São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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CINCO ANOS DE REAL
Dieese registra queda progressiva do rendimento médio real de 1998 até o primeiro trimestre deste ano
Trabalhadores começam a perder renda

da Reportagem Local

A renda média real do trabalhador, que cresceu após o primeiro ano do Plano Real, começou a minguar em 1998 e está caindo mais intensamente neste ano.
Durante a vigência do plano de estabilização, que completa cinco anos em 1º de julho próximo, o desemprego triplicou. Quem ficou empregado teve de trabalhar mais e se empenhar na defesa de seus direitos. Em contrapartida, a inflação foi contida e a cesta básica se tornou mais acessível.
Essas foram algumas das conclusões tiradas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no estudo "Cinco Anos do Real", divulgado ontem.
O estudo concentra sua análise em indicadores de inflação, emprego, renda, negociações coletivas e desempenho econômico do país. O universo do levantamento são trabalhadores das seis regiões metropolitanas (São Paulo, Porto Alegre, Distrito Federal, Belo Horizonte, Salvador e Recife) em que o Dieese realiza suas pesquisas.
O rendimento médio real dos ocupados na Grande São Paulo passa de R$ 806 em 94 para R$ 908 em 95, praticamente se estabiliza nesse patamar e recua para R$ 877 em 98. Neste ano, a queda prosseguiu, chegando a R$ 831 em março (-5,2% sobre a média de 98).
Movimento semelhante acontece em Porto Alegre. Já no Distrito Federal, em consequência do ajuste do setor público, a renda média cai 7,2% em 98 comparado com 94.
Já o salário mínimo registra um crescimento real de 19%, na comparação de maio passado com maio de 1994. Embora o percentual seja expressivo, Wilson Amorim, técnico do Dieese, pondera que é insuficiente para um país com um mínimo tão baixo.
A compensação para uma renda mais baixa vem dos preços. A cesta básica, composta por produtos de alimentação, higiene e limpeza, subiu 18,4% de julho de 94 a maio passado, muito abaixo dos 76,7% de inflação do ICV (Índice do Custo de Vida), medido pelo Dieese no município de São Paulo.
A taxa média mensal de inflação caiu de 21,26% em 1994 para 0,04% em 98, mas voltou a subir. Com a desvalorização do real, em janeiro, a taxa média do ICV subiu para 0,21% até maio passado.

Emprego
O desemprego cresceu em todas as regiões pesquisadas pelo Dieese. Na Grande São Paulo, a taxa média saiu de 14,2% da população economicamente ativa em 94 para 18,3% em 98, e já atingiu 20,3% em abril último. Só foi registrada queda do desemprego em 1995 (13,2%), quando a economia cresceu 4,2%.
Nos últimos anos, o desempregado tem levado cada vez mais tempo para encontrar novo posto de trabalho. Na Grande São Paulo, esse tempo passou de 22 semanas em 95 para 36 semanas em 98, e já atingiu 39 semanas em abril passado.
O maior tempo de procura por emprego, de 52 semanas, foi registrado no Distrito Federal. Na comparação com as demais regiões, São Paulo tem o resultado "menos pior", segundo avalia Sérgio Mendonça, também técnico do Dieese.
As greves diminuíram -caíram de 1.034 em 94 para 560 em 98- devido à recessão e ao desemprego crescente. O motivo das paralisações também mudou, passando de reivindicação salarial para protestos contra o não-cumprimento dos direitos trabalhistas.
Daqui para a frente, os indicadores só devem melhorar se a economia do país voltar a crescer.
"E mesmo que venha a crescer 4% ao ano, serão necessários vários anos para recuperar os empregos perdidos, dada a mudança de modelo econômico com a abertura e a desorganização da cadeia produtiva", afirma Antônio Prado, técnico do Dieese.



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