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OPINIÃO ECONÔMICA
Taxa de juro e metas de inflação
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O copom (Comitê de Política
Monetária do Banco Central) deu ontem, finalmente, um
pequeno passo na direção certa. A
diminuição da taxa básica de juro foi modesta. Uma queda de
0,5% não vai modificar o quadro
econômico. Teria sido possível
anunciar uma diminuição um
pouco maior, talvez de 1%. Ou indicar um viés de baixa ou, ainda,
combinar a redução da taxa de
juro com alguma redução dos
compulsórios sobre depósitos
bancários.
Em todo o caso, já é alguma coisa. Pode-se interpretar a decisão
de ontem como o início de uma
flexibilização da política monetária a ser executada ao longo dos
próximos meses. Ainda que não
tenha, por si só, grandes efeitos
práticos, a queda da taxa básica
pode injetar algum ânimo na economia, desde que seja considerada como o começo de um movimento gradual na direção de juros mais civilizados, isto é, mais
compatíveis com o que se observa
no resto do mundo e com alguma
reativação da atividade econômica no Brasil.
Por que o gradualismo? O que
impediu o Banco Central de ser
mais agressivo e reduzir a taxa,
digamos, em dois ou três pontos
percentuais?
Parte do problema está na forma como a Fazenda e o Banco
Central se posicionaram no passado recente. O Banco Central
caiu em uma armadilha que é,
em parte, obra sua. Prevaleceu a
idéia de que, para apagar o estigma "petista" e conquistar a confiança dos mercados financeiros,
o governo Lula teria que ser, pelo
menos no início, mais realista do
que o rei. Em outras palavras, entendeu-se que seria preciso aderir
à agenda ortodoxa de forma mais
rigorosa do que vinha fazendo o
governo FHC. Isso significou gerar superávits fiscais primários
ainda maiores, propor uma reforma previdenciária mais dura e
praticar uma política monetária
rígida e intransigente.
Desde a reunião de maio do Copom, quando se decidiu manter
os juros básicos inalterados em
26,5%, cresceram as reações contra a política econômica e, em especial, contra os juros altos. Fora
dos meios bancários, poucos se
animavam a defender a política
monetária. Foi ficando evidente
que a Fazenda e o Banco Central
estavam indo longe demais. Se o
Copom não tivesse reduzido a taxa de juro ontem, haveria um escândalo de proporções nacionais.
Tudo isso tem sido debatido à
exaustão. Taxa Selic, viés de baixa, Copom foram incorporados à
linguagem popular. Menos atenção tem sido dada a um outro aspecto, não menos importante, da
política monetária: a definição
das metas de inflação. As metas
estabelecidas no início do ano
(8,5% para 2003 e 5,5% para
2004) são excessivamente ambiciosas.
Ao tomar essa decisão, o governo agravou o dilema, que existiria de qualquer maneira, entre
combate à inflação e crescimento
econômico. Repetiu-se um erro
que já vinha sendo cometido no
governo FHC.
Até o final deste mês, o Conselho Monetário Nacional definirá
a meta de inflação para 2005. É o
momento para retificar o erro.
Deve-se considerar a possibilidade de aumentar a meta de inflação para 2004 e, simultaneamente, ser modesto na definição da
meta para 2005. Além disso, conviria ampliar um pouco a margem de tolerância.
Não acredito que a reputação
do governo vá ficar prejudicada
se o Conselho Monetário Nacional estabelecer metas de inflação
de, por exemplo, 7% para 2004,
com um teto de 10% e um piso de
4%, e de 5% para 2005, com um
teto de 8% e um piso de 2%.
Um pouco mais de realismo e de
flexibilidade na implementação
do regime de metas para a inflação pode ampliar o raio de manobra do Banco Central e facilitar a
diminuição dos juros ao longo
dos próximos meses.
Paulo Nogueira Batista Jr., 48, economista, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP e professor da FGV- EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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