São Paulo, terça-feira, 19 de maio de 2009

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agrofolha

Sem Argentina, trigo pode custar mais

Com pouca oferta no país vizinho, Brasil terá de buscar cereal nos EUA e no Canadá, pagando mais pelo produto e pelo frete

Mas gasto com importação distante será amenizado porque a tonelada custa menos neste ano (US$ 205) do que em 2008 (US$ 311)


MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Sempre dependente de trigo, o Brasil terá de buscar mercados mais distantes para completar a cota de importações do cereal nesta safra que se inicia.
A Argentina, tradicional fornecedora e que já teve problemas no fornecimento ao país em 2008, deverá ter pouco produto a oferecer. Envoltos em uma série de problemas, vindos tanto da lavoura como da política intervencionista do governo, os argentinos estão abandonando o trigo e podem semear apenas 3,7 milhões de hectares -a menor área em 20 anos.
Com um plantio tão reduzido e o desinteresse dos produtores, a safra total de trigo do país vizinho poderia cair para até 6 milhões, segundo as estimativas mais pessimistas. Algumas ainda apontam para volume de até 11 milhões. Em 2007/8, os argentinos produziram 16 milhões de toneladas e o consumo interno girou em 6 milhões.
Diante desse cenário incerto na Argentina, Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, acredita que os vizinhos terão de 1 milhão a, no máximo, 4 milhões de toneladas para exportar. Na última safra, exportaram 4,5 milhões.
Já o Brasil, com produção prevista de 5,5 milhões a 6 milhões de toneladas e consumo próximo de 11 milhões, terá de buscar o restante em mercados como EUA e Canadá, elevando o custo das importações. O produto é mais caro e o custo do transporte é maior.
Para alívio do consumidor brasileiro, o pãozinho sobe pouco, segundo Pih. Após a retomada da recomposição de estoques mundiais, que estarão em 182 milhões de toneladas no final da safra 2009/ 10, devido à alta de produção, o trigo está com tendência de queda.
No ano passado, as importações brasileiras foram feitas, em média, a US$ 311 por tonelada. Neste ano, estão em US$ 205, segundo Ataídes Jacobsen, assistente técnico estadual de trigo da Emater/RS-Ascar.
Pelas contas de algumas entidades argentinas, as exportações podem ser tão ruins como foram as de 1952, quando a Argentina colocou apenas 60 mil toneladas no mercado externo. A confirmação desse cenário ruim por lá pode ser favorável aos produtores nacionais, que estão em período de plantio.
Os preços mais elevados do trigo no mercado externo podem dar suporte ao produto brasileiro, segundo Otmar Hubner, do Deral paranaense.
Para Jacobsen, o governo deverá manter a TEC (Tarifa Externa Comum, do Mercosul, que impõe uma taxa de 10% para o trigo importado fora da região) para que o produtor nacional aproveite essa escassez de trigo na Argentina. O governo brasileiro já avisou que não libera essa taxa antes de agosto.
Mas o produtor, especialmente o gaúcho, ainda está apreensivo. Houve muita dificuldade nas negociações do trigo de 2008 e se a queda do dólar persistir, como ocorreu nas últimas semanas, as importações serão facilitadas, colocando de novo o produto brasileiro fora das prioridades dos moinhos, segundo Jacobsen.

Situação instável
A área a ser semeada na Argentina deverá cair para 3,7 milhões de toneladas, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires. O país vizinho ainda vive os efeitos de uma forte seca e escassez de financiamento para os insumos. Além disso, a intervenção do governo no setor, segurando exportações e derrubando preços, deixa os produtores desanimados.
Já no Brasil, com o incentivo dado pelo governo aos preços mínimos nas duas últimas safras, a produção poderá voltar a 6 milhões de toneladas, na avaliação de Pih. A Conab estima volume um pouco menor.
O Paraná, maior produtor nacional, aumenta a área para 1,17 milhão de hectares e a produção fica entre 2,94 milhões e 3,25 milhões de toneladas, segundo Hubner. Já os gaúchos devem semear 865 mil hectares, 11% a menos do que em 2008. A produção recua para 1,72 milhão de toneladas, contra 2,2 milhões de 2008.


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