|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPERAÇÃO CEVADA
Para publicitários, empresa deve sair da mídia e esperar tumulto passar para então retomar campanhas
Analistas vêem dano à marca Schincariol
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Schincariol deve retirar as
suas campanhas de publicidade
de veiculação na mídia, esperar a
tempestade passar e, então, voltar
ao mercado com uma forte ação
de marketing que tente resgatar a
sua imagem. A opinião é de publicitários e especialistas que prestam serviços de consultoria para
marcas em tempos de crise. Uma
coisa é certa: eles acreditam que
os danos ao nome Schincariol já
estejam feitos.
"A imagem foi afetada dramaticamente, e isso mina a "fortaleza"
da marca", diz Sérgio Amado, ex-presidente da Abap (Associação
Brasileira das Agências de Publicidade) e presidente da Ogilvy
Brasil. "Eu tiraria tudo do ar", diz.
Especialistas de atendimento a
marcas entendem que a reputação de uma empresa, em situações de grande exposição pública,
é afetada porque as informações
negativas correm de forma muito
rápida e nenhuma ação pode impedir a "contaminação". A Future
Brand, que opera nesse mercado
há mais de 20 anos, defende essa
idéia, por exemplo.
A Schincariol tem essa percepção -de que há o risco de efeitos
nocivos ao nome do grupo e de
seus produtos no mercado. Tanto
que adotou uma política considerada correta por alguns especialistas: não sumiu da mídia, mas permanece quieta.
As campanhas da Nova Schin,
com a cantora Ivete Sangalo, ainda são veiculadas na televisão,
mas o grupo descartou a idéia de
ir à mídia, por meio de um comunicado, prestar esclarecimentos
ao mercado.
Não há nova ação de marketing
sendo criada agora, esclarece a
agência dona da conta da Schin, a
Fischer America. Eduardo Fischer, o marqueteiro forte da marca, que esteve à frente de negociações com Zeca Pagodinho na
campanha "Experimenta", da
Schin, está no exterior a trabalho.
Decisões envolvendo a imagem
da empresa, que deveriam ser tomadas com o aval de Adriano
Schincariol, o superintendente da
empresa, ficam postergadas, apurou a Folha.
Nesse caso, leia-se a nova ação
de mídia para o verão, período
visto como o pico de vendas das
empresas do setor -de 60% a
70% da comercialização da cerveja acontece nessa época.
É durante os meses de junho e
julho que as agências do setor começam a discutir suas ações de
verão.
Adriano Schincariol, 30, está
preso desde a quarta-feira, com
oito diretores da empresa, na Polícia Federal em São Paulo. Uma
força-tarefa formada por 180 funcionários da Receita e 600 policiais prendeu donos, diretores e
advogados da Schin, acusada de
cinco crimes, que incluem sonegação de impostos, formação de
quadrilha e corrupção de funcionários públicos.
"Trataram esses meninos como
se fossem bandidos. É algo inaceitável", diz Roberto Podval, advogado da empresa.
Gargalos e efeitos
Na avaliação de Sérgio Amado,
os danos à imagem da marca têm
relação direta com os riscos de
gargalos nas prateleiras. Se faltar
produto, o consumidor, ressabiado, muda de marca e pode não
voltar a comprá-la.
Isso aconteceu com a Parmalat.
Quando a fabricante de leite e
produtos alimentícios ensaiou
uma quebradeira, produtos faltaram nos supermercados, o consumidor ficou ressabiado quanto à
qualidade da mercadoria, e as
vendas caíram. No primeiro trimestre após os escândalos na mídia, em janeiro de 2004, a empresa
faturava 38% do registrado um
ano antes porque teve problemas
de produção.
O caso da Parmalat não tem relação com o da Schin. A cervejaria
informa que continua operando
normalmente.
"A questão aí é que outras marcas podem ganhar espaço e ficar
mais "simpáticas" ao consumidor.
A Kaiser é uma delas", diz ele.
Na cola da Schin, o grupo Molson (dono da Kaiser) é o terceiro
no ranking geral das cervejarias,
com 8,7% das vendas apuradas
em maio, segundo levantamento
feito pela ACNielsen, que coleta
os dados e repassa-os para as
companhias.
Com R$ 280 milhões na manga
para investir neste ano em mídia
-o valor é quase o mesmo aplicado em 2003 e 2004 (R$ 300 milhões)-, o grupo Schincariol tem
quase 13% do mercado de cervejas no país. É a segunda maior
empresa do mercado.
Dados sobre o ranking dos
maiores anunciantes do país, publicado neste mês pela revista
"Meio&Mensagem", mostra que
a empresa passou da 20ª colocação no ano de 2003 para a 15ª colocação em 2004.
Texto Anterior: Trechos Próximo Texto: Tributação: Isenção do IR no lucro imobiliário corrige erro Índice
|