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RESSACA
Inadimplência recorde e perda cambial colocam banco no vermelho; dívida de compradores da Embraer preocupa
Prejuízo do BNDES no ano passa de R$ 1 bi
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) anunciou ontem que o seu
prejuízo acumulado nos primeiros quatro meses deste ano alcançou R$ 1,059 bilhão.
As perdas cresceram R$ 689 milhões apenas em abril. Segundo o
banco, a maior parte dos prejuízos foi causada por provisões feitas para cobrir a inadimplência do
grupo norte-americano AES, devedor de US$ 1,2 bilhão.
No primeiro trimestre, o prejuízo acumulado já havia chegado a
R$ 370 milhões, segundo o balancete divulgado ontem pelo diretor
da Área Financeira do banco, Roberto Timótheo da Costa.
Segundo a direção do banco, o
prejuízo teve duas causas principais: a necessidade de ser feita
uma provisão de R$ 930 milhões
para cobrir riscos de crédito e perdas cambiais de R$ 244 milhões.
As perdas cambiais ocorreram
por causa da valorização do euro
e do iene em relação ao dólar norte-americano. Dos R$ 51,3 bilhões
de passivo externo que o BNDES
tinha no final de março, 18% eram
nas duas moedas.
O superintendente da Área Financeira do banco estatal, José
Roberto Fiorêncio, disse que cerca de 90% da provisão feita no primeiro trimestre devia-se à AES e a
uma provisão de 3% feita para os
créditos com a também norte-americana American Eagle, subsidiária da American Airlines.
O nível de risco dos créditos
com a Eagle, decorrentes de empréstimos para a compra de
aviões da Embraer, foi rebaixado
de AA em dezembro do ano passado para C em março deste ano,
por causa da crise da aviação dos
EUA, embora a empresa não esteja inadimplente com o banco. O
BNDES não revelou o valor da dívida da empresa de aviação.
Do total de R$ 116,7 bilhões que
o BNDES tinha em créditos a receber em 31 de março, R$ 5,2 bilhões estavam inadimplentes, o
que equivale a uma inadimplência de 4,8% do total da carteira de
crédito, o maior nível desde que a
atual metodologia de cálculo de
inadimplência, que é ditada pelo
BC (Banco Central), foi criada em
1999. Em 31 de dezembro do ano
passado, a inadimplência era de
apenas 0,6% da carteira.
Sobre os prejuízos, Fiorêncio
disse que os números não surpreenderam, porque, quando divulgou o resultado do ano passado (lucro de R$ 550 milhões), a direção do BNDES já havia dito que
as provisões para risco de crédito
cresceriam muito neste ano, especialmente por causa da AES.
"A tendência é que o prejuízo
cresça", disse Fiorêncio, ressalvando que ele poderá ser compensado, em parte, por lucros que
o banco venha a ter em outras
operações.
Lucro contábil
O BNDES teria amargado em
2002 um prejuízo líquido de R$
456,6 milhões, e não um lucro de
R$ 550 milhões, se não tivesse feito em setembro duas operações
de compra de créditos das empresas estaduais Cesp (São Paulo) e
Celesc (Santa Catarina) com seus
respectivos Estados.
Segundo números divulgados
pelo banco, a operação com a
Cesp gerou lucro contábil de R$
870 milhões e o negócio feito com
a Celesc gerou lucro de R$ 136,6
milhões. O lucro foi obtido com o
desconto que o BNDES impôs sobre o valor de face dos créditos
para fazer as operações, que tiveram a garantia do Tesouro.
O diretor Timótheo da Costa
disse que as operações foram "atípicas", mas não irregulares, e que
o banco está programando fazer
uma outra este ano, novamente
com a Cesp.
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