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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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CONJUNTURA

Ministro diz que corte da Selic é sinal de que estão sendo criadas as condições para o Brasil retomar o crescimento

Palocci promete esforço para juro cair mais

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, não escondeu a felicidade com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de reduzir de 26,5% para 26% ao ano a taxa básica de juros da economia e disse que o governo fará "todos os esforços" para que "essa trajetória de queda possa continuar".
Na véspera, Palocci havia emitido o mais nítido recado de que esperava a redução dos juros, por mais que insistisse na tese oficial de que o Copom toma decisões técnicas, sem influência política.
Ontem, um Palocci ainda mais sorridente do que o habitual, quase esqueceu da fratura no pé, ainda em consolidação, na pressa de entrar no salão em que se reuniam os presidentes do Mercosul para dar a Luiz Inácio Lula da Silva a notícia da queda dos juros.
O ministro havia sido informado antes de que a notícia chegasse aos jornalistas que cobrem a cúpula do bloco, mas preferiu falar primeiro com Lula para depois festejar.
"É uma decisão fundamental para o Brasil porque é um sinal efetivo de que a inflação caminha para as metas estabelecidas. Significa que estamos vencendo efetivamente a luta contra a inflação, criando as condições para o Brasil crescer", começou, quase em tom de comício.
Depois, engatou o discurso que vem sendo constante de parte da equipe econômica: o controle da inflação depende não apenas do governo, mas de todos os agentes econômicos, que precisam "olhar para a frente, para a inflação futura e não a inflação passada".
"Dessa maneira, vamos conseguir a redução permanente e consistente dos juros e obter as taxas de crescimento que todo o país deseja."
O bordão "olhar para a inflação futura" voltou mais quatro vezes à entrevista do ministro, entre outras coisas para dizer que "o Copom não toma decisões voluntárias, mas em função do que ocorre na economia real, no comportamento dos preços".
Fechou o raciocínio com a avaliação de que, "se conseguirmos o que tem sido conseguido neste período, ou seja, que cada vez mais os agentes econômicos olhem para a frente, é seguro que essa trajetória de queda pode continuar".

Diálogo com bancos
O ministro disse que o governo vai dialogar com o setor financeiro, como tem feito com outros segmentos, "levando a mesma mensagem: na medida em que é possível reduzir a taxa de juros básica, começa a ser possível também reduzir os juros cobrados [pelos bancos] das pessoas e das empresas".
É uma alusão aos frequentes comentários do presidente Lula de que, talvez mais importante do que a taxa básica, seja reduzir os juros cobrados em empréstimos pessoais, no cartão de crédito ou para as empresas.
Palocci prometeu um "esforço de coordenação de todos os segmentos, incluindo o sistema financeiro, para que os juros sejam reduzidos de forma coordenada".
Como é lógico, Palocci negou que a redução dos juros tivesse qualquer intenção de silenciar o que uma repórter chamou de "reclamões" (os que criticam os juros altos).
"Não acredito que nem a equipe econômica nem o Copom pretendam calar a boca de ninguém. Nós vemos sempre como muito salutar o debate econômico."
Retomou depois seu tema favorito, o da responsabilidade coletiva: "Os agentes econômicos não podem só cobrar decisões do Copom, mas agir nas suas áreas para fazer com que os indicadores econômicos caminhem bem".

"Pré-estréia"
Na véspera, conversando com a Folha no aeroporto de Assunção, enquanto aguardava a chegada do presidente Lula, Palocci havia dito, brincando, que uma eventual redução da taxa de juros na reunião do Copom seria "a pré-estréia" do espetáculo do crescimento prometido por seu chefe.
Realizada ontem a "pré-estréia", embora em modesta dimensão, quais os próximos passos para que o espetáculo de fato se dê?
"O início da redução das taxas de juros indica a necessidade de coordenarmos com eficiência todos os instrumentos que são necessários para o crescimento econômico, envolvidas aí a questão da energia elétrica, transportes, logística, crédito, ciência e tecnologia e políticas industriais", responde o ministro.
Fácil de falar, difícil de fazer. A equipe econômica aposta mais, pelo menos no curto prazo, na aprovação da reforma da previdência. "Significará a redução de gastos públicos, em vez de aumento de receita, com incidência direta e imediata no "rating" do país", diz Otaviano Canuto, assessor internacional de Palocci.
"Rating" é a avaliação do risco de investir no país. Pelos cálculos de Canuto, uma avaliação melhor facilitará enormemente os investimentos no país, rompendo uma das barreiras para o crescimento, que é a escassez de capitais.
Uma segunda barreira, esta referente ao capital interno, será vencida com a aprovação da Lei de Falências, avalia Canuto. Com ela, os credores terão maiores garantias de retomar seu dinheiro, em caso de inadimplência do tomador, o que inevitavelmente reduzirá o custo dos empréstimos.


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