|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A próxima ficha
Já começou a cair a ficha
da opinião pública acerca
dos erros de calibragem das políticas monetária e fiscal a partir de março. Vai levar um
pouco mais de tempo para cair
a ficha do desastre maior armado pelo Banco Central no
primeiro semestre: a valorização do real.
Uma das características do
processo de desenvolvimento é
a pressão que exerce sobre a
balança comercial. Aumentam-se as importações, de bens
de consumo e de capital; e reduzem-se as exportações, porque as empresas preferem vender para o mercado interno.
Sem dólares, o país pára.
Essa maldição acompanhou
o Brasil no segundo governo
Vargas, nos governos JK, Jânio
e Jango, no governo Castello,
nos anos 70, após as duas crises
do petróleo e nos anos 80 e 90.
Fernando Henrique Cardoso
assumiu o governo com superávits comerciais crescentes.
Matou-os com o real valorizado e teve que amargar oito
anos de crescimento pífio.
No ano passado, a desvalorização cambial trouxe de volta
os superávits comerciais, praticamente eliminou o risco da
vulnerabilidade externa e deixou o país preparado pelo menos nessa frente crucial-para
a retomada o desenvolvimento. Mas o BC deixou o real
apreciar de novo. E diz que não
é seu papel definir o nível ideal
de câmbio.
O que está por trás desse autismo? A visão incrivelmente
alienada de que, se sobrevier
novo problema cambial, o real
se desvalorizará de novo, o superávit comercial retornará, e
tudo estará salvo novamente.
Descreve-se a próxima crise
cambial com palavras tão simples que parece um domingo
na montanha-russa do Playcenter.
A conquista do mercado externo -especialmente em produtos não-commoditizados-
é trabalho que exige planejamento, persistência, criação de
relações comerciais confiáveis.
A cada valorização excessiva
do real esse trabalho vai por
água abaixo. Alguns exportadores conseguem prender a respiração por algum tempo, na
esperança de que o câmbio melhore. Quando fica claro que o
câmbio não vai melhorar, ele
pula fora do barco.
Na próxima e inevitável desvalorização cambial, todo trabalho realizado anteriormente
terá morrido. Terá havido a
quebra da confiança pelo importador, pela não-continuidade das exportações, a desmontagem das estruturas de
comércio exterior de muitas
empresas, a retomada do mercado pelo concorrente estrangeiro.
Há que começar seriamente
a repensar esse modelo de BC
que se criou. No futuro, a composição da diretoria, assim como do CMN (Conselho Monetário Nacional), terá que contemplar pessoas com visões diferentes da economia e com conhecimento sobre o mundo
real. São ferramentas para entender a realidade. E esse pessoal não consegue entender sequer como se dão os processos
de criação de um mercado exportador, não dispõe de informações sobre os processos de
formação de preços das empresas.
O homem da planilha -tipo
Ilan Goldfajn ou seu sucessor- terá que retomar seu lugar correto, o de assessor, o sujeito para dimensionar na planilha as decisões de quem saiba formular de verdade, dispondo de visão ampla de país.
E-mail -
luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Mineração: Europa aprova a compra da Caemi pela Vale Próximo Texto: Crise no ar: Fusão Varig-TAM trará demissões, diz Viegas Índice
|