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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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Mesmo com redução, taxa real sobe

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda dos juros do Banco Central apenas aparenta ser uma folga na política monetária. Os juros reais, calculados a partir da expectativa de inflação futura, estão até mais altos agora do que no mês passado, quando a taxa do BC foi mantida em 26,5%.
A Selic de 26% equivale a um juro real de 16,93% ao ano, levando em conta que a expectativa do mercado para o IPCA dos próximos 12 meses é de 7,76%, segundo pesquisa realizada pelo próprio BC para balizar as decisões de seu Comitê de Política Monetária. Em maio, a taxa representava um juro real de 16,81%, diante da inflação esperada de 8,3%. Ou seja: a inflação projetada caiu mais que os juros.
Para analisar os impactos na atividade econômica e no controle dos preços, os juros reais são um indicador mais relevante que a taxa nominal arbitrada pelo BC. E cada vez mais o governo utiliza a inflação futura como parâmetro para as decisões do Copom.
Na prática, portanto, o governo manteve inalterada sua estratégia de aperto monetário, limitando-se a evitar um aumento ainda maior dos juros reais, que ocorreria se a taxa nominal do BC não tivesse caído.
A Folha pesquisou as expectativas do mercado para o IPCA futuro desde janeiro de 2002, sempre adotando o índice apurado nas sextas-feiras imediatamente anteriores às reuniões do Copom -os dados, cuja série começa em novembro de 2001, são divulgados semanalmente pelo BC.
Cruzando os dados com a Selic fixada em cada mês, conclui-se que os juros reais de hoje são os mais altos do período. Mais: seguem uma escalada de elevações contínuas iniciada depois de novembro do ano passado. O levantamento ajuda a entender a trajetória recente da atuação do BC, especialmente após a eleição do presidente Lula. De janeiro a setembro de 2002, o BC manteve a Selic numa tendência suave de queda, de 19% para 18% em nove meses, apesar de as expectativas de inflação mostrarem crescimento de 4,75% para 5,53%.
Boa parte do mercado avalia que o BC foi "frouxo" no período -não falta quem especule que se tratou de uma opção política para atenuar o desgaste do candidato tucano ao Planalto, José Serra. De outubro, mês das eleições, para novembro, as estimativas do mercado para a inflação futura explodiram: passaram de 6,21% para 10,63% em apenas cinco semanas.

Jogo duro
Foi quando o BC começou a endurecer o jogo. Em outubro, a Selic foi a 21%, e em novembro, a 22% -este último aumento foi apoiado, nos bastidores, pela equipe de transição de Lula, comandada pelo hoje ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Não foi o bastante. Em dezembro, a expectativa de inflação futura subiu para 12,38%, e o Copom fixou a Selic em 25%. Como resultado, a herança deixada para Lula foi um juro real de 11,23%.
Somente a partir daí, a inflação projetada voltou a cair, mas numa velocidade inferior à desejada pela equipe econômica, o que provocou novos aumentos da Selic em janeiro e em fevereiro.


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