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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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Meta de inflação para 2004 pode ser alterada

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estuda alterar a meta de inflação de 2004, ajustada no começo do ano para 5,5%. As discussões aumentaram nas últimas semanas, mas, pelo menos por enquanto, ainda não há consenso sobre o assunto dentro do governo.
De um lado, há na equipe econômica defensores de que esse percentual seja aumentado, para que o Banco Central tenha mais folga na condução da política monetária -ou seja, possa cortar de forma mais acentuada os juros básicos da economia. Ontem, o Banco Central promoveu um corte de 0,5 ponto percentual, derrubando a taxa Selic de 26,5% ao ano para 26% ao ano.
De outro, há quem questione o benefício de uma mudança, por temer que o sistema de metas de inflação caia no descrédito perante os agentes econômicos. Se isso ocorresse, a credibilidade do Banco Central seria afetada, tornando mais difícil a tarefa de combater a inflação.
Entre as divisões de opiniões, há um consenso entre os membros da equipe econômica: a decisão será política e, portanto, a palavra final caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No grupo dos que defendem a elevação da meta está o ministro Guido Mantega (Planejamento), que ontem não quis comentar a definição das metas de inflação. No ano passado, durante a campanha presidencial, Mantega disse que o governo Fernando Henrique Cardoso havia "forçado a barra" ao definir as metas para este ano e para o próximo.
Oficialmente, a meta de 2004 ainda está em 3,75%, com margem de 2,5 pontos percentuais. Mas em janeiro o CMN (Conselho Monetário Nacional) resolveu ajustar as metas deste ano, para 8,5%, e a de 2004, para 5,5%.

Credibilidade
Do outro lado da equipe econômica, estão o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e seus assessores diretos, que temem a possibilidade de o Banco Central perder credibilidade se a meta for alterada.
As discussões sobre mudanças na meta intensificaram-se nas últimas semanas com a aproximação da reunião do CMN deste mês, que ocorre na terça da semana que vem e na qual será definida a meta de 2005, a primeira realmente estabelecida por Lula.
Tecnicamente, a meta (ou seu raio, incluindo a margem de tolerância) a ser definida não deve ser maior do que a do ano anterior, pois passaria ao mercado a impressão de que o Banco Central iria permitir uma inflação maior e, com isso, descuidar da política monetária.
O BC tem de estar de olho sempre na trajetória da inflação. Se a meta para 2005 fosse definida, por exemplo, em 7,5% (5% de alvo central, mais dois pontos e meio de margem), seria factível acreditar que o BC não estaria preocupado em fazer com que a inflação convergisse para os 5,5% de 2004.
Assim, se o governo decidisse dar uma folga maior ao BC em 2005, teria que mexer também na meta de 2004. O BC não cumpriu as metas de 2001 e 2002, e a deste ano, de 8,5%, mesmo depois do ajuste, está praticamente descartada.


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