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MEDIDAS DESESPERADAS
No centro de SP se acha "dinheiro fácil" a juros de 290% ao ano
"Coração do crédito" ignora Copom
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
No coração do mundo do crédito pessoal, localizado no calçadão das ruas São Bento e da
Quitanda, a discussão sobre a
queda de meio ponto percentual na taxa básica de juros da
economia parece sem sentido.
As duas vias concentram, em
um espaço de quatro quarteirões, 14 financeiras, que oferecem dinheiro rápido às centenas
de milhares de pessoas que passam diariamente pelo local.
Os juros anunciados fazem
corar os familiarizados com a
taxa básica da economia, a Selic,
reduzida para 26% ao ano. A taxa média no centro de SP é de
12%. Ao mês. Anualizado, o índice chega a cerca de 290%.
O problema aumenta de tamanho quando se percebe que,
na ponta do lápis, o preço do
crédito acaba sendo bem maior
do que os juros.
Isso porque a maioria das financeiras inclui nas parcelas taxas como a TAC (Tarifa de
Abertura de Crédito), IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) ou mesmo seguro desemprego e cobra juros em cima
desses valores.
Dessa forma, para uma taxa
anunciada de 11,8%, por exemplo -no caso de empréstimo
de R$ 1.000 em 12 vezes- é cobrada uma parcela de R$ 180,50.
Na realidade, nesse caso o devedor acaba pagando 14,49%
por mês em cima do valor emprestado. Ao final de um ano,
desembolsa R$ 2.176, mais do
que o dobro do emprestado.
O cliente, se não pergunta,
nem sempre é avisado dos adicionais. A falta de informação,
aliás, é tão grande quanto a operação de guerra montada pelas
financeiras para atrair clientes.
É impossível transitar pela região sem ser abordado por um
dos divulgadores de bandeiras
como Zogbi, Losango ou Citi Financial, que têm como missão
levar o cliente até a porta da loja.
No local, na conversa com os
atendentes, começam os problemas: se quem procura crédito quer saber exatamente quanto vai pagar de TAC e IOF, por
exemplo, muitos não sabem ou
não podem informar.
Algumas financeiras também
não dizem o valor da taxa de juros cobrada durante a consulta,
sob alegação de temer a acirrada
concorrência da região.
Apesar de todos os senões, a
demanda por crédito é grande e
a aprovação por parte das financeiras, difícil. Quem procura
empréstimos nessas condições
normalmente já tem dívidas
com bancos ou parentes.
"Estou devendo para o Banco
do Brasil e para a Nossa Caixa
Nosso Banco. Agora, apelei para
financeira", afirmou a guarda
civil Ruth Barros, 30, que na última terça-feira tentava obter R$
600 para pagar a escola da filha.
O pedido de crédito de Barros
não foi aceito, já que ela fez um
financiamento em uma loja e
não pagou: a aprovação em
quase todas as lojas está sujeita a
consultas ao SPC e Serasa.
Para fugir da inadimplência,
outra exigência comum é que o
cliente tenha talão de cheques e
apresente comprovantes de renda e residência.
Na mira
A legislação para quem cobra
juros extorsivos é antiga e defasada. O decreto que prevê punição para esse tipo de caso é de
1933, e proíbe cobrança de juros
superior a 1% ao mês.
Detalhe: não vale para instituição financeira. A esperança de
quem se sente lesado é se apoiar
no Código de Defesa do Consumidor e no novo Código Civil.
Este prevê a redução dos juros
se o devedor, por extrema necessidade, assumiu o pagamento de uma prestação desproporcional ao valor emprestado.
Quem obtém crédito também
pode se defender das cobranças
as vezes constrangedoras de algumas financeiras. Segundo
Marco Antônio Zanellato, coordenador das Promotorias de
Justiça do Consumidor do Estado, do Ministério Público Estadual, há casos em que estas contratam empresas de cobrança
que até ameaçam o devedor.
"São cobranças em que se
ameaça ficar com o carro ou
com a casa da pessoa e que não
são permitidas pelo Código de
Defesa do Consumidor", diz ele.
As financeiras se defendem
dizendo que os atendentes são
orientados a explicar todas as
taxas envolvidas na operação.
"Nos contratos, as taxas e adicionais são especificados", afirmou o diretor da Citi Financial,
Ricardo Fiúza.
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