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CONJUNTURA
Ministro diz que corte da Selic é sinal de que estão sendo criadas as condições para o Brasil retomar o crescimento
Palocci promete esforço para juro cair mais
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, não escondeu a felicidade com a decisão do Copom
(Comitê de Política Monetária)
do Banco Central de reduzir de
26,5% para 26% ao ano a taxa básica de juros da economia e disse
que o governo fará "todos os esforços" para que "essa trajetória
de queda possa continuar".
Na véspera, Palocci havia emitido o mais nítido recado de que esperava a redução dos juros, por
mais que insistisse na tese oficial
de que o Copom toma decisões
técnicas, sem influência política.
Ontem, um Palocci ainda mais
sorridente do que o habitual, quase esqueceu da fratura no pé, ainda em consolidação, na pressa de
entrar no salão em que se reuniam os presidentes do Mercosul
para dar a Luiz Inácio Lula da Silva a notícia da queda dos juros.
O ministro havia sido informado antes de que a notícia chegasse
aos jornalistas que cobrem a cúpula do bloco, mas preferiu falar
primeiro com Lula para depois
festejar.
"É uma decisão fundamental
para o Brasil porque é um sinal
efetivo de que a inflação caminha
para as metas estabelecidas. Significa que estamos vencendo efetivamente a luta contra a inflação,
criando as condições para o Brasil
crescer", começou, quase em tom
de comício.
Depois, engatou o discurso que
vem sendo constante de parte da
equipe econômica: o controle da
inflação depende não apenas do
governo, mas de todos os agentes
econômicos, que precisam "olhar
para a frente, para a inflação futura e não a inflação passada".
"Dessa maneira, vamos conseguir a redução permanente e consistente dos juros e obter as taxas
de crescimento que todo o país
deseja."
O bordão "olhar para a inflação
futura" voltou mais quatro vezes à
entrevista do ministro, entre outras coisas para dizer que "o Copom não toma decisões voluntárias, mas em função do que ocorre na economia real, no comportamento dos preços".
Fechou o raciocínio com a avaliação de que, "se conseguirmos o
que tem sido conseguido neste
período, ou seja, que cada vez
mais os agentes econômicos
olhem para a frente, é seguro que
essa trajetória de queda pode continuar".
Diálogo com bancos
O ministro disse que o governo
vai dialogar com o setor financeiro, como tem feito com outros
segmentos, "levando a mesma
mensagem: na medida em que é
possível reduzir a taxa de juros
básica, começa a ser possível também reduzir os juros cobrados
[pelos bancos] das pessoas e das
empresas".
É uma alusão aos frequentes comentários do presidente Lula de
que, talvez mais importante do
que a taxa básica, seja reduzir os
juros cobrados em empréstimos
pessoais, no cartão de crédito ou
para as empresas.
Palocci prometeu um "esforço
de coordenação de todos os segmentos, incluindo o sistema financeiro, para que os juros sejam
reduzidos de forma coordenada".
Como é lógico, Palocci negou
que a redução dos juros tivesse
qualquer intenção de silenciar o
que uma repórter chamou de "reclamões" (os que criticam os juros altos).
"Não acredito que nem a equipe
econômica nem o Copom pretendam calar a boca de ninguém.
Nós vemos sempre como muito
salutar o debate econômico."
Retomou depois seu tema favorito, o da responsabilidade coletiva: "Os agentes econômicos não
podem só cobrar decisões do Copom, mas agir nas suas áreas para
fazer com que os indicadores econômicos caminhem bem".
"Pré-estréia"
Na véspera, conversando com a
Folha no aeroporto de Assunção,
enquanto aguardava a chegada
do presidente Lula, Palocci havia
dito, brincando, que uma eventual redução da taxa de juros na
reunião do Copom seria "a pré-estréia" do espetáculo do crescimento prometido por seu chefe.
Realizada ontem a "pré-estréia", embora em modesta dimensão, quais os próximos passos para que o espetáculo de fato
se dê?
"O início da redução das taxas
de juros indica a necessidade de
coordenarmos com eficiência todos os instrumentos que são necessários para o crescimento econômico, envolvidas aí a questão
da energia elétrica, transportes,
logística, crédito, ciência e tecnologia e políticas industriais", responde o ministro.
Fácil de falar, difícil de fazer. A
equipe econômica aposta mais,
pelo menos no curto prazo, na
aprovação da reforma da previdência. "Significará a redução de
gastos públicos, em vez de aumento de receita, com incidência
direta e imediata no "rating" do
país", diz Otaviano Canuto, assessor internacional de Palocci.
"Rating" é a avaliação do risco
de investir no país. Pelos cálculos
de Canuto, uma avaliação melhor
facilitará enormemente os investimentos no país, rompendo uma
das barreiras para o crescimento,
que é a escassez de capitais.
Uma segunda barreira, esta referente ao capital interno, será
vencida com a aprovação da Lei
de Falências, avalia Canuto. Com
ela, os credores terão maiores garantias de retomar seu dinheiro,
em caso de inadimplência do tomador, o que inevitavelmente reduzirá o custo dos empréstimos.
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