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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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"Convergência de inflação para metas" reduz taxa para 26% ao ano

BC reduz juro pela 1ª vez desde julho do ano passado

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de várias semanas sob forte pressão, o Banco Central reduziu ontem os juros básicos da economia. A queda, de 0,5 ponto percentual, foi anunciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária do BC). A nova taxa foi fixada em 26% ao ano e passa a vigorar a partir de hoje.
Não foi indicada nenhuma tendência (viés) para a taxa, o que significa que ela deve ser mantida até a próxima reunião do Copom, marcada para os dias 22 e 23 de julho. O BC não reduzia os juros desde julho do ano passado.
Foi o primeiro corte na taxa Selic do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo com a redução, porém, os juros continuam superiores aos 25% anuais praticados pelo BC quando o presidente assumiu seu mandato.
A explicação para a queda dos juros foi apresentada pelo BC em uma única frase: "As projeções de inflação indicam convergência para as metas", dizia a nota divulgada no início da tarde. "Em razão disso, o Copom decidiu, por unanimidade, fixar a taxa Selic em 26% ao ano, sem viés."
Os detalhes que levaram à decisão de reduzir os juros só devem ser conhecidos na semana que vem, quando será divulgada a ata da reunião do Copom de ontem. Mas o corte da taxa Selic, por si só, pode ser um sinal de que o BC desistiu de buscar a meta, fixada por ele mesmo, de manter a inflação deste ano em 8,5%.
Entre janeiro e maio, a alta dos preços, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), ficou acumulada em 6,8%. Para que a meta de 8,5% seja cumprida, é preciso que, de agora em diante, a inflação se estabilize em 0,24% por mês -em maio, ela ficou em 0,61%.
O BC defende que, quando há riscos de descumprimento da meta de inflação, os juros devam ser elevados. Juros mais altos desestimulam o consumo e os investimentos, levando a um desaquecimento da economia. Assim, as empresas teriam menos espaço para reajustar os seus preços, ou seja, a inflação seria contida.
O impacto da queda da taxa Selic na economia, porém, deve ser limitado, pelo menos no curto prazo. A Selic é a taxa utilizada nos empréstimos diários entre o BC e os bancos. Ela serve de referência para os juros praticados pelos bancos nos empréstimos concedidos a seus clientes.
O problema é que a diferença entre a Selic e os juros bancários é grande. No crédito pessoal, os bancos chegam a cobrar mais de 100% ao ano. Assim, uma redução de 0,5 ponto promovida pelo BC tem pouco efeito sobre as taxas cobradas pelos bancos, mas pode ter um impacto positivo significativo na economia.
Caso empresas e consumidores entendam que a decisão de ontem é um sinal de que o BC vai reduzir gradualmente os juros no médio prazo, eles podem ficar mais confiantes no futuro da economia, sendo levados a comprar e investir mais.
Nas últimas semanas, porém, eram cada vez mais fortes as pressões para que o BC reduzisse os juros, devido ao caráter recessivo das elevadas taxas praticadas no país. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ameaçou com demissões caso a taxa não fosse reduzida.
No governo, o vice-presidente, José Alencar, era o maior crítico à atuação do BC, defendendo que as decisões sobre juros deveriam ser políticas, e não técnicas. Para o BC, a instituição deve ter autonomia para fixar os juros no nível que julgar necessário para conter a inflação, mesmo que isso se traduza em menos crescimento.
Na última segunda-feira, o governo lançou o documento "Roteiro para Agenda de Desenvolvimento", com idéias de políticas a serem adotadas para que o país possa retomar o crescimento.


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