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OPINIÃO ECONÔMICA
A corrupção e a economia
JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
As denúncias que envolvem
os Correios, o IRB (Instituto
de Resseguros do Brasil) e o "mensalão" causaram inicialmente um
aumento da volatilidade nos mercados de ações, títulos do governo
e câmbio. Investidores estavam
preocupados com a paralisação da
agenda econômica do governo ou
mesmo com a implementação de
um plano B, de caráter populista,
desenhado para melhorar a imagem do governo no eleitorado.
Pode parecer então que o melhor
seria se esses fatos não tivessem sido expostos, conturbando a tranqüilidade relativa dos mercados.
Um corolário desse raciocínio é
que é desejável que a apuração
não seja muito profunda, para
evitar que apareçam novos fatos
perturbadores. A manobra do governo garantindo a presidência e
a relatoria da CPI dos Correios seria então bem-vinda.
Na verdade, as revelações de
uma investigação rigorosa poderiam servir de impulso para uma
mudança na cultura política do
país, tornando a corrupção menos
aceitável. E tal transformação teria também um efeito positivo no
nosso desempenho econômico.
Embora seja difícil comparar o
grau de corrupção entre os países,
há evidências de que a corrupção
afeta negativamente o desempenho econômico. Um estudo dos
anos 90 documentou que países
com um maior nível de corrupção
tem menor taxa de investimento
em relação ao PIB e crescem menos. Essa correlação é natural. A
presença de funcionários corruptos aumenta o custo de um investimento, quando uma propina é necessária e diminui a sua atratividade, porque o empresário sabe
que no futuro ele pode ser "taxado" de parte dos seus lucros. Além
disso, quando um governo é corrupto, é ainda mais vantajoso dedicar energias a obter favores do
Estado, em prejuízo de atividades
que realmente criam riqueza.
Uma investigação exemplar e a
punição dos envolvidos nos escândalos recentes são cruciais para a
saúde política e econômica do país
no longo prazo, mas não serão suficientes. Como disse o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, a corrupção no Brasil "não é uma coisa
nova". É preciso atacar também as
fontes que geram oportunidades
para episódios como esses. Precisamos de uma reforma política que
aumente a fidelidade partidária,
diminuindo a possibilidade de um
deputado leiloar a sua entrada
para um outro partido pouco depois de ter sido eleito, e que restrinja as legendas de aluguel. É necessário também diminuir a proporção de cargos públicos sujeitos à
nomeação política. Mas muitas
das oportunidades de corrupção,
no Brasil como em outros países,
estão ligadas a intervenções do Estado na economia.
O político que controla preços,
subsídios, empréstimos a taxas de
juros favorecidas, licenças de importação ou que comanda uma
empresa estatal tem inúmeras
oportunidades de ganhar dinheiro
para si mesmo, para a sua futura
campanha eleitoral ou para o seu
partido. Há muitos exemplos de
políticos e funcionários honestos
que não se aproveitam dessas ocasiões. Mas a possibilidade de corrupção é mais uma razão para
que as intervenções do Estado na
economia só ocorram para corrigir falhas relevantes do mercado
ou quando tenham uma verdadeira função social.
O monopólio estatal de resseguros exercido pelo IRB é um dos
muitos exemplos no nosso país em
que nenhuma dessas condições é
preenchida. Por isso, o projeto do
governo de acabar com o monopólio estatal no setor de resseguros e
de vender a carteira de operações
do IRB é uma boa nova, mas precisa ser seguido por muitas outras
iniciativas no mesmo sentido, se
quisermos diminuir a prevalência
da corrupção.
José Alexandre Scheinkman, 57, professor de economia na Universidade
Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos nesta coluna.
E-mail -
jascheinkman@hotmail.com
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