a área para
1,17 milhão de hectares e a produção fica entre 2,94 milhões e
3,25 milhões de toneladas, segundo Hubner. Já os gaúchos
devem semear 865 mil hectares, 11% a menos do que em
2008. A produção recua para
1,72 milhão de toneladas, contra 2,2 milhões de 2008.
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