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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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RESSACA

Inadimplência recorde e perda cambial colocam banco no vermelho; dívida de compradores da Embraer preocupa

Prejuízo do BNDES no ano passa de R$ 1 bi

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou ontem que o seu prejuízo acumulado nos primeiros quatro meses deste ano alcançou R$ 1,059 bilhão.
As perdas cresceram R$ 689 milhões apenas em abril. Segundo o banco, a maior parte dos prejuízos foi causada por provisões feitas para cobrir a inadimplência do grupo norte-americano AES, devedor de US$ 1,2 bilhão.
No primeiro trimestre, o prejuízo acumulado já havia chegado a R$ 370 milhões, segundo o balancete divulgado ontem pelo diretor da Área Financeira do banco, Roberto Timótheo da Costa.
Segundo a direção do banco, o prejuízo teve duas causas principais: a necessidade de ser feita uma provisão de R$ 930 milhões para cobrir riscos de crédito e perdas cambiais de R$ 244 milhões. As perdas cambiais ocorreram por causa da valorização do euro e do iene em relação ao dólar norte-americano. Dos R$ 51,3 bilhões de passivo externo que o BNDES tinha no final de março, 18% eram nas duas moedas.
O superintendente da Área Financeira do banco estatal, José Roberto Fiorêncio, disse que cerca de 90% da provisão feita no primeiro trimestre devia-se à AES e a uma provisão de 3% feita para os créditos com a também norte-americana American Eagle, subsidiária da American Airlines.
O nível de risco dos créditos com a Eagle, decorrentes de empréstimos para a compra de aviões da Embraer, foi rebaixado de AA em dezembro do ano passado para C em março deste ano, por causa da crise da aviação dos EUA, embora a empresa não esteja inadimplente com o banco. O BNDES não revelou o valor da dívida da empresa de aviação.
Do total de R$ 116,7 bilhões que o BNDES tinha em créditos a receber em 31 de março, R$ 5,2 bilhões estavam inadimplentes, o que equivale a uma inadimplência de 4,8% do total da carteira de crédito, o maior nível desde que a atual metodologia de cálculo de inadimplência, que é ditada pelo BC (Banco Central), foi criada em 1999. Em 31 de dezembro do ano passado, a inadimplência era de apenas 0,6% da carteira.
Sobre os prejuízos, Fiorêncio disse que os números não surpreenderam, porque, quando divulgou o resultado do ano passado (lucro de R$ 550 milhões), a direção do BNDES já havia dito que as provisões para risco de crédito cresceriam muito neste ano, especialmente por causa da AES.
"A tendência é que o prejuízo cresça", disse Fiorêncio, ressalvando que ele poderá ser compensado, em parte, por lucros que o banco venha a ter em outras operações.

Lucro contábil
O BNDES teria amargado em 2002 um prejuízo líquido de R$ 456,6 milhões, e não um lucro de R$ 550 milhões, se não tivesse feito em setembro duas operações de compra de créditos das empresas estaduais Cesp (São Paulo) e Celesc (Santa Catarina) com seus respectivos Estados.
Segundo números divulgados pelo banco, a operação com a Cesp gerou lucro contábil de R$ 870 milhões e o negócio feito com a Celesc gerou lucro de R$ 136,6 milhões. O lucro foi obtido com o desconto que o BNDES impôs sobre o valor de face dos créditos para fazer as operações, que tiveram a garantia do Tesouro.
O diretor Timótheo da Costa disse que as operações foram "atípicas", mas não irregulares, e que o banco está programando fazer uma outra este ano, novamente com a Cesp.


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