|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Corrupção e proteção
da democracia
ALOIZIO MERCADANTE
A corrupção cria obstáculos
para o desenvolvimento econômico e produz custos financeiros inaceitáveis. Estudo do FMI,
elaborado em âmbito mundial,
prova que o PIB cai cerca de 0,5%,
e os investimentos, 4%, quando há
um aumento de dois pontos numa
escala de corrupção de dez. Porém
os custos maiores da corrupção
são os custos democráticos. De fato, a corrupção causa sérios danos
à credibilidade dos sistemas democráticos, resultando no desgaste das instituições e em ameaça à
governabilidade, o que confirma a
necessidade de todos combaterem
essa praga.
Em consonância com tal necessidade, descuidada em administrações passadas, e com o sólido patrimônio ético do PT, o governo
Lula realizou 45 operações contra
a corrupção, que resultaram na
prisão de 1.234 pessoas, inclusive
290 funcionários públicos, muito
mais do que o feito em governos
anteriores. Saliente-se que alguns
esquemas de corrupção desbaratados neste governo, como o dos
"vampiros da saúde", estavam em
operação há décadas. Além disso,
as 7.500 auditorias feitas em 741
prefeituras pela CGU, outrora motivo de chacota, resultaram na recuperação de R$ 850 milhões aos
cofres públicos, fato inédito na história do país.
Mas ações repressivas não bastam. É necessário um conjunto de
medidas propositivas que visem à
maior transparência das ações estatais, à criação de mecanismos de
fiscalização e à mudança do sistema político. Fazem parte dessa
agenda positiva pelo trato correto
da coisa pública, entre outras medidas, a MP da Previc, rejeitada
pela oposição, que tinha por finalidade fiscalizar o uso dos mais de
R$ 290 bilhões dos fundos de pensão, o projeto de minha autoria
que impõe a divulgação de informações completas sobre licitações
públicas na internet e, fundamentalmente, a reforma política. Tal
reforma, que inclui financiamento
público de campanhas, fidelidade
partidária, voto em listas partidárias etc., deverá resultar em um
sistema político mais transparente, legítimo e menos permeável às
pressões do poder econômico, o
que inibirá vícios patrimonialistas
ainda comuns.
As denúncias sobre os Correios e
o suposto "mensalão" não vão
desviar o governo Lula dessa firme
trajetória rumo à administração
pública transparente e a uma nova relação entre o público e o privado no Brasil. As CPIs já estão
sendo instaladas e tudo será investigado. Nada será engavetado, como ocorreu no passado. No entanto não será permitido, para o próprio bem das investigações, que
elas se convertam em palanques
eleitorais que conduzam ao desgaste das instituições democráticas ou em peças de dramaturgia
chula que visem salvar a pele de
acusados em desespero. Lula no
poder representa o coroamento da
democracia brasileira e a esperança de dezenas de milhões de brasileiros, principalmente dos excluídos. É experiência política nova e
bem-sucedida que gera compreensíveis ressentimentos. Por isso, a
mesma firmeza que o governo Lula demonstra na luta pela transparência será usada para impedir
a criação de crises políticas artificiais, as quais têm custos maiores
ao processo democrático do que os
da corrupção. A democracia brasileira precisa ser protegida tanto de
atos de corrupção quanto do uso
do combate a esse mal como justificativa para práticas demagógicas, que acabam impedindo investigações conseqüentes, como querem a opinião pública e o governo.
Aloizio Mercadante, 51, é economista e
professor licenciado da PUC e da Unicamp, senador por São Paulo e líder do
governo no Senado Federal.
Internet: www.mercadante.com.br
E-mail -
mercadante@mercadante.com.br
Texto Anterior: Opinião econômica - José Alexandre Scheinkman: A corrupção e a economia Próximo Texto: Luís Nassif: O último guerreiro de Vargas Índice
|