|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mesmo com redução, taxa real sobe
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A queda dos juros do Banco
Central apenas aparenta ser uma
folga na política monetária. Os juros reais, calculados a partir da expectativa de inflação futura, estão
até mais altos agora do que no
mês passado, quando a taxa do
BC foi mantida em 26,5%.
A Selic de 26% equivale a um juro real de 16,93% ao ano, levando
em conta que a expectativa do
mercado para o IPCA dos próximos 12 meses é de 7,76%, segundo pesquisa realizada pelo próprio BC para balizar as decisões
de seu Comitê de Política Monetária. Em maio, a taxa representava um juro real de 16,81%, diante
da inflação esperada de 8,3%. Ou
seja: a inflação projetada caiu
mais que os juros.
Para analisar os impactos na atividade econômica e no controle
dos preços, os juros reais são um
indicador mais relevante que a taxa nominal arbitrada pelo BC. E
cada vez mais o governo utiliza a
inflação futura como parâmetro
para as decisões do Copom.
Na prática, portanto, o governo
manteve inalterada sua estratégia
de aperto monetário, limitando-se a evitar um aumento ainda
maior dos juros reais, que ocorreria se a taxa nominal do BC não tivesse caído.
A Folha pesquisou as expectativas do mercado para o IPCA futuro desde janeiro de 2002, sempre
adotando o índice apurado nas
sextas-feiras imediatamente anteriores às reuniões do Copom -os
dados, cuja série começa em novembro de 2001, são divulgados
semanalmente pelo BC.
Cruzando os dados com a Selic
fixada em cada mês, conclui-se
que os juros reais de hoje são os
mais altos do período. Mais: seguem uma escalada de elevações
contínuas iniciada depois de novembro do ano passado. O levantamento ajuda a entender a trajetória recente da atuação do BC,
especialmente após a eleição do
presidente Lula. De janeiro a setembro de 2002, o BC manteve a
Selic numa tendência suave de
queda, de 19% para 18% em nove
meses, apesar de as expectativas
de inflação mostrarem crescimento de 4,75% para 5,53%.
Boa parte do mercado avalia
que o BC foi "frouxo" no período
-não falta quem especule que se
tratou de uma opção política para
atenuar o desgaste do candidato
tucano ao Planalto, José Serra. De
outubro, mês das eleições, para
novembro, as estimativas do mercado para a inflação futura explodiram: passaram de 6,21% para
10,63% em apenas cinco semanas.
Jogo duro
Foi quando o BC começou a endurecer o jogo. Em outubro, a Selic foi a 21%, e em novembro, a 22% -este último aumento foi apoiado, nos bastidores, pela
equipe de transição de Lula, comandada pelo hoje ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Não foi o bastante. Em dezembro, a expectativa de inflação futura subiu para 12,38%, e o Copom fixou a Selic em 25%. Como resultado, a herança deixada para
Lula foi um juro real de 11,23%.
Somente a partir daí, a inflação projetada voltou a cair, mas numa
velocidade inferior à desejada pela equipe econômica, o que provocou novos aumentos da Selic em janeiro e em fevereiro.
Texto Anterior: BC reduz juro pela 1ª vez desde julho do ano passado Próximo Texto: Economia do governo chega a R$ 2 bilhões Índice
|