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CINCO ANOS DE REAL
Dieese registra queda progressiva do rendimento médio real de 1998 até o primeiro trimestre deste ano
Trabalhadores começam a perder renda
da Reportagem Local
A renda média real do trabalhador, que cresceu após o primeiro
ano do Plano Real, começou a
minguar em 1998 e está caindo
mais intensamente neste ano.
Durante a vigência do plano de
estabilização, que completa cinco
anos em 1º de julho próximo, o desemprego triplicou. Quem ficou
empregado teve de trabalhar mais
e se empenhar na defesa de seus direitos. Em contrapartida, a inflação foi contida e a cesta básica se
tornou mais acessível.
Essas foram algumas das conclusões tiradas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos) no
estudo "Cinco Anos do Real", divulgado ontem.
O estudo concentra sua análise
em indicadores de inflação, emprego, renda, negociações coletivas e desempenho econômico do
país. O universo do levantamento
são trabalhadores das seis regiões
metropolitanas (São Paulo, Porto
Alegre, Distrito Federal, Belo Horizonte, Salvador e Recife) em que o
Dieese realiza suas pesquisas.
O rendimento médio real dos
ocupados na Grande São Paulo
passa de R$ 806 em 94 para R$ 908
em 95, praticamente se estabiliza
nesse patamar e recua para R$ 877
em 98. Neste ano, a queda prosseguiu, chegando a R$ 831 em março
(-5,2% sobre a média de 98).
Movimento semelhante acontece em Porto Alegre. Já no Distrito
Federal, em consequência do ajuste do setor público, a renda média
cai 7,2% em 98 comparado com 94.
Já o salário mínimo registra um
crescimento real de 19%, na comparação de maio passado com
maio de 1994. Embora o percentual seja expressivo, Wilson Amorim, técnico do Dieese, pondera
que é insuficiente para um país
com um mínimo tão baixo.
A compensação para uma renda
mais baixa vem dos preços. A cesta
básica, composta por produtos de
alimentação, higiene e limpeza, subiu 18,4% de julho de 94 a maio
passado, muito abaixo dos 76,7%
de inflação do ICV (Índice do Custo de Vida), medido pelo Dieese no
município de São Paulo.
A taxa média mensal de inflação
caiu de 21,26% em 1994 para 0,04%
em 98, mas voltou a subir. Com a
desvalorização do real, em janeiro,
a taxa média do ICV subiu para
0,21% até maio passado.
Emprego
O desemprego cresceu em todas
as regiões pesquisadas pelo Dieese.
Na Grande São Paulo, a taxa média
saiu de 14,2% da população economicamente ativa em 94 para 18,3%
em 98, e já atingiu 20,3% em abril
último. Só foi registrada queda do
desemprego em 1995 (13,2%),
quando a economia cresceu 4,2%.
Nos últimos anos, o desempregado tem levado cada vez mais tempo para encontrar novo posto de
trabalho. Na Grande São Paulo, esse tempo passou de 22 semanas em
95 para 36 semanas em 98, e já atingiu 39 semanas em abril passado.
O maior tempo de procura por
emprego, de 52 semanas, foi registrado no Distrito Federal. Na comparação com as demais regiões,
São Paulo tem o resultado "menos
pior", segundo avalia Sérgio Mendonça, também técnico do Dieese.
As greves diminuíram -caíram
de 1.034 em 94 para 560 em 98-
devido à recessão e ao desemprego
crescente. O motivo das paralisações também mudou, passando de
reivindicação salarial para protestos contra o não-cumprimento dos
direitos trabalhistas.
Daqui para a frente, os indicadores só devem melhorar se a economia do país voltar a crescer.
"E mesmo que venha a crescer
4% ao ano, serão necessários vários anos para recuperar os empregos perdidos, dada a mudança de
modelo econômico com a abertura
e a desorganização da cadeia produtiva", afirma Antônio Prado,
técnico do Dieese.
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